Administração de diferenças culturais é trunfo para atuar com Direito Internacional

Brasileira Silvia Fazio foi eleita por publicação estrangeira uma das 100 melhores profissionais da área na Inglaterra

Tércio Saccol

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SÃO PAULO – Há quase duas décadas, o interesse em conhecer outros idiomas e culturas já traduzia o que seria a potencial – e bem sucedida – carreira da brasileira Silvia Fazio, hoje uma das cem melhores advogadas da Inglaterra.

Segundo a profissional, desde seu período de estudos na USP (Universidade de São Paulo), as atenções estavam voltadas para o mundo oferecido pelo Direito Internacional, que hoje lhe rendeu reconhecimento no exterior. “Desde que comecei a estudar Direito, procurei trabalhar em escritórios que tivessem clientes e uma projeção internacional”, exalta

O ranking que cita a brasileira, divulgado pela publicação The Lawyer – The Hot 100 2011, reúne os profissionais do Direito destacados nos tribunais britânicos durante 2010.

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A avaliação de Silvia feita pelo periódico é generosa. “Não são muitos os advogados que podem dizer que são responsáveis por triplicar uma área de negócios do seu escritório. Mas, como a sócia corporativa da Collyer-Bristow, Silvia Fazio é muito modesta para afirmar isso, desde que estabeleceu o “Brazilian Desk” e o “Italian Desk” na companhia, o faturamento internacional da empresa cresceu a ponto de atingir 25% do faturamento total”, exalta.

Trajetória
Silvia se formou e foi para a Europa para cursar o LLM em Direito Internacional Privado pela universidade de Heidelberg, na Alemanha. Depois, foi convidada para trabalhar em um escritório na Itália e, em 1999, partiu para Londres.

Em 2005, Silvia tornou-se a primeira brasileira a entrar para o grupo de sócios de um escritório de advocacia britânico. À frente do escritório Collyer-Bristow, trabalhou no desenvolvimento da área de direito corporativo internacional. No ano passado, o Collyer-Bristow foi considerado um dos melhores escritórios de direito corporativo internacional.

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A advogada destaca as inúmeras dificuldades enfrentadas para alcançar o reconhecimento em um mercado tão complexo e competitivo. “Encontrei inúmeras diferenças entre os países em que trabalhei (Itália, Brasil e Inglaterra). Com relação ao sistema jurídico, existem inúmeras diferenças entre os sistemas de origem civilista (baseados em Códigos escritos), como o Brasil, e os de origem na “Common Law”, como os países de origem Anglo-saxã, como é o caso da Inglaterra. Trabalhar na Inglaterra vindo de um país baseado no sistema civilista é quase como ter de aprender tudo de novo”. 

Mercado e formação
Para a advogada, o ensino universitário brasileiro ainda deve muito em algumas áreas para o aluno. “Senti muita falta de ter tido mais debates orais, grupos de estudos e aulas para pequenos grupos. Quando me confrontei com esse tipo de iniciativa em Heidelberg e em Cambridge (centros de ensino), percebi que o estudante ‘cresce’ e ‘amadurece’ muito mais se lhe for dada a chance de estudar sozinho, através da leitura individual, seguida por debates com pequenos grupos. No Brasil, o estudante ainda é obrigado a seguir aulas para grandes grupos, onde deve ser submetido à visão do professor e escutar por horas, sem poder argumentar muito ou expressar sua opinião”.

Silvia sugere que os estudantes interessados em aderir ao Direito Internacional e de ouitras áreas procurem tomar o quanto antes a decisão sobre a área que desejam seguir. “Isso permitirá ao estudante começar a se especializar mais cedo na carreira”, aponta

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A advogada explica que o mercado de Direito Internacional está cada vez mais competitivo, o que acaba exigindo um nível ainda maior de qualificação dos novos profissionais. “Aqui na Inglaterra, por exemplo, vemos cada vez mais uma ‘industrialização’ do Direito. Com a entrada em vigor de nova legislação, teremos escritórios de advocacia quotados em bolsa e recebendo investimentos externos de fundos de ‘private equity’”, relata.

Silvia afirma ainda que identifica recentemente um mercado mais disputado, e que vai demandar maior foco nos próximos tempos. “Teremos uma série de novos participantes no mercado, tais como escritórios de advocacia virtuais e provedores de serviços de direito não tradicionais, tais como provedores de advogados temporários para departamentos jurídicos de empresas. Além disso, grandes escritórios buscarão ainda mais reduzir os custos, realizando parte de seus serviços em outros países”.

Otimismo
Mesmo com as deficiências na formação e a competitividade do mercado, Silvia elogia e incentiva a busca de mais brasileiros por colocação e reconhecimento internacional. “Sou uma grande admiradora dos jovens brasileiros, acredito que sejam muito dedicados e ambiciosos positivamente. Acredito que seja difícil encontrar tanto entusiasmo por parte da carreira como se vê hoje entre os jovens profissionais brasileiros”.

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Silvia acrescenta que a visão sobre o brasileiro está melhorando gradualmente no mundo todo, e que o profissional formado no Brasil está cada vez mais valorizado. “O Brasil, hoje em dia, é visto como a terra prometida, todas as atenções estão voltadas ao País. Acredito que o investidor estrangeiro direto que analisa o país pela primeira vez acaba se surpreendendo muito com o nível de sofisticação do mercado”, analisa.