Petrobras: o que os analistas acharam do resultado do leilão de Libra?

A participação da Petrobras de "apenas 40%" também pesou positivamente, uma vez que havia temores de uma fatia ainda maior

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um dia após o leilão do campo de Libra, no pré-sal, os analistas se debruçam sobre o resultado e os números da disputa para o consórcio da maior descoberta de petróleo do Brasil.

O leilão de Libra teve apenas uma oferta. O consórcio formado pela Petrobras (PETR3;PETR4), com 10%, Shell (20%), Total (20%), CNPC, (10%), CNOOP, (10%) ficou com o campo, oque impulsionou as ações da petroleira brasileira na véspera devido a participação de duas empresas privadas no leilão e com grande experiência. A estatal brasileira tem direito também a outros 30%. O consórcio ofereceu 41,65% em óleo excedente para União. Esse valor era o mínimo previsto no edital.  

Conforme destacou o BB Investimentos, o resultado do Campo de Libra pelo preço mínimo e com apenas um consórcio foi favorável para a Petrobras, assim como a formação de parcerias com outras companhias além das estatais chinesas, no caso a francesa Total e a anglo-holandesa Shell. 

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Outro ponto positivo, avalia a analista Carolina Flesch, é a divisão dos investimentos necessários para o desenvolvimento da área, assim como o pagamento percentual oferecido do lucro em óleo. Desta forma, a analista manteve a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos PETR4, com preço-alvo de R$ 23,23 para o final do ano para cada ação.

Além do fato das experientes Shell e Total participarem do consórcio, pesou positivamente a participação da Petrobras de “apenas 40%”, ressalta a LCA Consultores. “Os investidores temiam que a Petrobras poderia ficar com uma participação superior a 50%, o que não se confirmou, com sua participação ficando em 40%.

A surpresa foi a participação discreta das petrolíferas chinesas”, ressaltaram os economistas da consultoria. Outro aspecto positivo para os investidores, ressalta a LCA, foi que boa parte de exploração do Campo de Libra ficará para as empresas do consórcio, destacam e, principalmente, para a Petrobras. 

Enquanto isso, os analistas do Credit Suisse destacam que, em meio ao forte ceticismo com o leilão, muitos ficaram surpresos com o resultado. E a entrada da Shell e Total adicionam credibilidade ao negócio. 

Com relação à rentabilidade do projeto, os analistas acreditam em uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 19 a 20% com um preço de US$ 100 por barril e com um volume de 8,5 a 12 bilhões de barris, o que pode adicionar de US$ 1,87 a US$ 2,66 no modelo de valuation dos ADRs (American Depositary Receipts) da companhia brasileira. 

De acordo com os analistas Vinicius Canheu e André Sobreira, se Libra tiver 8,5 bilhões de barris de petróleo, a produção média será de 1,2 milhão de barris diários. A participação de 40% significa que Libra pode contribuir com uma produção de 480 mil barris diários de produção para a Petrobras na próxima década.

Falta de concorrência foi positiva para a Petrobras
Se por um lado a falta de concorrência no leilão de Libra dá munição aos críticos do governo, o resultado favorece a Petrobras, que pagará junto com as parcerias no certame o mínimo estabelecido pelo governo para ficar com a área gigante no pré-sal.

A Petrobras não precisou disputar Libra nem correu o risco de migrar para um consórcio rival, como reza o edital em caso de derrota do seu próprio grupo, destacaram especialistas do setor ouvidos pela Reuters.

“Foi bom para a Petrobras, que poderia ter sido obrigada a fazer uma oferta elevada”, afirmou o consultor John Forman, ex-diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). 

Se houvesse maior disputa e o lance vencedor fosse mais alto, a parcela de óleo lucro ao governo – que prevê investir os recursos do pré-sal em saúde e educação – também seria mais robusta.

Um sucesso estonteante para o governo, no entanto, seria um fracasso perigoso para a Petrobras, disse à Reuters um executivo do setor que preferiu não se identificar.

“Essa história de que o governo precisava de mais de um consórcio para ter resultado em Libra é uma mentira, vão sair com R$ 15 bilhões (bônus de assinatura) no bolso sem afetar a Petrobras”, disse. “Excelente para Petrobras e para o Brasil, ganharam os dois”, afirmou, fazendo coro a autoridades presentes ao leilão.

Com um percentual de 40% no consórcio, a Petrobras terá que pagar R$ 6 bilhões de bônus. No mercado, temia-se a possibilidade de a Petrobras ter de acompanhar ofertas sem rentabilidade, de asiáticas buscando em Libra suas necessidades energéticas, ávidas por óleo.

Sinopec foi barrada
Porém, destaca reportagem da Reuters, o risco da concorrência acirrada existiu para a Petrobras.

Mas, por uma determinação do governo chinês, outra companhia da China, a Sinopec, não participou do leilão, afirmaram duas fontes com conhecimento direto do assunto.

A Sinopec, segundo as fontes, queria entrar no certame, mas teria sido preterida em favor das irmãs chinesas. O governo chinês não queria que as empresas disputassem entre si, disseram as fontes.

As chinesas CNOOC e CNPC entraram no consórcio da Petrobras com participação menor do que se esperava, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), João Carlos De Luca.

As duas chinesas entraram com 10% de participação cada uma, enquanto Shell e Total terão 20% do bloco cada uma.

Estatal forte
A falta de concorrência no leilão de Libra, por outro lado, corroborou o argumento de alguns críticos da forte presença estatal no regime de partilha brasileiro.

De Luca considerou parcialmente positivo o resultado do certame. Segundo ele, se por um lado as vencedoras representam gigantes do setor de petróleo, por outro não houve disputa entre consórcios.

“É um super consórcio e ninguém tem dúvida de que tecnicamente as empresas vão entregar os resultados previstos… O ideal seria ter mais consórcio e poderia ser melhor.”

O representante das petroleiras defendeu mudanças para os próximos leilões da partilha, sem a obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única do pré-sal.

As regras da partilha dão plenos poderes à estatal PPSA para decidir sobre a estratégia de Libra. E entregam a operação da área à Petrobras. As estatais brasileiras terão pelo menos 65% do poder de voto sobre as decisões estratégicas da área exploratória.

O governo descartou que haverá mudança do regime, ao menos por ora, mesmo com a presença de um consórcio no primeiro leilão.

“Para a largada foi bom, mas esperamos que nos próximos leilões tenham mais blocos para que outras empresas possam participar”, acrescentou De Luca.

“O setor de petróleo vai observar como será a gestão da PPSA; estaremos atentos sobre como será usado todo o poder que lhes foi dado neste regime, e sem dúvida isso deverá nortear os próximos leilões do pré-sal”, afirmou recentemente o ex-presidente no Brasil da gigante petrolífera britânica BG Luiz Costamilan, que prestou consultoria a interessados neste leilão.

“Não vejo problema algum com esse leilão ter tido apenas um consórcio”, avaliou o senador Delcídio Amaral, ex-diretor da Petrobras.

“Quando todos pensavam que haveria somente chinesas, Shell e Total apareceram, duas empresas de grande experiência no mundo”, comentou o senador petista.

(Com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.