Gasolina mais barata? Queda no preço do petróleo pode impactar seu bolso

Embora o estopim tenha sido a retaliação da Arábia Saudita para com a Rússia, o consumidor final deve sentir os efeitos das decisões tomadas pelos países

Giovanna Sutto

Bomba de gasolina

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SÃO PAULO – A segunda-feira (9) amanheceu conturbada e com as bolsas de valores mundiais operando no negativo, após a Arábia Saudita iniciar uma guerra de preços com outros produtores de petróleo, participantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+).

O país do oriente médio não conseguiu convencer a Rússia a participar dos planos de cortes na produção e, em retaliação, anunciou que praticará descontos de 20% no preço dos barris da commodity.

No Brasil, o Ibovespa caiu mais de 10%, o circuit breaker foi acionado e o clima de tensão só aumentou. Vale lembrar que a notícia chegou em um momento em que a economia global já estava fragilizada com o surto do Coronavírus. Naturalmente, para o investidor brasileiro o impacto está sendo significativo. Mas consumidores que não têm ações também devem estar atentos aos efeitos dessas baixas.

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Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV EAESP, alerta para o conjunto de fatores que estão impactando a economia global concomitantemente. “O Coronavírus já estava desacelerando a economia, e ainda é preciso acompanhar o desempenho do vírus ao redor do mundo, somado à essa divergência na Opep+, concretizada pela retaliação da Arábia Saudita em cortar o preço do petróleo, a incerteza nos mercados só aumenta”, explica.

Para Rina Xavier Pereira, economista e gerente geral Ibmec DF, se esse desentendimento entre Arábia Saudita e Rússia durar muitos dias, a “desaceleração econômica pode ser ainda maior do que o impacto do Coronavírus, com o recuo das bolsa em todo o mundo”.

Ainda, ela acredita que a Arábia Saudita não quer um colapso no mercado, mas optou por uma “tática muito agressiva de negociação de preço para que a Rússia embarque no plano de cortes na produção”.

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Combustível: queda deve ser branda

O presidente Jair Bolsonaro usou sua conta do Twitter para afirmar que a Petrobras manterá sua política de repasse de preços, o que indica que o combustível pode mesmo ficar mais barato para o consumidor final.

“Não existe possibilidade do Governo aumentar a CIDE [Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico] para manter os preços dos combustíveis. O barril do petróleo caiu, em média, 30% (US$ 35 o barril). A Petrobras continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias”, diz o post.

Apesar disso, Schiozer explica que a redução não deve ser imediata, tampouco significativa em termos de valores.

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“Tem alguns fatores envolvidos: se o preço baixo dos barris perdurar e a Petrobras mantiver sua política de repassar os preços internacionais, o valor do combustível na bomba deve cair nas próximas semanas, mas esse processo nunca é imediato. Ainda, essa queda no preço deve ser revertida em breve, não totalmente mas boa parte do preço deve ser recuperado”, afirma.

O professor lembra que o rali do dólar também tem seu peso nessa conta. “Na prática, a alta do dólar deve compensar parte da queda do preço do barril. O rali de alta da moeda está muito forte. Por isso, esse repasse da Petrobras para o consumidor final deve acontecer gradualmente, e dependendo do comportamento do dólar, o impacto líquido dessa redução será pequeno em termos numéricos”.

Rina diz, ainda, que a queda no combustível vai acontecer se essa baixa de preços durar mais tempo. “Temos que esperar e ver como a Arábia e Rússia vão se comportar esta semana. A regulação do mercado agora é ordem prioritária para que as bolsas de todo mundo não tenham uma quebra forte. Por isso, acho que essa queda no preço do combustível não acontece imediatamente”.

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Outros produtos e serviços

Segundo a economista, todo produto derivado do petróleo está sujeito a queda nos preços. “Produtos como cosméticos, remédios, produtos de limpeza, e etc, serão impactados. De fato, o preço mais baixo a curto prazo será favorável ao consumidor final, porém a médio e longo prazo teremos uma grande desaceleração econômica por maior tempo”, afirma.

Em relação ao turismo, a queda do preço petróleo em si não tem uma relação direta com as passagens aéreas, de acordo com os especialistas. “Mas, olhando pelo lado da oferta, teoricamente, os custos das aéreas podem cair considerando dois pontos: redução nos preços dos combustíveis, [já que aeronaves usam combustível derivado de petróleo] e se as empresas repassarem os novos valores para o consumidor final. Nesse cenário, as passagens devem ficar mais baratas – mas são suposições, é difícil de prever”, explica Schiozer.

Considerando isso, o turismo doméstico tende a se fortalecer, porque a demanda por viagens internacionais deve diminuir com o surto de Coronavírus se intensificando no exterior.

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“O impacto no turismo será sentido mais pela Covid-19. Itália e parte da Europa estão em alerta, todos estão segurando os preços para que não ocorra uma queda muito efetiva de preços de passagens. Acredito que a maior queda será nos preço de hotéis em lugares que dependem do turismo como renda de economia”, diz Rina, do Ibmec.

Schiozer, da FGV, finaliza afirmando que a palavra de ordem é a incerteza. “Não tem como prever muita coisa, mas a notícia positiva para o consumidor final pode ser uma pequena redução no preço do combustível”, afirma o professor.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.