Tesouro Direto: piso de prefixados volta a se aproximar dos 13% com desidratação da PEC da Transição no radar

Já maior remuneração real era entregue pelo Tesouro IPCA+2026, no valor de 6,22% ao ano, o que representa uma queda em relação à véspera

Bruna Furlani Neide Martingo

Notas de Real (Marcelo Casal Jr / Agencia Brasil)

Publicidade

Havia muita expectativa sobre como os ativos se comportariam na sessão desta terça-feira (29). Por conta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que foi protocolada na véspera (28) pelo governo no Senado, a apreensão de que os negócios fossem afetados era enorme.

Porém, a proposta divulgada ontem (28) não trouxe grandes mudanças em relação à minuta apresentada por Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, semanas antes. A versão inclui uma autorização para gastar pelo menos R$ 198 bilhões acima do teto por ano, valor que engloba despesas com o novo Bolsa Família e investimentos públicos.

Sem grandes mudanças, a apresentação do texto não gerou movimentos de aversão a risco entre agentes financeiros, que já precificavam o aumento do risco fiscal. O mercado espera agora que o texto seja modificado antes da aprovação. A intenção do governo eleito é aprovar a PEC até 16 dezembro para que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) seja votado com essa definição.

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“O valor (gastos acima do teto) está muito acima do que é necessário para que o presidente eleito cumpra as promessas de campanha. A proposta continua entregando um risco fiscal muito grande”, diz Ricardo Jorge, sócio da Quantzed. “Além disso, não sabemos quem vai compor a equipe econômica e quais as fontes de financiamento que bancarão os projetos sociais”.

Segundo Ricardo, o bom humor no mercado, especialmente no Ibovespa, está sendo ajudado nesta terça-feira pela alta das commodities. Mas, internamente, o mercado continua muito pressionado. “O Congresso vai querer, de alguma maneira, usar o poder de voto para barganhar algum benefício junto ao novo governo”.

As negociações no Congresso também estão no radar de Marcos Mollica, gestor do fundo multimercado Opportunity Total. “Ele [mercado] enxerga que vai ser difícil aprovar a PEC do jeito que ela está. Ela deve ser desidratada consideravelmente”, diz.

Continua depois da publicidade

Na tarde desta terça-feira, às 15h25, os juros oferecidos pelos títulos públicos registram baixa de até 44 pontos-base (0,44 ponto percentual) em comparação com o cenário da véspera. Chama atenção que o Tesouro Prefixado 2033 voltava a oferecer retorno próximo dos 13%, nesse horário, algo que não era visto há dias.

O maior juro entre os prefixados era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2025, no valor de 13,26% ao ano, abaixo dos 13,70% registrados na sessão anterior.

Da mesma forma, a maior remuneração real era entregue pelo Tesouro IPCA+2026, às 15h25. No mesmo horário, tal título oferecia um retorno real de 6,22% ao ano, abaixo dos 6,36% vistos um dia antes.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (29): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Haddad e PEC da Transição

No texto apresentado ontem pelo novo governo, há a limitação do período de retirada do novo Bolsa Família por quatro anos, a partir de 2023, e não mais por prazo indeterminado. Outra mudança está na permissão para usar até R$ 22,9 bilhões de excesso de arrecadação com investimentos apenas a partir de 2023, e não mais a partir deste ano.

Depois de atingir a marca das 27 assinaturas necessárias para dar início à tramitação, o senador Marcelo Castro (MDB-PI), autor formal da PEC da Transição (PEC 32/2022), falou em avançar nas negociações para dar celeridade ao processo no Congresso Nacional.

“Com as assinaturas suficientes para a tramitação da PEC do Bolsa Família, continuaremos as negociações para aprovarmos a proposta o mais rápido possível”, disse. “O novo bloqueio de R$ 1,7 bilhão, feito ontem pelo governo no Ministério da Educação, mostra o quanto o orçamento do país está deficitário em diversas áreas”, salientou.

Nesse sentido, o mercado se questiona como deve ser a tramitação do texto. As perguntas que ficam são: qual será o valor aprovado? Como o montante será usado? De onde virão as receitas para financiar os projetos do próximo governo?

Agentes financeiros também aguardam o anúncio de ministros-chave do novo governo. Favorito para assumir o Ministério da Fazenda, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) afirmou na noite de ontem que, a pedido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vai integrar o grupo de economistas do governo de transição a partir de amanhã e que não recebeu qualquer outro convite.

“Eu fui convidado exclusivamente para interagir com o grupo de economia que fez a transição ate aqui, não recebi nenhum outro convite”, declarou Haddad ao deixar o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde estava reunido com a cúpula petista. “O presidente me pediu para acompanhar tanto quanto fosse possível as reuniões do grupo da economia”, acrescentou.

Caged

O mercado de trabalho formal brasileiro registrou um saldo positivo de 159.454 carteiras assinadas em outubro, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça-feira (29) pelo Ministério do Trabalho.

O dado de setembro ficou baixo das projeções. O consenso Refinitiv apontava a criação de 238 mil vagas.

O resultado de outubro decorreu de 1.789.462 admissões e de 1.630.008 desligamentos. O estoque, que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos, contabilizou 42.998.607 vínculos, o que representa uma variação de +0,37% em relação ao estoque do mês anterior.

No acumulado do ano de 2022, foi registrado saldo de 2.320.252 empregos, decorrente de 19.445.198 admissões e de 17.124.946 desligamentos (com ajustes até outubro de 2022).

Em outubro, a busca por crédito teve a maior retração do ano, de 14,8% na comparação com igual mês de 2021, segundo o Indicador de Demanda por Crédito da Serasa Experian.

Consumidores de todas as classes sociais têm evitado a aquisição de novas linhas de crédito. A maior queda foi registrada entre consumidores com salários entre R$ 500 e R$ 1 mil, de 16,0%.

Na análise por regiões, o Centro-Oeste apresentou queda de 20,2% e o Nordeste, de 16,0% na procura por crédito. Já o Sudeste registrou alta de 15,2% na busca, o Norte, de 14,3%, e o Sul, de 9,2%.

Segundo o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, a alta na taxa de juros faz com que os consumidores tenham mais cautela, mesmo com a retomada da economia.

“Desde que a taxa Selic passou de 12,75% para 13,25%, de maio para junho deste ano, a busca pelo recurso financeiro começou a cair. Depois disso, a taxa aumentou mais uma vez em outubro, alcançando 13,75%. Dessa forma, ainda que exista a recuperação do poder de compra, o encarecimento dos juros desencoraja a população ao consumo”, afirma.