Enquanto Citi e e Credit rebaixam, JP e BB estão menos pessimistas com Petrobras

BB Investimentos veem melhores resultados após reajuste dos combustíveis, enquanto Credit, Citi e XP vê piora da governança corporativa

Lara Rizério

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SÃO PAULO –  O reajuste de combustíveis e o anúncio de que a Petrobras (PETR3;PETR4) adotará uma nova metodologia de preços – contudo, não revelada – mexeu fortemente com as ações da companhia nesta segunda-feira (2) e levou a opiniões bastante distintas sobre o que esse novo passo pode significar para a petrolífera. 

Uma das casas mais pessimistas logo após o anúncio foi o Credit Suisse, que rebaixou a recomendação para as ações da petrolífera  que passaram de outperform (desempenho acima da média do mercado) para underperform (desempenho abaixo da média do mercado), ou recomendação equivalente a venda, cortando o preço-alvo para os ADRs (American Depositary Receipts) da companhia de US$ 25,00 para US$ 14,00. 

E destacam que, dentre três pontos positivos para a companhia e que levaram o banco a aumentar a sua recomendação no início do ano – a perspectiva de maior crescimento na produção, a credibilidade da gestão, com as primeiras realizações para “promover uma virada” na companhia e, por fim, a possibilidade de uma atitude mais benigna da companhia para promover um aumento de preços – apenas um ainda está em voga: o aumento da produção.

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Enquanto isso, o Citigroup também reduziu a recomendação para os ativos da companhia, que passou de compra para neutra, mas manteve o preço-alvo dos ADRs. Os analistas Pedro Medeiros e Fernando Valle apontam que o reajuste de 4% para a gasolina e de 8% para o diesel desapontou os investidores, que tinham uma expectativa maior de alta para os combustíveis, enquanto a política secreta de preços fica mantida. A expectativa dos analistas era de altas respectivas de 5% e 10% nos preços de combustíveis. 

Medeiros e Valle ressaltam ainda que o desempenho dos papéis da companhia em 2014 será guiado por diversos fatores. Enquanto há a expectativa da produção, as perspectivas para a Petrobras dependem ainda de decisões orçamentárias e do cenário eleitoral. A falta de detalhes também frustra os investidores, que esperam uma visibilidade maior sobre o fluxo de caixa e para a rentabilidade dos projetos futuros. 

Como destacam os analistas, os próximos anúncios de reajuste de preços podem levar a uma nova avaliação do rating da companhia. A expectativa é de que haja mais dois reajustes de 4% em 2014, sendo um em abril e outro em novembro.  

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A XP Investimentos também ressaltou o seu maior pessimismo com as ações da companhia, destacando que ela ainda sofre forte interferência governamental, mesmo com a gerência mais técnica e toda a necessidade maior governança corporativa. Com a inflação ainda resiliente e uma Selic de 11%, os analistas da corretora não esperam que seja introduzida uma metodologia com reajuste de preços automáticos. 

“Assim, a companhia permanecerá sendo afetada, destruindo valor para os acionistas, pois diesel representa 42% da composição das receitas com venda de derivados e gasolina representa 24%. Esses aumentos trarão pequenas reduções de prejuízos nos resultados da companhia, porém a tese de investimento com relação a Petrobras não se modifica, gerando um total desconforto com relação as ações, inclusive recomendamos venda para as ações da companhia. E dentre as duas classes de ações, as ONs tenderão a sofrer mais, pois não se vislumbra o retorno do pagamento de dividendos para esta classe de ações”, ressalta a equipe de análise.

Para analistas do Itaú BBA, “ninguém sabe exatamente quais são os indicadores ou quais são os gatilhos ou períodos para as revisões, deixando espaço para potenciais manobras nos preços”. “Nós nos questionamos o que realmente mudou”, disseram os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, em nota a clientes. 

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O Deutsche Bank também se mostrou insatisfeito com o patamar do reajuste anunciado. “O aumento está abaixo do que a Petrobras precisa para fechar o ‘gap’ com os preços internacionais e acabar com perdas, e o mercado deve temer que essa pode ser a última elevação de preços até a eleição presidencial de 2014”, afirmou o analista Marcus Sequeira, do Deutsche Bank, em relatório.

BB Investimentos e JPMorgan: menor pessimismo
O reajuste de combustíveis foi visto com bons olhos pelo BB Investimentos, que elevou levemente o preço-alvo para as ações da companhia após o reajuste. A analista Carolina Flesch elevou o preço-alvo para as ações PETR3 de R$ 23,00 para R$ 23,50 e de R$ 24,50 para R$ 25,00 dos ativos PN, ambos com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado). 

“Acreditamos que o aumento no preço dos derivados anunciado pela Petrobras contribuirá positivamente para os próximos resultados da companhia, mais especificamente a partir do próximo ano, uma vez que no resultado do quarto trimestre somente um mês será impactado. Dessa forma, revisamos os preços para os papéis da companhia”, ressaltou a analista do BBInvestimentos.

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Enquanto isso, o JPMorgan manteve a recomendação para os ativos da petrolífera para neutro e elevando o preço-alvo para as ações da petrolífera, de R$ 25,00 para R$ 26,00 para os ativos ordinários e de R$ 26,00 para R$ 28,00 dos papéis preferenciais. Enquanto isso, o target para os ADRs ON da companhia saíram de US$ 21,00 para US$ 22,00, enquanto os ADRs PN passaram de US$ 22,00 para US$ 23,00. 

Os analistas do banco, Caio Carvalhal e Felipe dos Santos, destacam que o crescimento da produção do pré-sal e o aumento da capacidade de refino da companhia no final de 2014 devem levar a melhores oportunidades de compra a partir do segundo semestre. Após o reajuste, os analistas esperam que o mercado se atente mais aos dados fundamentalistas da petrolífera; eles reajustaram em 5,9% a expectativa para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da companhia para R$ 88 bilhões em 2014. Porém, as margens operacionais da área de refino devem seguir no negativo.

E a diferença de preços entre o mercado externo e os praticados no Brasil também diminuíram, caindo de 17% para 8% no caso do diesel e de 12% para 10% no caso da gasolina, destacam os analistas. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.