Propósito e impacto: por que três executivos encararam o desafio e foram para o setor público

Patrícia Ellen, Gustavo Montezano e Wilson Ferreira Jr participam de painel da Expert 2021 e falaram sobre as suas experiências na área pública

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Trocar altos salários e uma vida financeira estabilizada no setor privado para entrar na carreira pública, com  maior exposição e sujeição a diversos processos na Justiça, salários mais modestos e trâmites mais burocráticos pode parecer, a princípio, uma escolha não muito certeira.

Contudo, os maiores desafios do setor público e a possibilidade de trazer impacto social direto podem ser grandes motivadores para embarcar “nessa empreitada”.

Entre os que aceitaram ir para o setor público, estão Patrícia Ellen – secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo -, Gustavo Montezano – presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Wilson Ferreira Jr. – presidente da Vibra Energia e que foi presidente da Eletrobras (ELET3;ELET6) por quase cinco anos.

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Eles participaram do painel “A contribuição de executivos no setor público” na  Expert XP 2021 nesta quinta-feira (25) e falaram sobre os desafios e as recompensas de participarem da gestão pública.

Patrícia Ellen, que já passou pela consultoria McKinsey & Company e foi presidente da Optum no Brasil, destacou que teve a sua vida transformada por ter acesso a oportunidades de educação. E retribuir as oportunidades que teve  foi um dos motivos para ter aceitado o convite de João Doria, governador de São Paulo, para fazer parte do governo: “A razão principal para ter aceitado foi a chance de trabalhar com educação, ciência e tecnologia, apoiar startups e empreendedores e principalmente ensino técnico”.

Ela destacou três pilares para ir para o setor público – coragem, propósito e impacto – e também apontou desafios para uma maior participação de bons profissionais nas estatais ou em outras áreas do estado: “Parte da solução do problema de falta de liderança no país e no mundo passa pela questão de reduzir os desafios para a participação de bons profissionais na gestão pública, principalmente em cargos de liderança. Esses sempre foram os pontos de incômodo para mim”.

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Montezano, que já foi do BTG e Opportunity e  vem fazendo um trabalho de reorganização no BNDES, traçou ainda uma grande diferença entre trabalhar no setor público e privado.

“No setor privado, o debate se concentra em 89% sobre  o que fazer e 11% em como fazer, quando erra, muda rapidamente. No setor público, é praticamente ao contrário: há muita clareza do que fazer, mas passa cerca de 85% do tempo discutindo como fazer. Acho que essa é a grande diferença e até a beleza entre as duas experiências”, avaliou.

Ele cita o exemplo de que, quando chegou ao BNDES, o banco tinha R$ 120 bilhões de carteira especulativa de ações, contra um patrimônio de R$ 90 bilhões, algo considerado muito arriscado e que fazia ainda menos sentido para um banco de fomento. “Mas, por mais óbvio que seja, ninguém tinha feito isso no passado”, tendo assim que desenvolver em conjunto as normas básicas na instituição. Porém, com os pilares sendo bem feitos, o processo passou a ter mais fluidez, avaliou.

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Montezano aponta ainda a necessidade que está cada vez mais forte, sendo no setor público ou no setor privado, de promover ações com maior impacto social e que as chamadas elites do país, que tiveram mais acesso à educação, tem grande responsabilidade em um cenário de dificuldades sociais e com desafio social-tecnológico que o país enfrente.

“Cada vez mais os propósitos estão misturados – o CEO, o CFO também têm que alinhar o propósito com a lucratividade e a sustentabilidade. O combustível financeiro está mudando seja para o social, seja para o meio ambiente (…) As empresas que entenderem isso vão ser mais competitivas, engajarão mais e serão mais inovadoras”, avalia.

Ele ainda complementa: “O propósito unidimensional do dinheiro é muito mais pobre, muito mais de curto prazo e muito menos gratificante e empoderador. Abrace seu propósito que isso vai tornar sua empresa muito mais competitiva, seja pública ou privada”.

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Ferreira Jr., ex-Eletrobras, destacou ainda os avanços que o setor público teve para a maior profissionalização através da Lei das estatais, que foi sancionada em 2016 e que rege o procedimento de licitação nas empresas públicas e nas sociedades de economia mista.

Por outro lado, apontou que as estatais acabam tendo certas limitações de desempenho em relação às empresas privadas porque a sociedade se protege dos mal feitos com normas. Isso tem o efeito colateral, fazendo com que essas companhias sejam mais burocráticas e mais restritivas, levando a processos que demoram mais.

“Acaba havendo muito mais dificuldades de fazer com que a empresa tenha um desempenho compatível ao seu setor, na comparação com uma empresa privada sem amarras”, avalia.

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De qualquer forma, ressaltou os grandes feitos alcançados durante a sua condução na Eletrobras, que presidiu entre julho de 2016 e março de 2021. Ele renunciou ao cargo para comandar a Vibra Energia (BRDT3), ex-BR Distribuidora.

Ferreira Jr lembrou que, quando recebeu o convite para comandar a Eletrobras, durante o governo de Michel Temer, encarou “quase como uma escalação para a seleção brasileira”. “Me senti honrado, liderar uma empresa pública brasileira, que normalmente é grande, é liderar a empresa do setor”, apontou, reforçando também os grandes desafios no comando da estatal.

Segundo Ferreira Jr, foi um “choque” começar a comandar a Eletrobras nas condições em que ela estava na época, em que ela tinha um valor de mercado de apenas R$ 9 bilhões (menos de um quarto do que valia a CPFL, empresa que o executivo comandou antes de ir para a estatal) e com uma alavancagem de 9 vezes (sendo que uma companhia pode entrar em recuperação judicial com alavancagem de seis vezes).

O executivo apontou que os últimos dois governos permitiram fazer uma redução do quadro de pessoal, fazer desalavancagem, além das privatizações e, com isso, houve uma redução expressiva de custos.

“A empresa de 9 vezes alavancada passou para 2 vezes, hoje investe mais de R$ 5 bilhões por ano, projeto já aprovado para ser privatizada e saiu de R$ 9 bilhões para valer R$ 70 bilhões e não tenho dúvida de que, com a privatização, vai quase que dobrar esse valor. É uma honra para um profissional de qualquer setor poder contribuir para um valor que pertence a cada um dos brasileiros. Foi uma satisfação muito grande e é a melhor parte do meu currículo, sem dúvida nenhuma”, afirmou.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.