Bolsonaro discursa em ato a favor de intervenção militar: “Não queremos negociar nada”

Os atos geraram preocupação entre governadores, prefeitos, ministros do STF e líderes do Congresso Nacional, que veem riscos de uma escalada autoritária

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou afrontar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal neste domingo (19), ao discursar em frente ao Quartel-General do Exército, para um grupo de manifestantes que pediam intervenção militar no país, o fechamento do parlamento e o retorno do Ato Institucional número 5.

O discurso foi transmitido ao vivo pelas redes sociais do próprio presidente. Durante o ato, manifestantes gritavam “Mito” ao mandatário e “Fora, Maia”, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), principal alvo político dos bolsonaristas.

Muitos carregavam cartazes defendendo ação das Forças Armadas e pedindo a volta do “AI-5”, ato que marcou o momento mais duro da ditadura militar brasileira, em mensagens contra a democracia, proibidas pela Constituição. Em sei discurso, Bolsonaro falou em democracia, mas mais uma vez não comentou as bandeiras antidemocráticas defendidas por seus apoiadores.

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“Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. Mais que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós possamos manter nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado entre nós, que é a nossa liberdade”, disse sob aplausos dos manifestantes.

O gesto ocorre pouco mais de um mês após Bolsonaro acompanhar atos em defesa do seu governo e críticos aos demais Poderes e ir pessoalmente cumprimentar apoiadores em frente ao Palácio do Planalto, contrariando a recomendação de autoridades sanitárias nacionais e internacionais para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. A iniciativa foi repudiada pela maior parte da população, conforme indicaram pesquisas.

“Chega da velha política!”, afirmou o presidente. “Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder, Vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês”. O presidente encerrou o discurso tossindo várias vezes. Nem ele nem seus seguranças usavam máscaras.

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Os atos e as falas do presidente geraram preocupação entre governadores, prefeitos, ministros do STF e líderes do Congresso Nacional, que veem riscos de uma escalada autoritária no país, no momento em que o combate à pandemia da Covid-19 enfraquece o governo junto à opinião pública.

Um dos principais alvos das manifestações, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se manifestou pelas redes sociais: “O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo (…). Não temos tempo a perder com retóricas golpistas”.

Neste domingo, além de Brasília, houve manifestações em diferentes regiões do país, como São Paulo, Manaus e Salvador. Nesses atos, também houve críticas às políticas de isolamento social adotada por governadores e prefeitos para conter a escalada da pandemia do novo coronavírus e pedidos pela abertura do comércio.