Até onde vai a taxa de juros do Brasil?

Thiago Nigro é autor do blog "O Código da Riqueza"

Equipe InfoMoney

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Aposto que nesta altura do campeonato você, com certeza, já deve ter se perguntado sobre qual será a trajetória da taxa Selic daqui pra frente. Se ainda não se perguntou, está é a hora, pois a pergunta realmente é intrigante.

Desde o final de 2016, a taxa de juros brasileira tem caído continuamente, e para um país que historicamente sempre sofreu com taxas de juros elevadas, essa queda da Selic representa uma coisa muito positiva, que é justamente a possibilidade do país, finalmente, estar seguindo o caminho certo.

Mas, apesar dessa positividade em relação ao futuro do Brasil, uma dúvida paira a cabeça de muitas pessoas: afinal, essa queda da taxa de juros será realmente duradoura? Será que existe realmente explicações para que a taxa de juros possa permanecer baixa num país como o Brasil?

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Para respondermos essa questão, é imprescindível que nós analisemos alguns fatos do cenário atual de nosso país, contando não só o retrospecto econômico do Brasil de 2017, mas também contando algumas outras variáveis que são importantes para entender o “todo”.

Por isso, a fim de conseguirmos fazer uma análise coerente, eu irei separar este artigo entre os os pontos mais importantes que nos ajudam a entender o que esperar da taxa Selic no futuro – a começar, obviamente, pela inflação.

Inflação

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Talvez você se pergunte: “Por que é óbvio que temos que começar com a inflação?”

A razão disso está no fato de que a inflação tem uma ligação muito íntima com a taxa de juros. Muito da política monetária do Brasil em relação aos juros, principalmente entre o período do qual Dilma Rousseff ainda era presidente da república, se fez com a manutenção da taxa Selic para controlar a inflação.

Agora, para conseguirmos entender como funciona essa ligação da inflação com a taxa de juros, precisamos primeiramente definir o que é, de fato, a inflação. Adianto que ela é muito mais do que simplesmente a taxa divulgada pelo índice do IPCA.

Falando no linguajar econômico, a inflação pode ser definida simplesmente como o aumento do dinheiro disponível na economia. Há outras definições mais utilizadas do que esta, mas esta definição nos convém pois fica mais fácil de entender a relação com a política monetária.

Em suma, essa definição nos é benéfica porque um dos principais instrumentos da política monetária do Brasil é o instrumento chamado de “operações de open market”.

E o que é isso, exatamente?

Basicamente, é um instrumento pelo qual o Banco Central pode colocar e retirar dinheiro da economia. Exemplificando:

Imagine que há muito dinheiro disponível na economia. Por haver muito dinheiro na economia, se levarmos em consideração a definição que demos a inflação, isso pode significar que estamos em um período de inflação, o que é um problema.

Para resolver este problema, o Banco Central precisa dar um jeito de retirar este dinheiro em excesso, assim ele consegue reduzir os efeitos inflacionários, correto?

E é aqui que entra em cena as operações de open market.

Nesse sentido, o que o Banco Central faz para retirar esse dinheiro da economia é simplesmente vender títulos públicos às instituições financeiras. Com isso, ele consegue colocar as mãos num dinheiro que estava disponível na economia, e o retira de circulação.

Só que, essa venda por parte do Banco Central traz um efeito: como a venda dos títulos aumenta sem haver um aumento também da demanda por estes títulos, o preço dos títulos caem, e, por fim, os juros oferecidos por estes títulos acabam aumentando.

Esse aumento faz com que as demais taxas de juros no mercado acabem subindo, pelo simples motivo que, como os títulos públicos agora estão pagando mais, ninguém estará disposto a investir em outros tipos de investimento sem receberem uma remuneração maior – afinal de contas, os títulos públicos são, hoje, os investimentos mais seguros no mercado, e o risco maior precisa ser transformado também em retorno maior para passar a ser atrativo.

Resumindo: para controlar a inflação, o Banco Central vende ou compra títulos e isso reflete diretamente na taxa de juros do mercado. Por isso que, por exemplo, quando a inflação estava em 10% no Brasil, os juros estavam caminhando para 14% a.a; Os juros estavam evidenciando as tentativas do Banco Central de controlar a inflação.

E aqui entendemos um pouco do porquê a taxa Selic conseguiu ter estas quedas: como a inflação entrou em queda, em grande influência pela crise econômica, o Brasil conseguiu um espaço para ir reduzindo a Selic.

Nesse caso, enquanto a inflação estiver baixa, a taxa de juros também estará?

Não exatamente.

Primeiro porque taxa de juros baixa em solo brasileiro tende a incentivar o crédito, que tende a aumentar as chances de haver inflação.

Segundo: a inflação não é o único peso na balança.

Isso porque temos que levar em conta outro aspecto muito importante do nosso governo: a sua situação fiscal.

Contas do Governo

Não é nenhuma novidade que estamos em uma situação complicada nesse sentido. O governo brasileiro está com a dívida crescente, e, pior ainda, já assumiu que haverá déficit de R$159 bilhões tanto para 2017 quanto para 2018. Se o governo brasileiro tem déficit, quer dizer que os seus gastos estão sendo maiores do que a arrecadação, que por sua vez significa que o país terá que continuar contraindo dívidas para se financiar. É a mesma coisa que ficar usando o crédito de um cartão para pagar o outro.

E é por motivos como este que as reformas e as privatizações são marcos importantes do governo atual. E também porque são motivos de preocupação.

De um lado, privatizações sendo feitas e reforma trabalhista passando. Mas, do outro lado, os problemas: frustração na arrecadação e o congresso não facilitando a reforma da previdência, que inclusive, também é deficitária.

Se a situação seguir dessa forma, o governo poderá ser forçado a continuar fazendo dívidas por mais tempo para financiar seu déficit, o que entra na contra-balança da redução da inflação, já que poderá fazer com que o Brasil tenha que pagar maiores juros para conseguir se financiar.

Sem falar ainda no adendo da incerteza política. Todas as pesquisas indicam uma eventual vitória do Lula, e ele já afirmou em seu twitter sobre a necessidade do Brasil voltar a investir, ou seja, de começar a gastar novamente. Se ele for eleito e mantiver o seu discurso, será exatamente o oposto que o governo atual vem fazendo e o que fez o mercado se manter positivo com o Brasil.

Ou seja, teremos grandes problemas com as expectativas. Quando o Temer assumiu, a expectativa e o sinal positivo para as reformas fizeram o mercado manter o otimismo. Com esse otimismo do mercado, mesmo que não houvesse uma razão palpável, os investimentos estrangeiros, que representam mais de 50% da bolsa de valores, puderam ser contidos e o câmbio brasileiro conseguiu respirar. O Banco Central não teve que intervir tanto no mercado pra segurar a fuga de capital estrangeiro e a falta de dólar.

Só que, aos poucos, esse otimismo vem se desenhando em algo extremamente complicado para o governo, pois:

– O governo já está mostrando dificuldades em passar as reformas previstas;
– O déficit público vai demorar para ser controlado;
– Há chances ainda da dívida continuar aumentando;
– O cenário presidenciável ano que vem é um risco que pode colocar em cheque todos os avanços em austeridade feitos pelo governo até o momento;
– O cenário internacional é um risco, já que há países (em especial os EUA) que estão aumentando suas taxas de juros. Um investidor estrangeiro, nesse cenário, tende a pensar na possibilidade de deixar de investir no Brasil para investir em outro lugar, e isso irá pressionar as contas e o câmbio brasileiro.

Vejam que isso não significa que não há motivos para pensarmos em um Brasil se levantando. O desemprego está diminuindo, o otimismo ainda é relevante, e há candidatos com propostas interessantes para o ano que vem. O problema é que esse cenário inteiro está completo de incertezas, e esse já é um baita ponto negativo.

O que esperar da taxa de juros, então?

O mercado continua otimista, então não há porque eu jogar uma teoria da conspiração aqui. O principal é você entender que o cenário é frágil, e que não se deve ter como certo de que o Brasil irá melhorar de vez.

No final de contas, o Brasil está ainda enfrentando instabilidade, o que é marco histórico brasileiro. Não é de se esperar estabilidade de um país com tantos problemas estruturais.

Mas vale dizer que, mesmo assim, o Brasil está no caminho certo e já teve muitos acertos durante o tempo. E, se aceita duas dicas especiais para investimentos:

1- Siga os relatórios de mercado. O Relatório FOCUS do Banco Central é referência em expectativas, e faz muito sentido que você olhe para o relatório focus e entenda a expectativa do futuro para avaliar os seus investimentos no presente.

2- Invista com a noção de que o futuro é incerto, e que até mesmo o Relatório FOCUS haverá mudanças com o tempo. Nesse sentido, diversificar continua uma ideia muito interessante ao investidor, que pode intercalar entre investimentos pré e pós-fixados. Claro, desde que faça sentido para o seu objetivo!