Minério: depois de derrocada a US$ 85 e recuperação recente, volatilidade deve persistir em 2022

Apesar da retomada da produção de aço na China neste mês, a expectativa é de desaceleração no início de 2022

Bloomberg

Minério de ferro da Vale (Agência Vale)

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(Bloomberg) — O minério de ferro, um termômetro da economia chinesa e com influência sobre o dólar australiano, provavelmente enfrenta seu ano mais volátil. Os preços atingiram um recorde acima de US$ 230 a tonelada em maio, despencaram para cerca de US$ 85 em novembro com a promessa do governo de reduzir a produção de aço, e agora subiram 50% em apenas seis semanas.

A volatilidade deve persistir em 2022. Apesar da retomada da produção de aço neste mês, a expectativa é de desaceleração no início de 2022 devido a maiores restrições sazonais no período que antecede a Olimpíada de Inverno em fevereiro. Além disso, há muitos obstáculos a caminho: a China acelera os cortes de emissões de carbono, a produção de aço deve encolher pelo segundo ano, enquanto o endividado setor imobiliário pesa sobre o consumo de aço e crescimento.

“A demanda por minério de ferro diminuirá de forma ampla e gradual”, disse Zeng Ning, analista da CITIC Futures. “O setor imobiliário está bastante fraco, o consumo de aço deve cair e mais usinas usarão sucata para reduzir as emissões.” A corretora espera que a produção de aço da China encolha em 50 milhões de toneladas em 2022.

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O país compra cerca de 70% do minério de ferro transoceânico mundial e deve produzir 1,03 bilhão de toneladas de aço este ano, mais da metade da oferta global.

Em termos do que tudo isso significa para os preços, o UBS espera que o minério de ferro atinja a média de US$ 85 a tonelada em 2022, enquanto o Citigroup prevê US$ 96. A Capital Economics projeta US$ 70 até o fim de 2022. Em Singapura, a cotação média dos futuros é US$ 157 neste ano, e os contratos eram negociados em torno de US$ 126 na quarta-feira.

Entre os pontos positivos estão o possível estímulo fiscal na China, política monetária mais frouxa e maior apoio para o mercado imobiliário, enquanto a produção de aço pode se recuperar quando as restrições forem suspensas depois da Olimpíada de Inverno. A previsão do Macquarie é de alta para o minério de ferro no primeiro semestre de 2022 porque os atuais níveis de produção de aço na China parecem “insustentavelmente baixos”. A produção em novembro atingiu o menor nível para o mês desde 2017.

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‘Variável perigosa’

Ainda assim, existem “muitas incertezas”, disse Tomas Gutierrez, analista da Kallanish Commodities, que espera preços abaixo de US$ 100 no ano que vem. O cenário para o crescimento global é misto, com possíveis pressões inflacionárias dos preços da energia e problemas nas cadeias de suprimento. A variante ômicron do coronavírus, já identificada no país, também é uma “variável perigosa, considerando a abordagem de tolerância zero da China para a Covid”, disse o analista, em Xangai.

Para as maiores mineradoras, preços mais baixos significam margens “reduzidas, mas ainda bastante altas”, disse Gutierrez. Mineradoras de menor porte podem precisar se consolidar, e projetos retomados com os preços do minério de ferro em alta provavelmente terão que fechar, assim como vários outros este ano. Os custos de mineração podem cair para apenas US$ 15 por tonelada de minério em comparação com as cotações atualmente acima de US$ 100.

Ainda assim, ações de algumas grandes mineradoras perderam o brilho este ano. Rio Tinto e Fortescue Metals caminham para perdas anuais de mais de 10% em Sydney. No caso da Rio Tinto, seria a primeira queda desde 2015. A BHP também é negociada em em território negativo no acumulado de 2021.

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Mineradoras australianas podem enfrentar custos mais altos e preços mais baixos do produto no próximo ano, disseram analistas do UBS como Lachlan Shaw em relatório. O banco possui recomendação de venda para as ações da Rio Tinto e Fortescue Metals, e neutra para a BHP.

Os embarques globais de minério de ferro em 2022 devem mostrar certa estabilidade em relação a este ano, de acordo com a rastreadora de granéis sólidos DBX Commodities. Não há muita capacidade ociosa na Austrália, enquanto o Brasil pode registrar maiores volumes em meio à tentativa da Vale de expandir as operações e queda das exportações da Índia.

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