Fim da recessão os espasmos de crescimento?

Num país com imenso potencial de crescimento como o Brasil, pela diversidade e pela diferenciação na sua estrutura produtiva, sempre haverá alguma região ou algum setor produtivo em expansão.

Equipe InfoMoney

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Paulo Haddad é professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento  do governo Itamar Franco

Nos últimos três meses houve a divulgação de um conjunto de indicadores que têm dado a sensação de que a recessão econômica no Brasil ficou para trás. Os níveis de emprego, de compras no varejo, de superávit na balança comercial inflexionaram positivamente. Esses e outros resultados têm de ser analisados com extremo cuidado para que não sejam vendidas ilusões para uma população desalentada.

Como termina uma recessão econômica que se aprofundou durante os últimos três anos? São pelo menos três indicativos de que ela pode estar, eventualmente, chegando ao fim. Em primeiro lugar, é preciso que haja uma reversão de expectativas entre os agentes econômicos. Para os trabalhadores, essa reversão se expressa pela redução no período de desemprego e pela ampliação do campo de oportunidades. Para os empresários, quando aumenta o número de encomendas e de vendas.

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Em segundo lugar, torna-se necessário que os níveis de incertezas relativos ao futuro político-institucional e às regras do jogo prevalecentes no sistema econômico sejam reduzidos. A maioria das decisões de investimento e de consumo dos agentes econômicos depende de se eliminar a percepção de futuros caóticos ou totalmente imprevisíveis para a trajetória econômica. Esses agentes são racionais na formação de suas expectativas e aprenderam que não se pode confiar nos compromissos de governos sem legitimidade política e contaminados pelo vírus da corrupção administrativa.

Finalmente, um ciclo de expansão econômica não é implementado sem que seja precedido de um conjunto de reformas microeconômicas e institucionais que favoreçam a mobilização persistente das potencialidades econômicas, a eliminação dos pontos de estrangulamento e a inserção competitiva na economia global. Esse ciclo não se confunde com eventuais espasmos de crescimento da economia. Se esses espasmos forem de baixa intensidade e não apresentarem taxas de expansão superiores ao crescimento demográfico, os valores per capita serão negativos sinalizando que a recessão ainda está incomodamente viva. Num ciclo de expansão, a economia cresce consistentemente duas ou três vezes a mais do que o crescimento da população.

Num país com imenso potencial de crescimento como o Brasil, pela diversidade e pela

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diferenciação na sua estrutura produtiva, sempre haverá alguma região ou algum setor produtivo em expansão. Tudo dependerá da conjuntura econômica global, da estabilidade macroeconômica, da promoção industrial de setores dinâmicos, do uso adequado dos instrumentos e dos mecanismos de política econômica, etc. É muito difícil que tudo isso esteja fora do prumo simultaneamente.

Assim, algum crescimento virá ao se mobilizarem segmentos e dimensões desse gigante econômico. Num trimestre, poderá ser a expansão induzida pelos efeitos de espraiamento da cadeia produtiva do agronegócio. Em outro trimestre, a expansão poderá ser alavancada pelo aumento do consumo familiar com sua renda disponível incrementada pela redução do imposto inflacionário e reforçada pela redistribuição de recursos reprimidos de fundos financeiros institucionais. Nesse contexto de uma economia que não apresenta suas veias abertas, vai se configurando um comportamento de conformismo de nossas lideranças políticas e comunitárias com o status quo.

Assistem ao declínio econômico, político e moral da nossa pátria, acomodadas nas benesses das políticas sociais compensatórias, na cornucópia da riqueza financeira, nos privilégios do acesso subsidiado ao Tesouro Nacional e aos ganhos velados e espúrios da representação política. Mas quem se importa?

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