Nem sobe, nem cai: por que o mercado está “travado” nesta quinta-feira?

Derrota de Temer na revisão das metas fiscais não assusta o mercado

Rafael Souza Ribeiro

Publicidade

SÃO PAULO – Apesar do “tropeço” do governo no Congresso na votação das metas fiscais, o Ibovespa não apresenta grande volatilidade nesta quinta-feira (31) e às 14h45 (horário de Brasília) registra leve baixa de 0,11%, aos 70.811 pontos, permanecendo em sua congestão entre 71.500 e 70.500 pontos desde sexta-feira (25). O movimento mostra que o mercado está mais preocupado com os grandes eventos políticos e econômicos que teremos neste começo de setembro do que com esse revés na meta. Além disso, a forte alta do minério de ferro após indicadores melhores que o esperado na China sustenta o rali de Vale e siderúrgicas.

Ao mesmo tempo, os contratos de juros futuros com vencimento em 2021 caíam 7 pontos-base, cotados a 9,19%. Segundo Paulo Petrassi, sócio da Leme Investimentos, isso mostra que os investidores estão mais focados nos importantes eventos que teremos nos primeiros dias do novo mês, como a reunião do Copom do dia 6 de setembro, que deverá anunciar mais um corte na taxa básica de juros. A expectativa é de uma nova redução em 100 pontos-base, mas as atenções devem ficar com o comunicado pós-reunião, onde poderá ter mais sinalizações sobre o ritmo dos próximos cortes, visto que nas últimas sessões o mercado tem revisado suas estimativas, esperando uma Selic próxima de 7% – com alguns economistas já contabilizando uma taxa abaixo desse patamar.

Antes do Copom, teremos nesta sexta-feira (1) a repercussão do PMI chinês e a divulgação às 9h00 do PIB do Brasil e às 9h30 do Relatório de Emprego dos EUA. Já na próxima semana as atenções se voltam para a votação da TLP (Taxa de Longo Prazo) no Senado Federal, que precisa ser aprovada até 6 de setembro, e também para a aprovação dos últimos 2 dos 5 destaques feitos no texto-base da proposta de revisão da meta fiscal. Tudo isso acontecerá enquanto é aguardada a apresentação da nova denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer. Por fim, ainda teremos no feriado de 7 de setembro (quando a bolsa estará fechada) a reunião do BCE (Banco Central Europeu), onde espera-se novas pistas sobre quando terá início a retirada do programa de estímulos no continente. 

Continua depois da publicidade

Formação da Ptax derruba o dólar
Já o dólar futuro com vencimento em setembro passou a cair 0,30%, a 3.164 pontos, por conta da formação da Ptax nesta sessão. A Ptax é a taxa de câmbio calculada pelo Banco Central e é uma das maiores referências utilizadas para contratos envolvendo negócios em dólar, que vão desde acordos entre empresas, definição do dólar turismo e até contratos futuros da moeda. Embora ela seja calculada todos os dias, ela traz maior volatilidade no último pregão do mês pois é esta que será utilizada para diversos contratos cambiais do mês seguinte. A taxa tem seu último cálculo feito às 13h00, por isso a volatilidade na formação da Ptax é mais presente durante a manhã.

Tropeço do governo no Congresso

O Congresso aprovou na madrugada de hoje o texto-base da proposta de revisão da meta fiscal, mas, por falta de quórum não concluiu a votação do projeto e com a derrota o governo será obrigado a enviar o projeto de Lei Orçamentária de 2018 com o déficit de R$ 129 bilhões, menor do que o proposto. Sem a ampliação, o governo precisará fazer um “corte” de R$ 30 bilhões nas despesas previstas na proposta – o que pode ser um grande problema para área econômica, já que essa não é a realidade fiscal do País.

Segundo a LCA Consultores, a não conclusão pode causar algum impacto negativo mas de forma limitada, pois o governo pode contornar essa situação em breve. “A prioridade é a aprovação da TLP até o dia 6, quando vencerá”, aponta a consultoria. Já o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, diz que embora ambas votações devam passar, é preocupante “o nível de descuido” demonstrado pelo governo, já que o mercado ainda espera alguma evolução com a reforma da Previdência – algo bem mais difícil de ser votado pelas resistências já explícitas em Brasília.

Destaques do mercado
As ações do setor siderúrgico e da Vale (VALE3) sobem em vista da valorização registrada pelo minério de ferro na China. Do lado negativo, destaque para Cemig (CMIG4), com o leilão das usinas podendo não ocorrer em setembro. Fora do índice, atenção para as ações do Magazine Luiza (MGLU3), que sobem cerca de 8% após o presidente da empresa, Frederico Trajano, afirmar em evento que as vendas de agosto superaram as expectativas.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET3 ELETROBRAS ON 18,07 -2,38 -14,43 31,92M
 CMIG4 CEMIG PN 8,38 -2,10 +11,65 22,83M
 MRFG3 MARFRIG ON 7,11 -1,80 +7,56 7,46M
 JBSS3 JBS ON 8,76 -1,46 -22,91 22,50M
 ITSA4 ITAUSA PN 10,24 -1,25 +27,13 56,82M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 USIM5 USIMINAS PNA 6,83 +4,12 +66,59 82,89M
 GGBR4 GERDAU PN ED 12,01 +1,61 +11,40 95,72M
 CSNA3 SID NACIONALON 8,67 +1,40 -20,09 31,43M
 EGIE3 ENGIE BRASILON 36,00 +1,27 +9,21 16,76M
 CYRE3 CYRELA REALTON 13,26 +1,22 +30,04 13,40M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Agenda econômica

No Brasil, destaque para a divulgação da PNAD contínua, que surpreendeu ao apontar taxa de desemprego em 12,8% no trimestre de maio a julho, enquanto os economistas aguardavam 13%. A taxa caiu em relação ao trimestre anterior, quando atingiu 13,6%, mas subiu na comparação com o mesmo período do ano passado (11,6%).

Nos EUA, atenção ao núcleo do PCE (índice de preços de gastos com consumo), que subiu 0,1% na passagem de junho para julho e ficou em linha com o esperado pelo mercado, enquanto houve um aumento inesperado do indicador de renda pessoal em julho, apontando crescimento de 0,4% frente junho e superando a expectativa de +0,3%.

Na Ásia, a agenda está bastante agitada, com dados de gastos de capital do Japão do segundo trimestre às 20h50 e da indústria do país às 21h30. Às 22h45, será divulgado o PMI da China de agosto elaborado pelo instituto Caixin.

Denúncia contra Temer

Na última quarta-feira, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), devolveu à PGR (Procuradoria Geral da República) a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro para ajustes, que deve ser utilizada em uma eventual nova denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer e, com o atraso na homologação, a denúncia também pode atrasar. 

Sobre o assunto, o presidente afirmou que recebeu a decisão com naturalidade: “no plano jurídico, quando alguém começa a agir suspeitamente, você tem que arguir a suspeição. Quem decide é o Judiciário, se há ou não suspeição. O que não se pode é manter o silêncio. Foi o que o meu advogado fez”, afirmou, após reunião com grandes empresários chineses.

  • Bolsas mundiais

    Na Europa, os ganhos são impulsionados pelos dados de inflação ao consumidor na Zona do Euro, que marcou em agosto avanço de 1,5% frente ao mesmo período do ano passado e superou as expectativas do mercado de 1,4%, atingindo o nível mais alto em quatro meses.

  • Do lado das commodities, o minério de ferro subiu forte por conta do resultado acima do esperado da indústria chinesa, enquanto o petróleo tem um dia de ganhos e a gasolina supera US$ 2/galão em NY após canal de combustível do Golfo do México à Costa Leste começar a fechar devido à tempestade tropical Harvey.  
  • Às 14h45, este era o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones (EUA) +0,16%

*S&P 500 (EUA) +0,45%

*Nasdaq (EUA) +0,79%

*CAC-40 (França) +0,58% (fechado)

*FTSE (Reino Unido) +0,89% (fechado)

*DAX (Alemanha) +0,44% (fechado)

*Hang Seng (Hong Kong) -0,44% (fechado)

*Xangai (China) (fechado) -0,08% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,72% (fechado)

*Petróleo WTI +2,92%, a US$ 47,30 o barril

*Petróleo brent +2,91%, a US$ 52,34 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +3,80%, a 573 iuanes

 * Minério de ferro negociado em Qingdao 62% +3,72%, a US$ 78,91 a tonelada