Piores PMIs da história mostram que o coronavírus já atingiu em cheio a economia da China

Economistas do Morgan Stanley projetam que as exportações do país tenham caído 14% entre janeiro e fevereiro

Ricardo Bomfim

(Crédito: Pixabay)

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SÃO PAULO – Os Índices Gerentes de Compras (PMIs, na sigla em inglês) industrial, de serviços e composto da China atingiram seus piores níveis da história em fevereiro, mostrando que o impacto do coronavírus já atingiu em cheio a segunda maior economia do mundo.

No sábado, o Bureau Nacional de Estatísticas (BNS) da China mostrou que o PMI da indústria caiu de 50 pontos em janeiro para 35,7 pontos em fevereiro, menor valor já registrado na série histórica. O dado acima de 50 denota expansão e abaixo revela contração da atividade naquela área estudada.

Já o PMI Caixin/Markit de serviços caiu de 51,8 pontos em janeiro para 26,5 pontos em fevereiro. O indicador também trouxe a maior queda no volume de novos negócios desde novembro de 2008. O PMI composto recuou de 51,9 pontos para 27,5 pontos no mês passado.

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Segundo os analistas Jenny Zheng, Zhipeng Cai e Robin Xing, do Morgan Stanley, a produção industrial chinesa provavelmente caiu 8% na base anual entre janeiro e fevereiro. “De fato, dados de transporte e de consumo de energia sugerem que a produção total do país só chegou a 65% ou 70% dos níveis normais ao fim de fevereiro, depois de se manterem em torno de 50% durante a paralisação das fábricas que durou até o dia 9 daquele mês”, escrevem em relatório.

O investimento em ativos fixos (FAI, na sigla em inglês), por sua vez, deve ter caído 3% durante o mesmo período na comparação anual. A equipe do Morgan Stanley destaca que embora o FAI tenha crescido antes do feriado do ano-novo lunar impulsionado pelo mais forte investimento em infraestrutura, a melhora pode ter sido mais que revertida devido às medidas para contenção do surto do coronavírus, junto com o lento retorno dos trabalhadores migrantes em meio às restrições de viagens.

As vendas no varejo, de acordo com o banco americano, devem ter sofrido um recuo ainda maior, de 10% entre janeiro e fevereiro por conta da brutal redução na demanda desde que a doença começou a se alastrar. “Como evidência para sustentar isso, a Associação Chinesa de Passageiros de Carros mostrou que as vendas de automóveis despencaram 41% na comparação anual em janeiro e fevereiro”, aponta a equipe de análise.

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Por fim, o Morgan Stanley também estimou em 14% a retração nas exportações nos primeiros dois meses de 2020. A principal prova deste impacto é que as importações realizadas pela Coreia do Sul de produtos chineses em fevereiro encolheram em 28,8% na base anual.

Controle

Entretanto, há pelo menos um bom sinal vindo da China, que é a estabilização no número de novos casos de coronavírus por dia na província de Hubei, epicentro da epidemia, e declínio em novos diagnósticos em outras regiões.

Um dado mostra inclusive como isso pode ser refletido na economia chinesa. Apenas em fevereiro, as vendas de carros na China caíram 80% na bse de comparação mensal, a maior registrada até o momento no país. No entanto, conforme aponta a Associação Chinesa de Passageiros de Carros, as vendas médias diárias melhoraram no fim do mês comparado às três primeiras semanas.

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Matthew Hope, economista do Credit Suisse, avalia que o risco maior de proliferação do vírus não parte mais da China, mas dos outros países que foram impactados. “A Europa pode não ser capaz de fechar cidades como a China fez, o que facilitará a disseminação”, destaca.

O impacto disso na demanda por commodities, embora ainda não seja quantificável, seria muito relevante, especialmente para cobre e alumínio, que sofreriam com a menor venda de carros e a desaceleração na construção civil globalmente.

Por outro lado, o minério de ferro – que é muito importante para o Brasil – e o carvão mineral deverão ser mais resilientes, uma vez que o investimento em infraestrutura na China deve seguir firme. Há esperança também que a mudança da estação, com o fim do inverno e chegada da primavera no hemisfério norte, desacelerem o avanço do coronavírus. “Se a nova doença se comportar como outros vírus, os casos devem retroceder no verão.”

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.