Volta à mesa de negociações promete esticar momentum favorável às mineradoras

Sensibilidade ao tema é evidente nas ações de MMX, CSN e Vale; eventos recentes sugerem conservadorismo das projeções

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SÃO PAULO – Como em todo início de ano, o cenário para mineradoras e siderúrgicas circula em torno das negociações de preço para os contratos de fornecimento de minério de ferro. Pela característica de concentração destes setores, o debate costuma ser árduo. Da crise para cá, piorou. A falta de consenso entre China e os três grandes players do minério fez as discussões terminarem 2009 sem desfecho. Para 2010, a disputa começa ainda mais acirrada.

A China é de longe o maior consumidor mundial. No ano passado, o país foi responsável por mais da metade das importações mundiais de minério de ferro. Neste caso, porte significa poder de barganha. Do outro lado, a tríade Vale, BHP e Rio Tinto é responsável por 70% do comércio marítimo do minério.

É gigante contra gigante, mas um dependente do outro. Os chineses negociam através da companhia Baosteel – por ter participação estatal – e batem o pé por desconto em relação aos valores spot (à vista) que predominaram na falta de um benchmark no ano passado.

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Spots inflados
A resistência chinesa tem o próprio mercado spot como argumento. Li Wanxiong, analista da Steel Business Briefing na China, citou à imprensa local que, na iminência das negociações de preço, as mineradoras limitaram o suprimento para “inflar” os valores do minério de ferro spot.

De outubro para cá, os contratos à vista passaram de US$ 80 por tonelada para cerca de US$ 130 a tonelada. As mineradoras se defendem e ainda citam as projeções de crescimento do país. Sem fontes naturais de minério da qualidade australiana ou brasileira, a China projeta crescimento de 10% na produção de aço local em 2010, fator fundamental para sustentar sua expansão econômica.

Peter Fish, da consultoria britânica Meps – especializada no mercado de aço -, citou na recente publicação do relatório “World Steel Outlook” que, “primeiro de tudo, produção e demanda chinesa devem continuar sua inexorável escalada”. A consultoria cita os estímulos do governo e destaca o ritmo dos investimentos em infraestrutura no leste do país asiático.

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CHINA - suprimento de minério X produção aço

Quem vence a queda de braço?
Aparentemente, as mineradoras.

Contra a resistência chinesa, Vale, BHP e Rio Tinto começam a negociar com japoneses e sul-coreanos. De fato, os últimos anos mostram que o anúncio dos reajustes é inicialmente firmado com estes clientes, que consomem menos e consequentemente estão mais abertos aos termos propostos pelos fornecedores, pelo menor poder de barganha.

De acordo com o modelo benchmark predominante até 2008, o primeiro contrato fechado entre uma das grandes mineradoras e algum player representativo do mercado de aço vale como referência para os demais. Sempre há prêmios pela qualidade (no caso, o minério proveniente de Carajás costuma sair a preços mais altos que a média internacional), descontos de frete e algumas flexibilizações por produtor; todos, no entanto, não muito distantes da referência inicial.

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“Nessa ‘queda de braço’ anual entre as três grandes mineradoras e as siderúrgicas chinesas, vemos que quem tem maior poder são as mineradoras, que agora passam por um momento de grande demanda e veem seu produto ser essencial para o desenvolvimento de um gigante como a China”, destacou a equipe da Link Investimentos. Para o Bradesco, “nem mesmo um aumento da taxa de juro chinesa pode esfriar os preços do minério de ferro”.

Projeções em revisão
O momento favorável para a ponta mineradora é evidente. Além dos argumentos já citados, há ainda questões como a queda nos preços de frete, a necessidade das siderúrgicas recomporem seus estoques (queimados durante o ajuste pós-crise) e evidências de aquecimento do mercado, como a alta de 30% do preço do carvão utilizado nos alto-fornos.

**Reajuste de preços do Minério de Ferro
Instituição  Projeção  2010  2011 
BofA Merrill Lynch       Jan(2010) 50%       15%
Barclays Out          20% 10%
BMO Capital Jul          10% 4%
Citigroup                 Out          15% 0%
Credit Suisse        Out          15% 15%
CRU Group                 Dez 25% 10%
JP Morgan Dez 20% 30%
Société Générale Dez 20% -9%
Morgan Stanley Out 15% 5%

A presença destes elementos começa a pesar sobre as projeções predominantes para a rodada de negociações deste ano.

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A Link, que trabalhava com uma projeção de aumento de 10% nos preços, mencionou em seu último relatório que “estamos ficando para trás”. Na quarta-feira (13), o BofA Merrill Lynch cedeu e revisou sua estimativa de preços de alta de 15% para avanço de 50%.

A resposta das ações de CSN e Vale e a disparada dos papéis da MMX dão indício da sensibilidade do mercado à questão.

Pelo teor das projeções anteriores e o recente fluxo de notícias, novas revisões de estimativas não são de surpreender.

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*Imagem: CHINA – suprimento de minério X produção aço (variação percentual em relação ao ano anterior – Milhões de Toneladas)

Créditos: Reuters e China National Bureau of Statistics 

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