Imobiliárias e varejistas “driblam” queda da Bolsa com novo cenário de juros

PDG subiu 7,8%, enquanto Gafisa e Cyrela marcaram ganhos de mais de 3%; destaque ainda para alta de 5,75% da Autometal e de 38% da BR Insurance

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após ameaçar uma nova alta, a Bolsa não se sustentou e acabou virando para o negativo. Porém, diversas ações conseguiram se manter no positivo e fechar com ganhos bastante expressivos: foram 6 dos 72 papéis do índice encerrando esta terça-feira (8) com valorização de mais de 2%. Apesar do dia negativo, ficou visível a influência do mercado de câmbio e de juros futuros afetando as empresas, o que levou o setor imobiliário a liderar os ganhos do benchmark.

Com altas de mais de 4%, a PDG Realty (PDGR3, R$ 1,64, +7,89%) e a Gafisa (GFSA3, R$ 3,80, +4,40%) lideraram os ganhos do Ibovespa, seguidas de perto pela Cyrela (CYRE3, R$ 13,59, +3,35%). Mais atrás, aparecem MRV Engenharia (MRVE3, R$ 7,82, +0,64%) e Rossi (RSID3, R$ 1,80, +1,12%), todas favorecidas pela expectativa de que os juros no País não subirão mais, fato que começa a ser indicado e precificado pelos contratos de juros futuros.

Nesta sessão, os contratos mais curtos, com vencimento em maio deste ano e janeiro de 2015, se mantiveram estáveis em 10,81% e 11,06%, mas ainda próximos dos atuais 11% da Selic. Enquanto isso, os contratos mais longos, como janeiro de 2016 e janeiro de 2017 registraram queda de 0,04 e 0,12 p.p., atingindo 11,89% e 12,19%.

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Como explica o analista da Geral Investimentos, Carlos Muller, o mercado parece estar tentando antecipar o que será apresentado no IPCA nesta quarta-feira – podendo ajudar nas projeções de juros, já que a inflação é o principal fator para as recentes elevações da Selic. Vale mencionar ainda que na quinta-feira sairá a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que pode trazer sinalizações dos próximos passos do Banco Central em relação aos juros.

Com a perspectiva de que as taxas não sejam mais elevadas, o setor imobiliário seria um dos mais favorecidos, já que o crédito ao consumidor deixa de aumentar, o que evita um impacto pior na receita dessas empresas.

Consumo e Varejo
Diante desse cenário de manutenção dos juros, outro setor que é favorecido é o de varejo, que pode não é prejudicado pela contenção de gastos do consumidor que ocorre com as taxas mais elevadas. Dentro do Ibovespa, as ações da Hypermarcas (HYPE3, R$ 16,65, +1,40%) e Hering (HGTX3) – que subiu 0,16%, a R$ 25,01, após fortes quedas nas últimas semanas – ficaram em evidência.

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Fora do índice, destaque para a Le Lis Blanc (LLIS3, R$ 6,94, +6,44%), Guararapes (GUAR3, R$ 97,00, +1,04%), Alpargatas (ALPA3, R$ 12,00, +2,04%), M Dias Branco (MDIA3, R$ 90,00, +1,41%), Via Varejo (VVAR3, R$ 7,20, +1,41%) e Grendene (GRND3, R$ 15,35, +0,33%).

No caso da Natura (NATU3), que avançou 3,29%, a R$ 41,11, ajudou também a notícia de que o governo decidiu suspender os planos para aumentar o PIS e Cofins sobre a indústria de cosméticos, um aumento que prejudicaria diretamente a Natura. A informação foi dada pelo Ministério da Fazenda à ABIHPEC (Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) e está sendo disseminada pelo mercado. Ontem, as ações da companhia já tinham subido 4,54%.

Oi
Também entre os maiores ganhos, destaque para a Oi (OIBR4), que subiu 5,39%, cotada a R$ 3,13. Nas últimas semanas, os papéis da empresa tiveram forte desvalorização diante das notícias da oferta pública da companhia – passo importante para a conclusão da fusão com a Portugal Telecom. Diante de uma possível diluição da participação dos acionistas minoritários no capital da empresa, as ações da companhia caíram forte nas últimas semanas.

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Além dessas perdas recentes, a Oi pode estar sendo favorecida pelo cenário de queda do dólar – nesta sessão, a moeda norte-americana chegou a ser cotada abaixo dos R$ 2,20. A companhia possui uma grande dívida em dólar, o que justifica um otimismo com o ambiente onde a divisa está desvalorizada.

Autometal
Fora do Ibovespa, chamou atenção o desempenho da Autometal (AUTM3), que subiu 5,75%, para R$ 18,02 após anúncio de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição). A CIE Automotive e a CIE Autometal informaram que pretendem realizar uma OPA pelas ações da companhia, com o intuito de fechar o capital da fabricante de autopeças. 

O valor a ser pago poderá movimentar até R$ 607,2 milhões, levando-se em conta os termos ofertados pelos controladores. Segundo comunicado, a as ofertantes pretendem pagar R$ 19,11 por ação no leilão da OPA, o que corresponde a um prêmio de 12,15% em relação ao fechamento do papel na última segunda-feira (R$ 17,04). 

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BR Insurance
Após cair 63% em 5 dias, as ações BR Insurance (BRIN3) buscam uma recuperação parcial e subiram 37,93% nesta sessão, a R$ 8,40. A queda nos últimos dias veio em meio a um clima de desconfiança por parte dos investidores e também por parte dos analistas após os resultados decepcionantes no quarto trimestre. Além disso, o presidente da empresa, Antônio José Ramos, afirmou que não se candidatará à reeleição e deve sair do cargo no próximo dia 6 de maio.

Mesmo com a alta de hoje, elas nem de longe estão perto de recuperar as perdas acumuladas nos últimos dias. Apenas para se ter uma noção: ela precisa subir ainda mais 36% para voltar aos níveis do fechamento do 1º dia pós-resultado; para voltar aos preços de antes da divulgação do balanço, elas precisam avançar cerca de 90%.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.