1,4 milhão de brasileiros investem em fundos que lucram até 7 vezes mais do que eles

Com Selic a 6,5% ao ano, taxas de administração a partir de 2,9% criam uma distorção no mercado: o banco lucra muito mais do que o cliente que aplica em fundos DI  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Em fevereiro de 2018, o InfoMoney noticiou que 1,2 milhão de brasileiros estavam investindo em fundos cujas taxas de administração superavam o lucro obtido pelos cotistas – em outras palavras, nestes fundos, a instituição ganharia mais dinheiro que o cliente pela aplicação ao longo do ano.

Após mais uma queda da Selic, agora em 6,5% ao ano, este número cresceu aproximadamente 20%: atualmente, o dinheiro de 1,4 milhão de pessoas está aplicado em investimentos mais vantajosos para o banco do que para si mesmas.

Os fundos em questão são DI e de curto prazo: eles aplicam a maior parte dos recursos em papéis indexados à taxa básica de juros (Selic) ou ao CDI (que acompanha a Selic). O InfoMoney selecionou os fundos DI com as mais altas taxas de administração do mercado. 

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Os dois fundos que mais ganham dinheiro dos cotistas são Santander Inteligente Curto Prazo e o Banrisul Automático Curto Prazo, ambos com cobrança de 5,5% ao ano. Isso quer dizer que o investidor que aplicar R$ 100 mil em um destes fundos irá pagar R$ 5.500 para o banco em um ano.

Agora vamos fazer as contas: com a Selic atualmente em 6,5% ao ano, o rendimento antes da taxa de administração de uma aplicação de R$ 100 mil seria de R$ 6.500.

Tirando o que o banco cobra para gerir o fundo e os 20% de Imposto de Renda, o investidor coloca no bolso míseros R$ 800 depois de deixar R$ 100 mil aplicados durante o ano todo – enquanto o Santander e o Banrisul embolsam R$ 5.500 cada um, praticamente sete vezes mais do que o cliente.

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Outros 20 fundos com as mesmas características também cobram bem mais de seus investidores do que o retorno oferecido. O número cresceu com relação ao último levantamento realizado pelo InfoMoney graças à queda da rentabilidade atrelada à Selic.

Agora, para que o fundo não receba mais que o cotista, o valor da taxa de administração não pode atingir 2,9%. Confira a tabela abaixo:

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Fundo Taxa de administração Patrimônio Líquido atual (R$) Rendimento líquido em 12 meses para R$ 100 mil* Quanto a gestora ganha com aplicação de R$ 100 mil Receita da gestora em um ano (R$) Número de cotistas
BANRISUL AUTOMATICO FI RF CURTO PRAZO 5,50% 367.266.669,59 R$ 800 R$ 5.500 20.199.666,83 910
SANTANDER FC INTELIGENTE RENDA FIXA CP 5,50% 184.320.529,00 R$ 800 R$ 5.500 10.137.629,1 21.111
FIRF BRB LIQUIDEZ 5% 57.845.113,48 R$ 1.200 R$ 5.000 2.892.255,674 1.454
SANTANDER FC CLASSIC RF REF DI 5% 605.264.254,84 R$ 1.200 R$ 5.000 30.263.212,74 68.622
CAIXA FIC PRATICO RENDA FIXA CURTO PRAZO 5% 14.826.141.009,99 R$ 1.200 R$ 5.000 741.307.050,5 15.599
SANTANDER FC AUTOMÁTICO RF CURTO PRAZO 5% 195.661.998,32 R$ 1.200 R$ 5.000 9.783.099,916 171
SANTANDER FC EMPRESAS RF CP 5% 419.665.081,29 R$ 1.200 R$ 5.000 20.983.254,06 13.314 
BANRISUL SUPER FI RF 4,50% 493.282.051,76 R$ 1.600 R$ 4.500 22.197.692,33 18.476
SANTANDER FC EXTRA RF REF DI 4,20% 60.857.124,77 R$ 1.840 R$ 4.200 2.555.999,24 18.201
FI BANESTES INVEST PUBLIC RF 4% 745.464.186,30 R$ 2.000 R$ 4.000 29.818.567,45 1.473
SANTANDER FIC FI TOP RF 4% 65.576.652,43 R$ 2.000 R$ 4.000  2.623.066,097 14.421
BB RF CP SUPREMO SETOR PÚBLICO FC FI 4% 48.262.104.107,88 R$ 2.000 R$ 4.000  1.930.484.164 159.883
BB RENDA FIXA LP 100 FICFI 3,80% 11.754.057.681,88 R$ 2.160 R$ 3.800 446.654.191,9 420.835
BB RENDA FIXA CP AUTOMATICO FC 3,70% 15.793.225.879,33 R$ 2.240 R$ 3.700 584.349.357,5 144.953
CAIXA FIC LIQUIDEZ RF CURTO PRAZO 3,10% 385.618.389,10 R$ 2.720 R$ 3.100 11.954.170,06 2.043
SANTANDER FIC FI JUD RENDA FIXA REFERENCIADO DI 3% 54.297.338,34 R$ 2.800 R$ 3.000 1.628.920,15 126
 BB RENDA FIXA CURTO PRAZO ESTILO FICFI 3% 5.158.534.847,19 R$ 2.800  R$ 3.000  154.756.045,42 124.948
CAIXA FIC TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA RF CP 3% 1.765.037.390,81 R$ 2.800  R$ 3.000  52.951.121,72 5.090
PRATICBEC FUNDO DE INVESTIMENTO RENDA FIXA CURTO PRAZO 3% 1.110.073,72 R$ 2.800  R$ 3.000  33.302,21 274
FI BANESTES INVESTIDOR AUTOMATICO RF CP 3% 490.169.978,40 R$ 2.800  R$ 3.000  22.363.925 7.236
SICREDI – FI INVEST RF CP** 3% 8.558.848,81 R$ 2.800  R$ 3.000  256.765,46 12.475
BRADESCO FIC DE FUNDOS DE INVESTIMENTO RENDA FIXA REFERENCIADO DI HIPERFUNDO 2,90% 2.524.381.703,74 R$ 2.880 R$ 2.900 73.207.069,41 348.409
Total 103.728.270.932,57   4.141.581.960 1.408.075

*Considerando Selic de 6,5% ao ano pelos próximos 12 meses; já descontada taxa de administração e IR de 20% sobre o rendimento
**O fundo SICREDI FI INVEST RF CP deve deixar de existir até o final deste ano, de acordo com a instituição. Mais informações abaixo, no intertítulo “o que dizem os bancos”

Atualmente há R$ 103,7 bilhões em patrimônio de cotistas alocados em fundos cuja rentabilidade é menor que o lucro do banco. Deste valor, as instituições financeiras listadas subtraem anualmente R$ 4,1 bilhões.

Vale lembrar que a taxa de administração de qualquer fundo é o pagamento que o gestor recebe pelo trabalho de alocação dos ativos, o que inclui toda sua estrutura operacional. Ela é sempre cobrada a partir do valor aplicado, e não da rentabilidade.

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É comum, por exemplo, que os melhores fundos de ações e multimercados do Brasil cobrem taxas de administração na faixa de 2% ao ano, e uma taxa de performance sobre o rendimento que exceder o benchmark (índice de referência).

Estes são fundos em que equipes de analistas precisam avaliar centenas de empresas e descobrir as melhores opções de investimento, com base em muito estudo e processos complexos. Os multimercados ainda têm equipes de analistas e gestores acompanhando os mercados de juros e moedas, tanto no Brasil quanto em diversos países do mundo. E essas pessoas terão de trabalhar duro para ganhar mais dinheiro que a média do mercado, justificando a taxa de performance.

Já no fundo DI ou de curto prazo, o gestor compra sempre os mesmos títulos e os mantém em carteira. É como se, sozinho, o investidor entrasse no site de uma corretora e comprasse o título mais simples que está disponível, o Tesouro Selic.

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Para se ter ideia da diferença, as plataformas de corretoras de valores estão repletas de fundos DI e de curto prazo de gestoras independentes que cobram taxa de administração a partir de 0,2% ao ano. Um exemplo de fundo com taxa de 0,2% ao ano é o XP Tesouro LFT (clique aqui para se cadastrar e acessá-lo). Se esses R$ 103,2 bilhões depositados nos piores fundos do mercado fossem movidos para um fundo como esse, os cotistas pagariam R$ 206 milhões em taxas, obtendo uma economia de quase R$ 4 bilhões.

O que fazer

Caso tenha alocação em um desses fundos com taxas altas, o investidor deve retirar o dinheiro alocado nos bancos e buscar a melhor diversificação para o seu patrimônio, de acordo com Marcello Popoff, assessor de investimentos da Lifetime Investimentos. Ele explica que fundos DI têm uma utilidade muito clara, mas não servem para manter a totalidade do patrimônio na maioria dos perfis de investimentos. 

“O fundo DI é um fundo cuja essência é comprar títulos de baixíssimo risco pra compor uma liquidez na carteira”, explica Popoff. A grande vantagem, portanto, é poder aplicar o dinheiro por período curto de tempo quando existe a necessidade de resgatar para, por exemplo, comprar um bem de valor elevado. “Um exemplo: o sujeito vendeu um apartamento ontem e precisa comprar outro apartamento em até seis meses”, diz. 

Quaisquer quantias cujo destino seja de mais longo prazo, como aposentadoria, poderão encontrar maior rentabilidade em outros produtos – sob a pena de menor liquidez. “Em toda alocação de capital de um cliente a gente essencialmente deixa uma parte do dinheiro nos fundos DI, que não necessariamente servirão pra resgate imediato, mas também para eventualmente aproveitar oportunidades do mercado: é dali que a gente saca para realocar”, comenta o especialista. Para garantir melhor alocação, o investidor deve buscar assessoria especializada, de forma a não deixar em fundos de baixa rentabilidade mais que o necessário. 

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O que dizem os bancos

Todas as instituições financeiras listadas na tabela acima foram consultadas pelo InfoMoney. A maioria não se posicionou.

O Sicredi afirmou que a queda na taxa Selic estimulou a instituição a criar um novo fundo DI com taxa de administração de 1% ao ano: o Invest Plus. De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, todos os associados do fundo listado na tabela acima (com taxa de 3% ao ano), estão sendo estimulados a migrar para o novo produto – e a migração deve estar completa até o final de 2018.

A BB Gestão de Recursos Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, do Banco do Brasil, disse que “as taxas de administração de seus fundos DI estão alinhadas com as praticadas pelo mercado”. 

A Caixa Econômica Federal enviou um posicionamento sobre o Caixa FIC Prático. De acordo com o banco, trata-se de um fundo “destinado a otimizar recursos de caixa de utilização no curtíssimo prazo, muitas vezes com movimentações diárias. A funcionalidade de movimentações automáticas presente nesse produto permite aos clientes uma melhor rentabilização dos seus recursos, que de outra forma ficariam “parados” na conta”.

O banco disse ainda que “possui um portfólio completo de alternativas de investimento, construído com base nas necessidades e expectativas dos diferentes perfis de investidores. Os clientes do banco contam com assessoria de uma equipe especializada e certificada para prestar esse tipo de atendimento, sendo a orientação do produto feita de acordo com os objetivos e perfil dos clientes”.

Vale lembrar que existem outras possibilidades de aplicações com liquidez diária e rentabilidade maior que a poupança. Entre elas a própria aplicação direta no Tesouro Selic e os fundos DI com taxas de administração menores que 1% ao ano.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney