Estrangeiros “carregam o Brasil nas costas” e Bolsa pode buscar os 56 mil pontos

Nova vertente entre gestores divide opiniões e acredita que curto prazo na Bolsa continuará seguindo desempenho "carnavalesco" de fevereiro

Marina Neves

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SÃO PAULO – A forte queda da Bolsa registrada ontem levou o analista técnico Wagner Caetano a afirmar que este seria apenas o começo de um período de correção da Bolsa, que viveu seu melhor mês desde 2012 em fevereiro. No entanto, o acionista mais fundamentalista ainda se questiona como a Bovespa pôde subir tanto em fevereiro em meio ao cenário nada favorável para renda variável, e a explicação é uma só: os investidores estrangeiros estão “carregando o Brasil nas costas”.

A crise econômica no Brasil, as investigações da Petrobras (PETR3; PETR4) – maior estatal do País -, o desemprego e juros altos criaram uma nova vertente entre os gestores, que é de “quase otimismo”. Com as incertezas econômicas vistas nos EUA, sobre quando ocorrerá uma elevação na taxa de juros pelo Federal Reserve, e com a injeção do BCE (Banco Central Europeu) de quase € 1 trilhão na Europa com a compra de ativos, muitos investidores estrangeiros estão tirando seu dinheiro de lá e vendo na “terra verde e amarela” uma grande oportunidade de investimento, o que está impulsionando a Bolsa. 

A valorização cada vez maior do dólar frente ao real também deixa a BM&FBovespa mais atrativa aos olhares dos estrangeiros; mas o ótimo fevereiro se sustenta na Bolsa? Ou foi só um movimento de “repique” após meses muito negativos? Gestores indicam que o Carnaval fora de época veio para ficar.

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Em uma perspectiva de curto prazo, considerando os próximos seis meses, o mercado acionário deverá continuar volátil, sem muitas novidades no cenário econômico de Estados Unidos e Europa, e, portanto, com um aumento de investidores migrando seu dinheiro dos EUA e Europa para a bolsa brasileira, como explica o gestor da BBT Asset, Raphael Juan.

“No primeiro semestre o cenário não irá ter grandes estresses nos mercados estrangeiros, e isso beneficia o Brasil, já que dá tempo para o País ajustar a casa, para que ano que vem a confiança do consumidor e empresariado volte a melhorar”, afirmou o gestor. Para ele, o Ibovespa deverá andar entre os 50 mil e 54 mil pontos no curto prazo, podendo chegar aos 56 mil.

No entanto, Juan faz uma ressalta: as perspectivas positivas de entrada de dinheiro estrangeiro no Brasil ficam restritas às ações do Ibovespa, carteira teórica da Bolsa. “O que se valorizou mesmo foi o Ibovespa, pois tirando elas, o mercado segue ruim. O mercado está concentrado”, completa.

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Sobre o cenário político, o gestor comenta a ideia – ainda remota – de Dilma Rousseff não completar seu mandato e deixa claro que, mesmo que grande parte da população esteja descontente com o governo da presidente, ainda assim o ministro da Fazenda Joaquim Levy tem feito seu dever de casa “com perfeição”, e que, em caso de impeachment, os investidores estrangeiros sairiam “na hora” de seus investimentos aqui no Brasil.

“Uma instabilidade política afasta no mesmo instante o investidor estrangeiro. Caso a Dilma saia no meio do seu mandato, imediatamente todos os investimentos, inclusive os de renda fixa desabam no mesmo instante. Ruim com ela, pior sem ela”, dispara.