Vale registra prejuízo líquido de R$ 5,628 bi, acima do esperado pelo mercado

No quarto trimestre do ano anterior, lucro líquido básico da companhia havia atingido R$ 8,93 bilhões

Lara Rizério

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*Atualizada às 20h18 (horário de Brasília)

SÃO PAULO – A Vale (VALE3, VALE5) divulgou seu resultado para o quarto trimestre de 2012 nesta quarta-feira (27), revelando um lucro líquido básico de R$ 4,10 bilhões, excluindo efeitos de itens de caixa não recorrentes. Entretanto, ao levarem em conta estes itens no lucro do quarto trimestre, o lucro se torna um prejuízo de R$ 5,628 bilhões, mais de duas vezes acima das perdas de U$ 1 bilhão esperadas pelas projeções compiladas pelo Portal InfoMoney. Segundo a consultoria Economática, o prejuízo do quarto trimestre é o maior da história da mineradora.

As perdas devem-se ao impairment (perda contábil) de ativos (R$ 8,211 bilhões), impairment de investimentos (R$ 4,002 bilhões), perda na venda de ativos (R$ 268 milhões), câmbio e perdas monetárias (R$ 661 milhões), imposto de renda diferido do impairment (R$ 3,319 bilhões) e marcação a mercado das debêntures participativas (R$ 93 milhões). No total, entretanto, as perdas contábeis da companhia somaram um total de R$ 12,21 bilhões. Só em Onça Puma, as perdas foram de R$ 5,77 bilhões. 

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Veja o impairment de ativos da Vale no quarto trimestre: 

Impairments R$ milhões
Ativos 8.211
Onça Puma 5.770
Ativos de carvão da Austrália 2.139
Ativos de óleo e gás 196
Vermelho 106
Investimentos 4.002
Hydro – Participação de 22% 2.026
CSA 1.804
VSE 172
Total 12.213

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) atingiu R$ 9,09 bilhões, bastante inferior ao R$ 13,39 bilhões obtidos no mesmo trimestre do ano anterior. As despesas financeiras líquidas, por sua vez, totalizaram R$ 1,637 bilhão, contra R$ 1,845 bilhão no terceiro trimestre. Já a receita financeira foi de R$ 150 milhões, 15,7% menor do que R$ 178 milhões no terceiro trimestre. As despesas financeiras diminuíram para R$ 1,152 bilhão de R$ 1,398 bilhão no trimestre passado.

Confira a média das projeções dos bancos e corretoras:

Projeções (em RS$ milhões) 4T12 4T12E* 4T11  4T11/4T12 4T12/4T12E*
Ebitda  9.095 7,396   +22,97%
Margem Ebitda  – 43,4% 41,7%  -1,7 p.p.
Lucro Líquido  -5.628 -2.036,1 4.672   -176,42%
*Projeções dos bancos BES, HSBC, Itaú BBA Santander e Citi, com exceção de margem Ebitda, que inclui apenas estimativas do Itaú BBA e Santander, e Lucro, que não inclui expectativas do HBSC, já que eles não revelaram projeção de lucro

Receita operacional aumenta, mas receita líquida recua 10%
A receita operacional no quarto trimestre totalizou R$ 24,707 bilhões, subindo 11,1% em relação ao 3T12. O aumento ocorreu principalmente devido ao efeito de maiores preços, representando um acréscimo de R$ 5,396 bilhões, tendo sido acarretado, sobretudo, pelo minério de ferro – R$ 5,969 bilhões – enquanto maiores volumes de vendascontribuíram com R$ 754 milhões. Por outro lado, menores embarques e preços de pelotas tiveram um impacto negativo de R$ 561 milhões.

“Os preços de minérios e metais caíram de forma generalizada em 2012, afetando nossa receita que totalizaram R$ 90,953 bilhões, 10% menor do que no ano anterior”, afirmou a companhia. A redução de preços de minério de ferro, R$ 16,472 bilhões, pelotas, R$ 3,515 bilhões, e níquel, R$ 1,876 bilhão afetaram negativamente a receita em comparação a 2011, parcialmente compensada pela variação cambial de R$12,083 bilhões.

Dentre as vendas totais, a Ásia representou 52,3% do total destinado, ligeiramente acima dos 51,5% do último trimestre, enquanto que as Américas aumentaram sua participação, subindo para 27,2% no 3T12 em relação a anteriores 26,3%. Esta alta, segundo a mineradora, se atribue ao aumento de vendas para o Brasil.

Por outro lado, as vendas para a Europa perderam parte da participação com 18,0% contra 19,0% no trimestre anterior, enquanto a receita das vendas para o Oriente Médio representou 1,3% no período ante 2,2% no período anterior. Individualmente, a China foi responsável por 32% do total da receita operacional, seguida pelo Brasil, com 21,4%. Japão, Alemanha, Coreia do Sul e Itália completam o ranking, com participações respectivas de 11,2%, 6%, 4,7% e 2,6%.

Dívida líquida
Em relação ao endividamento, a dívida total foi de US$ 30,546 bilhões em 31 de dezembro de 2012, com um aumento de US$ 1,335 bilhão dos US$ 29,211 bilhões em 30 de setembro de 2012. Para fechar uma diferença temporária entre os usos e fontes de recursos, foram utilizados US$ 2,5 bilhões da posição de caixa.

De acordo com a companhia, o desempenho do fluxo de caixa tende a melhorar no curto prazo, como resultado do pagamento inicial de US$ 1,9 bilhão referente à transação de ouro, os ajustes para preços provisórios dos embarques de minério de ferro de mais de US$ 700 milhões e maiores preços de minério de ferro nos dois primeiros meses do ano.

A alavancagem, por sua vez, medida pela relação dívida total/Ebitda ajustado teve alta para 1,6 vez em 31 de dezembro, ante 1,32 vez no trimestre anterior. Entretanto, a relação dívida total/valor da empresa caiu ligeiramente para 22,5% em 31 de dezembro de 2012 de 25,3% em 30 de setembro de 2012.

Custo dos produtos vendidos
No quarto trimestre de 2012, os custos com produtos vendidos (CPV) foram de R$ 13,288 bilhões, após o ajuste pelo efeito de maior volume (R$ 156 milhões), variação cambial (R$ 31 milhões) e depreciação (R$ 400 milhões), com um aumento de R$ 401 milhões se comparados com o terceiro trimestre de 2012. O principal fator responsável foi o aumento do custo com frete marítimo (R$ 504 milhões), que totalizou R$ 800 milhões no 4T12. O custo de frete reflete o custo operacional dos navios próprios.

Entretanto, a expectativa é para reduzir os custos. “Estamos buscando diversas opções para reduzir os custos, incluindo fechamento de minas e de plantas não rentáveis, renegociação de contratos com fornecedores de serviços e mudanças em suprimentos, esperando que possam gradualmente surtir efeitos materiais”, afirmou a companhia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.