Política analógica e a convergência digital

  Em eleição para o governo do Amazonas, o eleitor não escolheu nenhum candidato: foram cerca de 50% de abstenções, votos brancos e nulos. Alerta para o Brasil 2018.

Equipe InfoMoney

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Alfredo MR Lopes é jornalista e escritor

As eleições do Amazonas são o retrato em preto e branco da mudança que se opera a duras penas no país. Talvez não saibamos para onde ir, mas já sabemos o que não queremos fazer ou reviver, disseram os eleitores deste Estado. Com 779.395 votos (59,27%), Amazonino Mendes (PDT) foi eleito para o quarto mandato, enquanto seu ex-pupilo, Eduardo Braga, cravou 535.598 votos (40,73%), em sua segunda derrota em busca da terceira governança. Ambos, porém, perderam para a soma de votos nulos, brancos e abstenção, que totalizaram 1.012.349. Foram 599.883 faltosos (25,78%). Em branco, 70.360 (4,07%) e 342.106 (19,80%) foram às urnas para anular seu voto. Em 20 anos de mandato, Braga e Amazonino nadaram de braçadas na abundância de recursos em tempos áureos da economia do polo industrial.  Na memória da maioria da população, entretanto,  restou a desaprovação. Foram governos analógicos, no sentido da semelhança de condutas, com um jeito de fazer política que o Brasil não quer mais. E pela crise que desindustrializa a economia do Estado, salta aos olhos que pouco ou nada fizeram para preparar o Amazonas para a convergência da tecnologia digital, simbolizada pelo smartphone e pela impressora 3D,  ou ainda para a Quarta Revolução Industrial, da nanobiotecnologia.

É previa do que pode acontecer no Brasil em 2017, talvez em pior escala, com conseqüências imprevisíveis. Fruto do desencanto do eleitor/cidadão com os partidos, os políticos, o Congresso, a gestão da coisa pública. Mas o mundo político parece que ainda não saiu de seu autismo.

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 Nenhum dos candidatos pôs em pauta na campanha as causas e as sequelas socioeconômicas de uma indústria instalada no Amazonas que se esvazia a cada dia. Os incentivos perdem sua atratividade em comparação com a política fiscal do Paraguai, e a ausência de uma política industrial com suporte adequado de infraestrutura. Isso retira do Amazonas a competitividade de seus produtos, que não resistem às barreiras tarifárias internacionais nem a inteligência comercial dos produtos asiáticos. De lá, com os investimentos em P&D, veio a convergência tecnológica, que traz em seu bojo mudanças avassaladoras na indústria de novos produtos baseada no conhecimento embutido. Por isso, pouco ou quase nada do que se produz hoje em Manaus não existirá em menos de uma década. Essa casa, sem investimento em tecnologia, e prestes a ruir, ninguém arruma em 15 meses. É mais fácil arrumar uma casa de repouso para os paradigmas políticos que estarão em jogo, principalmente, de olho em 2018. 

Os arranjos políticos que se revezam no Amazonas nos últimos 20 anos não foram capazes de bater à porta da Corte Suprema para exigir que a riqueza aqui gerada fosse aqui aplicada, mecanismo que a Constituição exige ao liberar o uso da renúncia fiscal para redução das desigualdades regionais. Confisco é incompatível com prosperidade.  Sequer foram capazes de exigir um modelo de gestão para o Centro de Biotecnologia da Amazônia, um mísero CNPJ para usar seus sofisticados serviços de laboratórios para desenvolver clones de óleo de palma com propriedades para a indústria de plástico desenvolver o plástico verde, já disponível na Embrapa Instrumentação de São Carlos. Adotar esse insumo evitaria a demissão de 8 mil operários desse setor, que não consegue competir com a concorrência chinesa. Há 20 anos, desde FHC, a União confisca 80% dos recursos de P&D e das taxas da Suframa, e desde 2012, o ministério de Ciência e Tecnologia não repassa um centavo para projetos de pesquisa no Amazonas.

Enquanto isso, os governos estaduais utilizam as verbas para o interior, atualmente R$ 1 bi a cada ano, para custeio da máquina pública ou fazer assistencialismo eleitoral. E o Amazonas, rico em receitas e pródigo em recursos naturais, e com as menores taxas de transparência no uso de verbas públicas, tem 10 municípios entre os 50 piores IDHs do Brasil. Certamente, não há uma recusa elaborada em base de informações tão revoltantes entre os eleitores que ganharam as eleições, posto que nossa escola é precária, não permite um protesto assim tão explícito. Entretanto, a intuição de cada um e o espelho do cotidiano, sem emprego, oportunidades, serviços públicos de qualidade à vista de tanta abundância, não viu nesta liturgia analógica os indicadores da convergência tecnológica da mudança…

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