BC terá aval para aumentar a taxa de juros – e o governo vai soltar o crédito

O incentivo deverá vir com o uso dos bilhões pagos aos bancos oficiais e ao FGTS pelas pedaladas fiscais. A complicação é o envolvimento do nome do ministro Jaques Wagner em suspeitas na Operação Lava-Jato

José Marcio Mendonça

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A trégua política com a qual o governo contava no recesso parlamentar para poder trabalhar com mais calma a questão econômica, foi rompida com a saraivada de acusações de possíveis envolvimentos do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner em casos da Operação Lava-Jato.

O governo contava com as ações de Wagner junto ao PMDB e até junto à oposição para dar tempo ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para preparar algumas medidas que dessem sinais aos aliados de que está encaminhando a retomada da economia brasileira, para o qual recebe fortes pressões do PT, e, ao mesmo tempo, dar sinais também de que não abandonou seus compromissos com uma política de austeridade fiscal.

As pressões sobre Wagner podem levar o Ministro da Fazenda a adiantar algumas medidas, mais do agrado dos petistas, via estímulo ao crédito. Está praticamente definido – faltam os detalhes – que o governo utilizará os recursos transferidos para bancos oficiais e o FTGS para cobrir as pedaladas para turbinar empréstimos às empresas, de capital de giro e investimentos.

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São R$ 49 bilhões transferidos ao BNDES, ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal que deverão ser postos à disposição das empresas. O BNDES terá linhas especiais mais baratas para as microempresas. A prioridade também é para exportações. Os R$ 22 bilhões entregues ao FGTS servirão para incentivar a construção civil. O primeiro passo deverá ser colocar em dia o pagamento das empresas do setor. A presidente voltou a falar no PAC 3.

Mas para evitar que o setor financeiro e parte do mundo empresarial leiam essas medidas como o início de uma mudança mais profunda na política econômica, como é defendida pelo PT, por Lula e por parte do ministério, a presidente, segundo o jornal “O Globo”, acertou com o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que o Copom está livre para aumentar a taxa de juros, na semana que vem. Uma no cravo outra na ferradura.

As pressões para que a autoridade monetária fizesse o movimento contrário, reduzindo já a Selic dos atuais 14,25% estavam insuportáveis. O que estava constrangendo o BC, cuja carta, escrita na sexta-feira para explicar o estouro da meta inflacionária de 2015 (10,67¨% contra tolerância máxima de 6,5%), fala abertamente de erros do governo na condução da política monetária. Barbosa soltou nota no mesmo dia para dizer que o combate à inflação continua prioritário.

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Ciúmes de 2018
O desafio da semana será administrar politicamente esta decisão com o ministro Wagner sob fogo cruzado. O Palácio do Planalto está preocupado, pois percebeu que os movimentos”, classificados como “vazamentos seletivos” visam enfraquecer o principal negociador planaltino, que estava se reaproximando do PMDB “rebelde”. Suspeita-se que possa estar sendo vítima do chamado “fogo amigo”, uma tentativa de evitar que Dilma se afaste do PT e reforce Wagner dentro da legenda. Há um outro pano de fundo nessa história: ciúmes de 2018

O governo observa com atenção dois outros movimentos. A insatisfação dos movimentos sindicais e sociais com as propostas de reforma previdenciária e trabalhista, que pode desembocar em manifestações de rua. A agitação sexta-feira, em São Paulo e no Rio, nos protestos contra o aumento das passagens e ônibus, foi um alerta.

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A outra preocupação é a andança dos deputados e senadores nesses dias de recesso por suas bases eleitorais. Os parlamentares estão mais em contato direto com a população, sentindo o clima de apreensão em relação à economia este ano, com os temores de aumento do desemprego – e isto pode contaminar o ambiente do Congresso no reinício dos trabalhos legislativos, após o Carnaval, quando o pedido de impeachment começará a ser debatido para valer.

As indicações de que está havendo uma certa regressão social já são visíveis. Reportagem do jornal “Valor Econômico” mostra que a crise atual já rebaixou 3,7 milhões de brasileiros da classe C para as classes D e E, segundo estudo da economista Ana Maria Barufi, do Bradesco, com base em dados da PNAD. Entre janeiro e novembro do ano passado, a participação da classe C na pirâmide social brasileira caiu de 56,6% para 54,6%.

Por isso, a pressa em soltar alguma amarras da economia, sem, contudo, passar a impressão de que está havendo a tal “guinada à esquerda” na política econômica defendida por Lula e pelo PT. O desafio de Nelson Barbosa e Dilma é encontrar o equilíbrio entre esses dois extremos.

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Quanto ao impeachment, segundo ainda o jornal “O Globo”, está circulando nas redes sociais e entre os partidos aliados uma “cartilha” com argumentos para a defesa do mandato da presidente. São argumentos jurídicos, políticos e econômico que formariam uma espécie de decálogo para mostrar que o impeachment é insustentável. Segundo jornal “O Estado de S. Paulo”, ao mesmo tempo o Planalto vai jogar duro, na questão de cargos, com os parlamentares que estiverem a favor do impeachment.

Outros destaques dos

jornais do dia

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– “Fundos de pensão: CPI quer convocar Jaques Wagner” (Globo)

– “Marcos Valério negocia delação na Lava-Jato” (Globo)

– “Devolução de imóveis para as construtoras chega a 41% em 2015” (Estado)

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– “Lava-Jato investiga operação de 13 bancos” (Estado)

– “Para BIS, dívida alta pode “parar emergentes” (Estado)

– “Cerveró cita propina no governo FHC” (Valor)

– “Governo estuda fusão para criar megaestatal de TI e Comunicação”

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Paulo Guedes – “De cima a baixo” (diz que mais que a falta de recursos, o problema os problemas de incapacidade administrativa atingem toda a estrutura do governo) – Globo
  2. Editorial – “MP da impunidade” (diz que MP 703 recupera a certeza da impunidade de empresas que operam de forma ilícita) – Estado
  3. Bernard Appy – “Quem ganha com a mudança no simples?” (diz que a ampliação do limite e discussão no Congresso não apenas não resolve o maior problema, como o agrava) – Estado
  4. Editorial – “IPCA de 10,7% em 2015 mostra grave descontrole da inflação” (diz que haverá estabilidade monetária sem atacar a origem fiscal do problema) – Valor
  5. Davi Kupfer – “Todo mundo em pânico” (diz que o principal fantasma da economia brasileira não é a escassez de divisas e sim a insuficiência de demanda efetiva) – Valor