Datafolha ofusca “Super Mario” e Fed e Ibovespa cai pelo 2º dia seguido

Corte de juros na Europa e sinalização de taxas baixas nos EUA por mais tempo foram derrubados pela expectativa de manutenção no cenário da pesquisa eleitoral; dólar cai 1%

Marcos Mortari

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Depois de uma manhã que indicava retomada de ganhos, o Ibovespa virou com força para queda na metade da tarde, terminando a quinta-feira (5) com perdas de 0,53%, 51.558 pontos – a segunda queda seguida. O otimismo gerado pelo corte de juros na Europa e pela expectativa de taxas baixas nos EUA por um período maior que o esperado foi ofuscado por novas especulações eleitorais que tomaram conta da Bovespa, com os investidores à espera dos dados da nova pesquisa Datafolha – que deve sair entre hoje a noite e amanhã. O giro financeiro desta sessão foi de R$ 5,18 bilhões.

Ao contrário do começo do rali eleitoral visto na Bovespa entre março e abril, desta vez as expectativas do mercado inflaram o pessimismo dos eleitores. De acordo com a coluna de Lauro Jardim, da Veja Online, aguardam-se poucas mudanças no quadro da corrida eleitoral a ser mostrado pelo Datafolha. Segundo o blog, os resultados devem ser semelhantes aos do Vox Populi encomendado pela campanha da presidente Dilma, que seria: 40% para a petista, 21% para Aécio Neves (PSDB) e 9% para Eduardo Campos (PSB).

A confirmação de tal resultado pode trazer alívio à equipe de Dilma na medida em que confirma maior estabilidade da candidata à reeleição após um período de significativas perdas de espaço. A conquista pode desagradar o grosso dos investidores da Bovespa, que já manifestaram seu desagrado com as medidas econômicas da atual presidente com expressivos ralis do Ibovespa a cada sinal de queda dela nas pesquisas.

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A maioria liberal do mercado repudia aquilo que classifica como medidas excessivamente intervencionistas nos mais diversos setores da economia, sobretudo nas empresas estatais, como a Petrobras (PETR3, R$ 15,48, -1,71%PETR4, R$ 16,32, -1,69%), destaque de queda nos últimos dois pregões, refletindo os efeitos da política de controle nos preços dos combustíveis, adotadas pelo governo para controle da inflação. Na véspera, a notícia de que o ministro da Fazenda Guido Mantega teria barrado um novo reajuste para gasolina e diesel desanimou os investidores.

“Super Mario” e Fed não salvam a Bovespa
O dia de perdas ofuscou a notícia de que o BCE (Banco Central Europeu) cortou as taxas de juros de empréstimos a bancos de 0,25% para 0,15% e passou a taxas de depósito de zero para -0,1%, de modo a conter as pressões deflacionárias na zona do euro. Isso significa que os bancos vão passar a ter de pagar juros para terem o seu dinheiro parado no banco central. Desta forma, a entidade liderada por Mario Draghi tenta incentivar os bancos a emprestarem mais dinheiro às empresas e às famílias. 

Nos EUA, também chamou a atenção o discurso do presidente do Federal Reserve de Minneápolis, Narayana Kocherlakota, que afirmou que a autoridade monetária dos EUA deveria manter os custos de empréstimos baixos por mais cinco anos para garantir que a economia retornará a um patamar saudável, mesmo que isso gere sinais preocupantes de instabilidade financeira.

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Para o Brasil, o anúncio pode indicar uma maior transferência de recursos, tendo em vista o elevado patamar da Selic, atualmente em 11% ao ano.

Destaques do pregão
Além da Petrobras, outras ações diminuíram as altas nesta sessão, como foi o caso da Vale (VALE3, R$ 28,78, -0,48%; VALE5, R$ 25,72, -0,31%), Bradespar (BRAP4, R$ 18,85, -0,89%), holding que detém participação na mineradora, e Usiminas (USIM5, R$ 7,89, 0,00%) Nesta data, o BTG Pactual reiniciou a cobertura dos papéis, com recomendação de compra. O banco comenta que o valuation da Vale está num patamar razoável, dividend yield (dividendos em relação ao preço atual do papel) atrativo e expectativa de crescimento de 8% na produção em 2015 na comparação anual.

Já os papéis da TIM (TIMP3, R$ 12,99, +2,44%) figuraram entre as três maiores altas do Ibovespa, refletindo a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Ontem, o órgão de defesa da concorrência negou recurso da Telefónica, que buscava garantir o aumento da fatia acionária da Telco, holding que controla inderetamente a subsidiária da operadora italiana no Brasil. Outra companhia de telcomunicações que chamou a atenção nesta sessão foi a Oi (OIBR4, R$ 2,10, +3,96%), que registrou a maior alta dentro do índice.

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As ações do Pão de Açúcar (PCAR4, R$ 103,77, +2,64%) ocuparam o segundo lugar das maiores altas do dia, depois de a companhia anunciar juntamente com o Casino e Via Varejo (VVAR11) a aprovação da criação de uma nova companhia de e-commerce chamada Cnova. De acordo com comunicado, 53,5% da empresa será do Pão de Açúcar e Via Varejo, enquanto os outros 46,5% serão do Grupo Casino. O grupo francês já entrou com pedido para a realização de um IPO (Oferta Pública Inicial) de ações no mercado norte-americano.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 SBSP3 SABESP ON 21,52 -3,45 -15,57 18,44M
 SUZB5 SUZANO PAPEL PNA 8,34 -3,02 -8,28 39,67M
 JBSS3 JBS ON 7,39 -2,76 -14,89 46,85M
 BRML3 BR MALLS PAR ON 17,63 -1,95 +5,12 56,86M
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 9,50 -1,86 -10,13 13,34M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

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 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 OIBR4 OI PN 2,10 +3,96 -41,50 110,27M
 PCAR4 P.ACUCAR-CBD PN 103,77 +2,64 -0,41 217,79M
 TIMP3 TIM PART S/A ON 12,99 +2,44 +8,35 86,04M
 MRVE3 MRV ON 7,45 +2,19 -7,67 30,30M
 BBSE3 BBSEGURIDADE ON 30,18 +1,62 +26,23 160,51M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN ED 34,57 -0,75 512,33M 303,95M 31.781 
 PETR4 PETROBRAS PN 16,32 -1,69 383,64M 514,88M 27.354 
 PCAR4 P.ACUCAR-CBD PN 103,77 +2,64 217,79M 102,55M 5.083 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 30,99 -0,77 216,64M 261,78M 11.968 
 VALE5 VALE PNA 25,72 -0,31 210,89M 385,46M 15.203 
 BBSE3 BBSEGURIDADE ON 30,18 +1,62 160,51M 121,49M 15.354 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,08 -0,80 125,15M 158,86M 14.066 
 KROT3 KROTON ON 58,75 +0,67 124,53M 133,49M 10.210 
 BBAS3 BRASIL ON 23,17 +0,35 121,81M 153,23M 9.426 
 OIBR4 OI PN 2,10 +3,96 110,27M 120,35M 14.523 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 

BC admite fraqueza, diz ata
Na agenda doméstica, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) sinalizou que os efeitos do processo de elevação dos juros sobre a inflação ainda irão se materializar, justificando o encerramento do ciclo de altas na taxa de juros promovido na última reunião.

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A ata projetou ainda um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) menor para 2014 e indicou que a economia dá sinais de “fraqueza”.

EUA renovam recordes; dólar despenca após altas
Na contramão do pessimismo no Brasil, o dia foi de ganhos e renovação de máxima histórica nas bolsas americanas. Por lá, os índices Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 apresentaram ganhos superiores a 0,5%. Por lá, tivemos o Initial Claims, que registrou 321 mil pedidos de auxílio-desemprego na semana passada, ante expectativas de 320 mil para o período. O mercado segue no aguardo do relatório do emprego, a ser divulgado na próxima sexta-feira (6).

Já o dólar teve um dia de forte desvalorização ante o real, após uma sequência de significativas altas que sinalizavam para a possibilidade de uma nova tendência. Nesta sessão, a moeda americana fechou em queda de 1%, cotada a R$ 2,2608 na venda, evidenciando um momento de turbulência para o mercado cambial nacional.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.