Efeito Madoff: a risada que custou US$ 1,7 bilhão para o maior banco dos EUA

Madoff montou a maior pirâmide financeira da história: do tamanho de US$ 65 bilhões, mas o JPMorgan não foi capaz de ver o tamanho de tudo isso

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Com uma risada datada de outubro de 2008, o chefe da área de due dilligence do JPMorgan Chase – maior banco norte-americano – estava sentenciando seu banco a ter de fechar um acordo com o governo dos EUA em que terá que pagar US$ 1,7 bilhão. O banco esteve envolvido no caso Bernie Madoff até o fim, graças à negligência do homem que deveria investigar e pagará uma multa bilionária. 

Madoff montou a maior pirâmide financeira da história, com o Esquema Ponzi chegando a US$ 65 bilhões, mas o banco não foi capaz de ver o tamanho de tudo isso, mostra uma reportagem do Market Watch. Um banqueiro do JPMorgan foi contratado para garantir que Madoff estivesse operando legalmente, mas nunca soube, de verdade, quanto dinheiro o golpista tinha na conta, assinando os relatórios que atestavam que estava tudo certo pois não via nenhum motivo não fazê-lo. 

Várias pessoas dentro do JPMorgan desconfiaram desde meados da década de 90 que Madoff estaria fazendo algo errado. Em um memorando de 1993, a direção do banco falou que estava “satisfeita” com a posição “conservadora” de Madoff e que um bom gestor conseguiria os retornos de 20% a 30% que o investidor vinha tendo. Em 2007, admitiu que os retornos do gestor eram “bons demais para ser verdade”.

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Isso levou a uma denúncia que o diretor da área de due dilligence deveria investigar. Apenas para ouvir uma risada dele, dizendo que “faria uma visita para garantir que a auditoria de Madoff não é um lava-carros”. A visita nunca foi feita, a denúncia não foi para frente e Madoff foi preso pelo governo – sem a interferência do JP.

Banco se salvou… Mas e os outros?
Alguns empregados conseguiram tirar dinheiro do banco investido nos fundos de Madoff e foram parabenizados por terem salvo essa quantia. Mas de maneira geral, a negligência foi grande no banco, o principal banco de Madoff em dezembro de 2008, quando ele foi preso. O governo avalia que o JPMorgan foi mal em detectar, controlar e impedir a lavagem de dinheiro.

Também acharam estranho o fato de que o banco nunca alertou o governo dos EUA de algo poderia estar errado com Madoff – embora tenham alertado o governo britânico. No total, a instituição deveria ter US$ 65 bilhões em custódia de Madoff, mas tinha apenas US$ 300 milhões. No fim, o banco “admite” as alegações do governo.

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Além disso, o JP ajudou a inflar a bolha de Madoff ao vender “fundos de fundos” que investiam em fundos de Madoff, que se tornaram um grande sucesso. Esses fundos eram populares e a mesa de operações pedia cada vez mais, sob a alegação de que o maior risco do investimento remetia-se apenas a uma “fraude sistemática”.

Madoff não queria colaborar com nenhuma investigação para saber se estava tudo correto, o que acabou limitando o aumento desses fundos. Desde o início dos anos 2000, muita gente acreditava que Madoff tinha um esquema de pirâmide: fato que foi capa da revista Barron’s e alvo de denúncia inúmeras vezes. Mas nada foi feito.

Mas no JPMorgan, ninguém investigou nada – era só abrir sua conta e lá estava a resposta. Para alguns funcionários, havia um medo de Madoff dentro do banco, já que temia-se que ele ficasse insultado pelas operações de investigação e resolvesse abandonar o JP. Ninguém questionaria se o resultado fosse positivo.

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Mesmo assim, o banco começou a tomar providências para reduzir sua exposição à Madoff e comemorou essa decisão quando ele foi preso. Nessa época, o mesmo funcionário que riu e que poderia ter iniciado a investigação – que se fosse aberta ao governo salvaria o banco da pesada multa – perguntou um colega por e-mail. “Não estou surpreso [com o escândalo], você está?”.