Além de cara, Petrobras tem perspectiva “inexpressiva” de retorno, diz Santander

Para o banco, massivo programa de captação da estatal deixou papéis com prêmio elevado em relação aos seus pares globais; preço-alvo, no entanto, foi elevado

Paula Barra

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SÃO PAULO – Cortando a corrente otimista do mercado, que vem citando as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) como uma opção interessante para investir este ano, os analistas do Santander elaboraram um relatório apontando, que além dos papéis da estatal estarem caros, a perspectiva é “inexpressiva” de retorno.

A avaliação de Vicente Falanga Neto é que o massivo programa de captação de recursos da empresa tem resultado em expectativa inexpressiva de retorno, manutenção do ROIC (Retorno sobre o Capital Investido) abaixo do seu custo de capital e da média dos seus pares globais, com alavancagem ainda mais acima das metas autoimpostas.

Segundo ele, os lucros da empresa têm sido distorcidos e, portanto, parecem mais elevados devido à significativa capitalização de juros – uma tendência que deve prosseguir no futuro.

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Ele acredita que a análise com os múltiplos P/L (Preço/Lucro) não representa o real cenário, dando a impressão de um valuation atrativo para a Petrobras, e, por isso, prefere utilizar o VF/DACF (fluxo de caixa ajustado pela dívida). Diante disso, o analista aponta que as ações serão negociadas com um prêmio de 25% em relação aos seus pares globais nos próximos três anos.

Falanga Neto aponta que os juros capitalizados irão afetar os lucros da estatal no futuro. De acordo com estimativas do Santander, se a Petrobras amortizasse seus lucros capitalizados em 15 anos, em média, isso implicaria numa redução de R$ 2,6 bilhões nos lucros anuais da empresa (considerando R$ 39 bilhões em juros capitalizados no período de 2010 a 2014).

Perspectiva de retorno “inexpressiva”
A perspectiva de retorno sobre capital irá permanecer “inexpressiva” – inferior ao seu custo de capital e à média dos pares globais -, assim como os índices de alavancagem, em função ao programa substancial de captação de recursos da Petrobras implementado nos últimos quatro anos, avalia o analista.

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Apesar dos ativos do pré-sal representarem uma oportunidade muito atrativa de crescimento, na opinião do analista, seu custo é alto, com expectativa de retornos mais elevados para o médio e longo prazo.

No período de 2009 a 2012, a Petrobras captou US$ 140 bilhões entre ações e dívida líquida, representando aproximadamente 60% do valor estimado da empresa em 2013. Por outro lado, os seus pares globais (BG Group, Total, British Petroleum, RD Shell Statoil, Chevron e Exxon) captaram um montante muito pequeno de capital, com foco predominante em dívida.

Conclusão: seriam necessários mais sete ou oito anos de Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do pré-sal para a Petrobras pagar esses investimentos, projeta o analista do Santander.

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Possíveis catalisadores?
Por fim, o analista ainda aponta que as possíveis melhorias da Petrobras já foram precificadas nas ações (por exemplo, crescimento da produção de 4% em 2014, em comparação ao potencial de 9,5%, se tudo der certo).

“Os resultados mostram que, apenas assumindo premissas operacionais muito otimistas, as ações da Petrobras seriam negociadas em linha com os pares globais”, conclui Falanga Neto.

Preço-alvo elevado
Em meio ao viés pessimista apresentado pelo analista do Santander, o preço-alvo esperado para as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) foi elevado de R$ 20 para R$ 22, baseado nas novas estimativas do banco para os próximos resultados da empresa. O target atual remete um potencial de valorização de 15,4% para o ativo, calculado com base no fechamento da última sexta-feira (17).

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A recomendação, no entanto, foi reiterada em manutenção, o que, segundo metodologia do Santander, significa que a expectativa é de que a ação tenha um desempenho dentro de uma faixa de 0% a 10% acima do Ibovespa.