IPCA registra menor valor para janeiro desde 1994: isso pode abrir de novo a porta para corte de juros?

Apesar da inflação oficial ter vindo abaixo do esperado, economistas ainda acreditam que é muito cedo para mudar a visão sobre a Selic

Lara Rizério

Fachada do Banco Central do Brasil

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SÃO PAULO – Na esteira de um comunicado bastante “hawkish”, indicando que o ciclo de corte de juros está próximo do fim logo após a cortar a Selic de 4,5% para 4,25% ao ano, o Banco Central apontou que possíveis alterações de visão poderiam acontecer dependendo dos dados econômicos.

Desta forma, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, divulgado nesta sexta-feira (7) e primeiro grande indicador revelado após a reunião do Copom, poderia dar subsídios para que o comitê pensasse duas vezes antes de fechar totalmente as portas para um corte de juros.

Afinal, a  inflação medida pelo IPCA apresentou expansão de 0,21% em janeiro de 2020 (4,19% em doze meses), muito abaixo das expectativas do mercado, de 0,35% segundo o consenso Bloomberg. A alta também foi a menor para o primeiro mês do ano desde o início do Plano Real, em 1994.

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O IPCA de janeiro foi o primeiro a levar em consideração os pesos da nova pesquisa de orçamentos familiares e teve como principal contribuição negativa a categoria de higiene pessoal, que apresentou deflação de 2,07% no mês, enquanto as categorias que mais contribuíram positivamente foram habitação e vestuário.

“O aumento nos preços das carnes, que vinha acontecendo de forma ininterrupta desde meados de 2019, foi suavizado em janeiro, o que contribuiu para a contenção do índice de inflação de alimentos no mês”, destaca a equipe de análise da XP Investimentos. Além disso, os núcleos da inflação, que desconsideram os níveis mais voláteis da pesquisa, também tiveram redução significativa.

As carnes apresentaram queda de 4,03% no IPCA de janeiro, contribuindo com o maior impacto negativo no índice do mês. O transporte por aplicativo, cujos preços foram coletados pelo robô criado pelo IBGE, recuou 0,54%, com a maior queda em São Paulo (-2,89%) e maior alta em Goiânia (1,99%), segundo o instituto.

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Como reação, os principais contratos de juros registram baixa durante toda a sessão desta sexta-feira.

“Em janeiro, o IPCA mostrou uma desaceleração surpreendentemente significativa. Uma parte disso foi devido a uma desaceleração mais acentuada na inflação de alimentos em casa, devido ao esgotamento mais rápido do que esperado dos choques do quarto trimestre. Além disso, houve uma surpresa com a deflação do item higiene pessoal”, afirma o Bradesco BBI.

Em suma, apontam os economistas do banco, além da surpresa de janeiro e da dissipação dos recentes choques inflacionários, o efeito desconhecido do coronavírus também deve ser observado a curto prazo. “Por enquanto, mantivemos nossa estimativa do IPCA para 2020 em 3,7%, mas com um claro viés de queda”, avaliam.

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Contudo, apesar do resultado abaixo das expectativas, economistas ainda mostram ceticismo se ele pode ser um condicionante para o BC cortar juros. “Acreditamos que ainda é cedo para dizer que o Banco Central possa voltar a cogitar a possibilidade de continuar reduzindo a taxa Selic em suas próximas reuniões”, avalia a XP.

Os economistas destacam que, em seu último comunicado, o BC fez questão de dar mais ênfase às perspectivas de inflação para 2021. Assim, o número de janeiro, aponta a XP, não deve ser um fator determinante para que o BC altere a sua visão de que a interrupção do processo de flexibilização monetária é adequada.

“Na nossa visão, a taxa Selic deve permanecer em 4,25% até o primeiro trimestre de 2021, ainda que a pressão para a continuidade do ciclo de corte de juros se intensifique em caso de mais surpresas inflacionárias e de deterioração da atividade econômica”, ressaltam os economistas.

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Na mesma linha, Flávio Serrano, economista-chefe do Haitong, destacou à Bloomberg que a política monetária não é feita com base em inflação mensal e desaceleração do IPCA divulgado já era esperada e, ainda que tenha surpreendido, não é argumento para questionar a decisão do Copom.

Para Serrano, vale a pena parar e avaliar e, se eventualmente a economia não estiver se recuperando, voltar a reduzir taxa de juros. “Mas  inflação dos núcleos vai subir gradualmente, indicando 3,75% para o ano que vem”.  Para o economista, aliás, o próximo passo será de alta de juros no 1º trimestre de 2021, ressalta Serrano.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.