Ibovespa desacelera ganhos à espera de Fed; ação da Vale sustenta alta

Primeira decisão do Fed neste ano sobre os juros nos EUA concentra atenções dos investidores ao longo do pregão

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – O Ibovespa desacelerou sua alta diante da expectativa com a primeira reunião do Fed de 2019. O mercado espera que as taxas de juros sejam mantidas estáveis e o Fed sinalize pausa no seu processo de alta das taxas de juros. O foco fica com a coletiva de imprensa, às 17h30, do presidente do Fed, Jerome Powell.

“No final de 2018 a mudança no rumo dos juros dos EUA foi o evento mais disruptivo dos mercados: esperava-se que o Fed subiria até quatro vezes os juros em 2019, mas agora a projeção mudou para nenhuma alta. De maneira simplista: quanto mais tempo o juro demorar para subir nos Estados Unidos, mais dinheiro abundante teremos no mercado, o que beneficiará emergentes”, afirmam os analistas da Rico em relatório.

Em clima de espera, a alta do Ibovespa é sustentada pelo otimismo em relação à decisão da Vale de acabar com as barragens a montante – tipo de estrutura que se rompeu em Brumadinho e considerada menos segura. Às 14h34 (horário de Brasília), o Ibovespa subia 0,56%, a 96.171 pontos, após chegar na máxima de 97.106 pontos. As ações da Vale (VALE3) saltam até 8% e contribuem positivamente com 0,8 ponto percentual no índice da B3. 

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A medida anunciada pela Vale vai custar cerca de R$ 5 bilhões, reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano. Com a notícia, os preços do minério de ferro no mercado internacional dispararam até mais de 10% após o anúncio, na maior alta em dois anos. 

Segundo a XP, a medida ajuda a mitigar a preocupação em relação à primeira incerteza à produção, mas ainda permanece a incerteza em relação aos potenciais processos judiciais após o rompimento da barragem em Brumadinho.

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O contrato de dólar futuro com vencimento em fevereiro de 2019 tinha queda de 0,01%, cotado a R$ 3,719, e o dólar comercial recuava 0,01%, para R$ 3,721. A queda do dólar foi amenizada após o horário de definição da Ptax, taxa que será usada como referência para contratos cambiais em fevereiro.

Sobre o movimento dos DIs, os contratos operam perto da estabilidade, seguindo o dólar, e o DI com vencimento em janeiro de 2021 caía de 7,14% para 7,12%, e os juros futuros para janeiro de 2023 subiam de 8,26% para 8,31%. 

Bolsas mundiais

Os índices das bolsas dos Estados Unidos sobem com balanços corporativos. Ontem à noite, a Apple disparou mais de 5% no pregão estendido após a empresa anunciar que, apesar da queda nas vendas de iPhone, vendas de outros produtos como IPad e Apple Watch, cresceram. Dados da Boeing também animam os investidores. 

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O mercado ainda espera da primeira decisão sobre juros deste ano do Federal Reserve. Os investidores esperam por uma revisão das expectativas de alta e que os diretores do banco reforcem sua postura “dovish” diante de sinais de desaceleração econômica. 

As bolsas na Europa operam em alta à espera do encontro entre representantes dos governos dos Estados Unidos e China para discutir a guerra comercial instalada entre os dois países. O vice-premiê chinês, Liu He, chega a Washington hoje para o primeiro de dois dias de reuniões com autoridades norte-americanas. 

O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse ontem que espera progressos significativos, porém fontes dizem que ambos lados permanecem distantes em questões-chave.

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As bolsas asiáticas encerraram sem direção definida à espera de novidades com o encontro entre representantes da China e dos Estados Unidos. 

Os preços do petróleo sobem diante da preocupação com a oferta venezuelana após sanções do governo de Donald Trump. Enquanto isso, o minério de ferro tem mais um dia de forte alta, de olho nos efeitos dos anúncios da Vale para a oferta da commodity.

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A disparada chegou a quase 10% também após o Goldman Sachs elevar previsão para o preço para US$ 80, com o produto podendo atingir mais de US$ 100 em cenários de corte ainda mais severo da produção.

Vale e a tragédia em Brumadinho

Após reunião com os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e do Meio Ambiente, Ricardos Salles, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou na noite de ontem que a empresa vai acabar com dez barragens, como a que se rompeu em Brumadinho. Segundo ele, essas barragens serão descomissionadas.

Descomissionar significa preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza. “A decisão da companhia é que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos a decisão de acabar com todas as barragens”, disse o executivo. A Folha de S. Paulo aponta que um terço das barragens da Vale tem potencial de dano similar ao de Brumadinho.

O projeto para descomissionar as barragens está pronto e será levado para os órgãos federais e estaduais em 45 dias. Segundo Schvartsman, o prazo para executar as ações é de no mínimo um ano e no máximo 3 anos e a Vale estima que serão aplicados cerca de R$ 5 bilhões para efetivar o plano.

A medida vai reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano.

Sobre o comando da mineradora, alguns membros do governo passaram a adotar um tom muito mais brando após ameaças de trocar a cúpula. O ministro da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas, advertiu sobre uma “caça às bruxas” e abordagens simplistas para o desastre, dizendo que qualquer decisão precisa ser tomada depois que a situação se acalmar.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que a “golden share não permite interferência na gestão da Vale”, reiterando que essa é uma decisão do Conselho de Administração. Ele ainda completou: “não há condição de haver qualquer grau de intervenção até porque essa não seria uma sinalização desejada ao mercado”.

Agenda econômica 

A agenda é esvaziada no cenário doméstico. Fora do Brasil, destaque para a primeira reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, em inglês) de 2019, na quarta-feira (30) às 17h, com expectativa de manutenção das taxas básicas de juros. O presidente do Fed, Jerome Powell, concede coletiva de imprensa às 17h30. 

Clique aqui para conferir a agenda completa de indicadores.

Noticiário político 

O presidente Jair Bolsonaro retoma as funções presidenciais às 7h desta quarta-feira, segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros. Inicialmente, a previsão de retorno às atividades era entre as 9h e as 10h. Há um dispositivo montado dentro do hospital pelo Gabinete de Segurança Iinstitucional (GSI) com equipamento e possibilidade técnica que permitem a Bolsonaro orientar seus ministros e até despachar.

Sobre a reforma da Previdência, o secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, disse que o texto deverá ser enviado ao Congresso até a terceira semana de fevereiro. O governo pretende aproveitar o texto da proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada ainda durante a gestão do ex-presidente Michel Temer, para agilizar a tramitação, uma vez que já avançou na Câmara.

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A diferença é que o texto de Temer não prevê a criação de um regime previdenciário em que cada trabalhador faça a própria poupança (capitalização), como o governo deverá apresentar em fevereiro, o que pode gerar questionamentos por parte da oposição.

Na corrida para a votação no Congresso, marcada para sexta-feira (1), Rodrigo Maia se posiciona como favorito para a eleição na Câmara, enquanto que Renan Calheiros ganha força para o Senado. A disputa dentro do MDB postergou para amanhã, às 17h, a decisão de quem será o candidato à presidência do Senado – Calheiros ou Simone Tebet.

Vale lembrar que o Senado decidiu pela manutenção do voto secreto, o que significa uma derrota para a senadora, que havia se posicionado a favor do voto aberto. “A decisão sobre o voto secreto é indicativo de que Renan Calheiros tem votos para ser o indicado da bancada do MDB para disputar a presidência do Senado”, avaliam os analistas do Brasil Plural.

Contudo, há uma articulação em curso para que o senador Davi Alcolumbre (DEM), outro candidato à presidência do Senado, presida a sessão de votação e, com apoio do plenário, decida pelo voto aberto. O senador é o único membro da atual Mesa Diretora com mandato até 2022 e, portanto, caberia a ele a presidência da sessão – se, no entanto, ele não fosse candidato a presidir a Casa.

Na ausência de Davi Alcolumbre, a presidência da sessão de votação deverá ser exercida por José Maranhão (PB), o senador mais velho, favorável ao voto secreto. “Renan Calheiros parece confiante no apoio de seus pares, mas sabe que não terá chances em uma eleição aberta. A articulação agora passa em garantir que José Maranhão presida a sessão de votação”, avalia o Brasil Plural.