Cielo tem “trimestre para esquecer”, mas ação tenta reagir após cair 15% em janeiro

Resultados abaixo das estimativas podem alimentar desconfiança do mercado em relação ao papel

Paula Zogbi

Prédio da Cielo

Publicidade

SÃO PAULO – Vista por analistas como resultado da aceleração nos custos e da deterioração na receita de antecipação de recebíveis, a queda de 49,7% no lucro da Cielo em 2019 em relação ao ano anterior pode punir a empresa do ponto de vista de reação do mercado, de acordo com a equipe da XP Research.

Além dos resultado, a empresa divulgou na noite de segunda-feira (27) um memorando de entendimentos com seus controladores, Banco do Brasil e Bradesco, estabelecendo os critérios de remuneração dos bancos para a prestação de serviços de captação, indicação e manutenção de estabelecimentos comerciais para a empresa – o uso do balcão. Os bancos serão remunerados em  10 pontos base sobre o volume elegível capturado pela Cielo por um ano. O acordo tem efeito retroativo a partir de 1 de janeiro de 2020.

A mudança em relação ao contrato anterior, segundo Paulo Caffarelli, CEO da empresa, é esse estabelecimento de volume elegível. Significa, ele diz, “que o pagamento vai ser de 0,1% sobre o volume elegível dentro de um critério de rentabilidade mínima”. Se não atingir essa rentabilidade mínima, não há pagamento para os bancos. “Antes a fee era em função do volume negociado”, disse o executivo.

Continua depois da publicidade

O analista Domingos Falavina, do JPMorgan, escreveu em relatório que o último balanço é “um trimestre para esquecer”, mas que esse novo acordo pode significar alívio para a companhia. Na manhã desta terça-feira (28), primeiro pregão após a divulgação dos resultados, CIEL3 chegou a ser negociada com queda de 6,61% por volta das 10h30, mas logo em seguida chegou a atingir alta de 1,5%. Às 11h2, o movimento havia praticamente zerado para alta de 0,14%. No ano, o papel ainda acumula queda de 15,55%.

Mas só isso pode não ser suficiente para criar confiança na adquirente. “Embora a empresa afirme consistentemente que o foco não é o lucro de curto prazo, este é o segundo trimestre consecutivo com ganhos consideravelmente abaixo do consenso, no intuito de ganhar participação de mercado”, lembra a XP. Por isso, a reação do mercado deve ser negativa. Os resultados foram abaixo das expectativas das casas de análise.

O lucro líquido da empresa de adquirência ficou em R$ 1,58 bilhão e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ficou em R$ 1,79 bilhão, 50,6% abaixo de 2018. Enquanto isso, a receita líquida da companhia caiu 17,8% em 2019, para R$ 5,3 bilhões. Considerando apenas o quarto trimestre, o baque no lucro líquido foi de 68% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Continua depois da publicidade

Para o Morgan Stanley, o volume (que aumentou 9%) foi positivo: os esforços para cortar preços se refletiram em uma redução na perda de market share. Segundo Caffarelli o share foi mantido em 2019 em 42% do mercado. “Mas o yield da receita contraiu novamente neste trimestre, destacando a compressão significativa nos preços que a empresa teve de fazer para se manter competitiva”, disse o Morgan. Com custos e despesas crescendo mais rapidamente que as receitas e fraco crescimento no segmento de micro e pequenas empresas, a visão do banco não é positiva.

O Itaú BBA colocou o rating da empresa sob observação mediante o período de dificuldade. Os analistas escreveram que vão esperar “maior clareza sobre os prospectos da companhia para 2020”.

Desafios

E seu release, a Cielo justificou a queda da receita à “pressão no preço médio decorrente do ambiente competitivo, efeitos parcialmente compensados pelo aumento do volume capturado e pelo crescimento da receita relacionada ao produto pagamento em dois dias”. Em teleconferência, Caffarelli admitiu que 2020 deve ser mais um ano de “margens apertadas”.

Continua depois da publicidade

Mesmo com a competição acirrada, os executivos afirmam que os preços nos segmentos de grandes contas e varejo já estão adequados. “Não vamos mais atrás de clientes a qualquer custo”, disse Gustavo Sousa, CFO da companhia. Já na base da pirâmide, de microempreendedores, ele afirma que haverá “limitação” no subsídio de aparelhos (que hoje está em 70% do valor da maquininha na média, segundo ele, ante 30% em 2018) – em outras palavras, a batalha de preços com empresas como PagSeguro e Stone deve ser amenizada.

Em vez disso, para contornar o problema, a empresa segue focando em aumentar o número de clientes, com vendedores nas ruas e mudanças na estrutura de metas como alguns dos elementos dessa receita. O peso da satisfação do cliente nas metas dos funcionários era de 5% e foi atualizado, em 2019, para 30%. “Isso se refletiu em uma mudança significativa no NPS [Net Promoter Score, uma métrica de satisfação do cliente]”, disse o CEO. “É um dogma: a Cielo vai ter o melhor serviço de atendimento ao cliente de adquirência do país. Para nós, quando o produto é commodity, o atendimento tem que fazer a diferença”, completou.

JCP

A companhia também informou o pagamento de juros sobre capital próprio complementares no montante de R$ 24,2 milhões. O pagamento será feito aos acionistas em 13 de fevereiro com base na posição acionária de 30 de janeiro, ou seja, as ações passam a ficar ex-JCP em 31 de janeiro.

Continua depois da publicidade

Seja sócio das maiores empresas da Bolsa sem pagar corretagem. Abra uma conta na Clear. 

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney