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A produção de automóveis foi declinante, o mercado imobiliário, que entrou em colapso, mantém baixo nível de atividade. Ainda que os primeiros sinais de uma estabilização, a um baixo nível, se fazem notar, o desemprego continua aumentando.
A primeira economia mundial está abalada e seu sistema financeiro ainda não está estruturado para uma evolução estável. Embora apresente resultados bem melhores do que o esperado, os métodos e os produtos são similares aos anteriormente utilizados, mesmo que sem a agressividade anterior.
A administração Obama, que iniciou com grande prestígio, conseguiu reformular, no primeiro ano, o sistema de saúde dos americanos e estancar o dreno maior de sustentação de bancos e de setores estratégicos como o automotivo, o aeronáutico e o naval, entre outros.
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O custo do endividamento foi grande e os primeiros sinais de recuperação demonstram que alguns anos se passarão antes de o governo recuperar uma boa parte desses empréstimos. O dólar fraco reduz o prestígio americano e, no longo prazo, induz outras economias a saírem em busca de outras opções.
Este quadro evidencia uma potencia econômica e política abalada. No entanto, observamos que os agentes da economia e da política americana não esmoreceram, mas se mostram com vigor de recuperação e de posicionamentos estratégicos relevantes.
“Fazer uma aposta |
Na economia, há sinais de recuperação no setor automotivo, no qual os esforços, tanto da Ford como da GM, renderam mais frutos do que o prognosticado. Vemos uma tendência maior para veículos menos potentes e mais econômicos; o endividamento particular parece ter recebido um recado forte de que existem limites; e a recuperação da renda e emprego, mesmo com juros muito baixos, pode significar a inadimplência familiar.
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Para uma sociedade de consumo sofisticada como a americana adquirir novos hábitos de consumo, só mesmo com uma crise mais prolongada e com medidas gerais de conscientização nacional. Assim, o alto consumo energético, as implicações ambientais, os limites de ganhos excessivos (como os bônus bancários) versus as questões sociais mal resolvidas, implicam em novas atitudes.
O desestimulo à poupança e o consumo indiscriminado de produtos vindos da Ásia, de valor cada vez mais atrativo, levam ao desemprego estrutural. Aumenta o sentimento (que nos EUA pode ser muito forte) do “buy American”, o que pode culminar em barreiras de preferência. Mesmo ponderando estas macrotendencias difíceis de mudar em curto espaço de tempo, a sociedade americana debate as essencialidades.
O sistema de saúde, por exemplo, contradiz o princípio americano de dar oportunidades a cada um, sendo ele próprio o responsável por sua segurança econômica, saúde e previdência. Entra em questão a participação do Estado no bem estar mínimo do cidadão, por um contrato social.
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Os americanos recompõem os limites de seus valores, impondo limites à liberdade, à questão das mínimas garantias e ao bem comum; é Wall Street versus Common Street; é a ganância versus a solidariedade social. Este debate é muito saudável para uma sociedade que por muitos anos tem vivido além dos limites da normalidade, com uso desenfreado de sua energia, com geração indiscriminada de riqueza financeira sobre a riqueza produzida pela economia de trabalho e produção, pelo uso indiscriminado de sua moeda como referência mundial, podendo se endividar sabedora de que os credores não são apenas o povo americano, mas muitas economias mundiais que mantém o dólar como referência.
Em tudo isso se vê mudanças ocorrendo. A administração Obama mantém em curso o pragmatismo político de realização do possível. A questão política de primeiro valor para esta administração era realizar a reforma do sistema de saúde do país. Em segundo lugar, agora, é recuperar o sistema econômico realizando as reformas necessárias. Em terceiro lugar, é mudar a mentalidade americana da energia do petróleo para as energias alternativas.
O primeiro objetivo foi razoavelmente alcançado. O segundo, como comentado, está em curso, principalmente depois de ter recebido o apoio de Paul Volker para iniciar novamente um processo de redução do sistema financeiro, quem sabe por uma retomada da antiga divisão de bancos de investimentos e bancos comerciais, com regulamentações e controles específicos.
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Já na terceira, foi decepcionante a atuação dos EUA em Copenhagen, mas não me surpreenderia se os EUA saíssem liderando este processo no México. Obama não queria realizar o mesmo ato de Clinton, que assinou o Protocolo de Kyoto e não conseguiu ratificá-lo no Congresso; preferiu sair chamuscado em Copenhagen, para dividir o ônus desta imagem com a sociedade americana e conseguir, em 2010 no Congresso, a terceira aprovação relevante de seu governo.
Pragmatismo na política, a volta à Realpolitik, de Helmut Schmidt, Valéry Giscard d’Estaing, Gerald Ford, parece ser uma tônica na política de Obama. Sua atuação junto à Rússia, no difícil tema do desarmamento, conseguiu postergar o tema para alguns meses à frente, deixando espaço para realizar significativos avanços na redução do armamento nuclear.
Sua atuação na América Latina, tão criticada pela não política, acaba de obter duas relevantes conquistas: a de Honduras, que se não foi uma solução ideal foi pragmática e com resultado de pacificação através de eleições, e a do Haiti, pela sua vigorosa atuação, não deixando dúvidas em relação à sua ajuda e sua influencia no processo, autorizada pelo próprio presidente do Haiti.
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A grande potencia econômica e política pode estar abalada, mas, longe de estar imobilizada ou sem poder de atuar, parece sim que está bem ativa em suas essencialidades.
Fazer uma aposta contra os EUA é certamente um erro fundamental; o povo americano sempre demonstrou enorme vigor de reação. Subestimá-lo é como apostar que, em um filme de John Wayne, esse acabaria sendo vencido…
Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney.
ingo.ploger@infomoney.com.br