Ibovespa se descola dos EUA e sobe 2%, com otimismo por reformas; só 4 das 58 ações do índice têm queda

Além da forte alta das ações de peso do índice, como Vale e Petrobras, destaque para a dispara de até 8% das varejistas e empresas de carnes; JBS lidera os ganhos do benchmark, após concluir compra da fabricante norte-americana de produtos suínos Plumrose

Paula Barra

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SÃO PAULO – Após um dia sem operações na B3 por conta do feriado de Tiradentes, o Ibovespa teve seu segundo pregão seguido de alta nesta terça-feira (2). Descolado das bolsas americanas, o índice fechou em alta de 2,02% nesta sessão, a 66.721 pontos, praticamente na máxima do dia (+2,25%, a 66.877 pontos), em meio à leitura positiva do mercado para as reformas do governo de Michel Temer. O volume financeiro movimentado hoje foi de R$ 9,14 bilhões.

Além da forte alta das ações de peso do índice, como Vale e Petrobras, chamou atenção a disparada das varejistas e empresas de carnes. A JBS liderou a alta do Ibovespa, com ganhos de 7,94%, após concluir a aquisição da fabricante norte-americana de produtos suínos Plumrose. Anima também que, mesmo com a “Carne Fraca”, exportações de carne avançaram 25% em abril. Destaque ainda para o fato de que apenas 4 das 58 ações do índice encerraram em queda nesta sessão, sendo uma delas a Embraer, que caiu 3,91% – maior queda do benchmark – após reportar um balanço fraco no 1° trimestre. 

O analista técnico Aliakyn Pereira de Sá, da XP Investimentos, alertou no Visão Técnica da última sexta-feira que o índice iria em busca do seu “divisor de águas” nos 66.500 pontos esta semana e que, se rompido, poderia abrir espaço para mais altas no curto prazo (veja aqui). 

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Contribui para o otimismo dos investidores nesta sessão a percepção de que as recentes manifestações não tiraram força do governo federal para avançar na agenda de reformas. “Em nenhum país do mundo, a reforma previdenciária é tratada de maneira simples, e os embates entre governo e população em geral estão sendo até menos ríspidos aqui se compararmos com outros países que fizeram reformas recentemente”, escreveram os analistas da corretora Lerosa Investimentos, em nota a clientes. Temer se reuniu na véspera com ministros e parlamentares da base aliada para discutir estratégias para aprovação das reformas trabalhista e da Previdência e, segundo reportagens na mídia, decidiu retaliar deputados infiéis ao governo.

Nesta sessão, o dólar comercial fechou em queda de 0,62%, a R$ 3,1516 na compra e R$ 3,1534 na venda. Os contratos futuros da moeda – negociados sob o ticker DOLM17 (com vencimento em junho) – registravam desvalorização 0,69%, a R$ 3,178. Já os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 5 pontos-base, a 9,43%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuaram 8 pontos-base, a 9,92%. 

Lá fora, os três principais índices acionários fecharam em leves ganhos nesta sessão: Dow Jones subiu 0,17%, a 20.949 pontos; S&P 500 avançou 0,12%, a 2.392 pontos; enquanto o Nasdaq registrou alta de 0,06%, a 6.095 pontos. 

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Confira ao que se atentar neste pregão e ao longo da semana:

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Vale (VALE3; VALE5) subiram forte, seguindo o movimento dos ADRs (American Depositary Receipts) na véspera, quando o mercado brasileiro esteve fechado por conta do feriado de 1 de maio. A sessão da véspera foi de ganhos embalados pela forte alta do minério de ferro, que subiu para US$ 68,80 em Qingdao, alta de 3,58% em relação ao fechamento anterior. Na sessão de hoje, o minério teve leve queda de 0,12%.

As ações da Petrobras (PETR3; PETR4), por sua vez, sofreram uma reviravolta após os preços do petróleo acelerarem a queda no mercado internacional, em meio a preocupações sobre aumento de produção da commodity apesar dos esforços da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). O petróleo WTI fechou em queda de 2,4%, a US$ 47,66 o barril. 

No radar, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse nesta tarde, em evento em Houston, nos EUA, que a Justiça derrubou liminar que suspendia operações e venda da participação da estatal no campo de Carcará para a Statoil. Além disso, ontem, ele comentou que a empresa vai anunciar “muito em breve” um novo programa de venda de ativos. Em entrevista à Bloomberg, ele disse que a estatal tem lista com cerca de 40 ativos, avaliados em cerca de US$ 40 bilhões, para poder atingir a meta de US$ 21 bilhões em desinvestimentos e parcerias em 2017 e 2018. Parente comentou ainda que a Petrobras mantém os planos de buscar um parceiro para a BR Distribuidora, mas não descarta também a possibilidade de fazer um IPO (Initial Public Offering) da empresa.

Os bancos também avançaram, seguindo a alta dos ADRs na véspera. Os papéis do Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) subiram cerca de 3% nesta sessão. O setor também digeriu o saldo das manifestações na última sexta-feira (28) que, segundo analistas não deve afetar o cronograma de reformas trabalhista e da Previdência no Congresso.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa foram:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON ED 11,05 +7,94 -2,76 81,82M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 18,08 +7,36 +6,51 225,46M
 RAIL3 RUMO S.A. ON 9,27 +6,19 +50,98 133,71M
 BRFS3 BRF SA ON 41,80 +5,05 -13,37 149,18M
 CMIG4 CEMIG PN 9,29 +4,62 +20,49 88,57M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa foram:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 EMBR3 EMBRAER ON ED 14,76 -3,91 -6,95 102,68M
 ELET3 ELETROBRAS ON 17,99 -0,39 -14,81 32,66M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 29,83 -0,20 +8,48 180,23M
 MRVE3 MRV ON 15,93 -0,06 +49,18 51,22M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

PMI Industrial

O setor industrial do Brasil voltou a registrar expansão em abril pela primeira vez em pouco mais de dois anos diante do aumento do volume de novos pedidos, atenuando o ritmo de cortes de empregos, mostrou o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) divulgado nesta terça-feira.

Ao atingir 50,1 em abril, o PMI da indústria do Brasil voltou a ficar em território de expansão pela primeira vez desde janeiro de 2015, ante 49,6 em março, divulgou o IHS Markit. O resultado derivou principalmente do aumento da demanda doméstica, com o volume de novos pedidos crescendo pelo segundo mês seguido, bem como o de produção.

Crescimentos no volume de novos pedidos foram observados nos setores de bens de consumo e de bens intermediários, enquanto que as empresas de bens de capital registraram contração no volume de novos trabalhos. Apesar dessa melhora, a quantidade de empregos na indústria do país diminuiu ainda mais em abril, chegando a 26 meses de cortes. Entretanto, o ritmo de perdas de vagas foi o mais fraco nesta sequência.

Relatório Focus

O humor dos economistas consultados semanalmente pelo Banco Central melhorou quanto à atividade econômica ao final deste ano. Conforme a mais recente edição do relatório Focus, divulgada na manhã desta segunda-feira (2), a mediana dos economistas para o PIB (Produto Interno Bruto) saltou de 0,43% para 0,46% em 2017, ao passo que para o ano seguinte as projeções se mantiveram em alta de 2,5%. Do lado da inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), as expectativas recuaram de 4,04% para 4,03% neste ano e de 4,32% para 4,30% em 2018.

Segundo o levantamento feito na última sexta-feira (28), não foi alterada a mediana dos economistas para as taxas de câmbio e juros básicos em 2017 e 2018. No primeiro caso, as expectativas são de que o dólar encerre este ano cotado a R$ 3,23 e o ano seguinte a R$ 3,38. Já para a Selic, os economistas apostam em um patamar de 8,50% nos dois períodos — o que significa respectivas taxas de juros reais de 4,47% e 4,2%.

Já entre os cinco economistas que mais acertam em suas avaliações — o chamado “top 5” –, houve um pequeno crescimento na mediana das projeções para a inflação neste ano, de 3,85% para 3,86%, ao passo que para o ano seguinte as expectativas continuaram em alta de 4,25%. Do lado do câmbio e da Selic também não houve alteração: R$ 3,35 e R$ 3,45 para a moeda americana ao final de 2017 e 2018, nesta ordem, e 8,5% para a taxa de juros em ambos os períodos.

Agenda

Nesta terça, destaque para uma série de dados industriais no Brasil e no mundo. Na Europa, os dados do PMI já foram reportados: na zona do euro, as indústrias da região começaram o segundo trimestre com um ritmo sólido, aumentando a atividade à taxa mais forte em seis anos uma vez que a demanda permaneceu forte apesar da alta dos preços, mostrou nesta terça-feira a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês). O PMI de indústria do IHS Markit para a zona do euro saltou a 56,7 em abril de 56,2 em março, alcançando o nível mais alto desde abril de 2011. O dado ficou pouco abaixo da preliminar de 56,8.

Saldo dos protestos

Após o feriado, o mercado também repercutirá o saldo dos protestos da última sexta-feira contra as reformas trabalhista e da previdência. De acordo com a consultoria de risco político Eurasia, a manifestação não deve prejudicar andamento das reformas. Por outro lado, sindicalistas avaliam que a greve foi bem sucedida e, em ato político de 1º de maio, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), prometeu fazer uma nova greve geral junto com as demais centrais sindicais caso o presidente Michel Temer não ceda nas negociações em torno das reformas.

Em mensagem divulgada nas redes sociais em celebração ao Dia do Trabalhador, Temer defendeu a reforma trabalhista ao afirmar que as mudanças na legislação vão acelerar a criação de empregos e garantir os direitos dos trabalhadores. “Com a modernização trabalhista aprovada pela Câmara dos Deputados, a criação de postos, inclusive para os jovens, ocorrerá de forma muito mais rápida”, defendeu. 

Sobre a reforma da Previdência, o governo considera já ter votos suficientes para aprovar a proposta na comissão especial que discute o tema na Câmara, segundo informa a Coluna do Estadão. A votação deve ocorrer na próxima quarta-feira. No mapa feito pelo Planalto, a situação já contabiliza pelo menos 22 votos favoráveis ao projeto entre os 37 integrantes da comissão. Mas a ideia é ampliar essa margem de vantagem até 25 votos, para ter segurança de aprovação.

A semana no mercado

A agenda de indicadores brasileira é mais fraca nesta semana, tendo como destaque produção industrial de março, a ser divulgada pelo IBGE na próxima quarta-feira, às 9h. No exterior, o ritmo é o oposto. Nos Estados Unidos, o Fomc decide o novo patamar dos juros na quarta-feira, com expectativa de taxa estável direcionando atenção para o comunicado. Já dirigentes do Federal Reserve, como a chairwoman Janet Yellen e Stanley Fischer, falam na sexta-feira, quando também será divulgado o relatório de emprego de abril. Na Europa, atenção ainda para o segundo turno das eleições da França, que ocorrerão no próximo domingo (7) entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen.

(Com Reuters, Bloomberg e Agência Estado)

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