Com juros em queda é preciso ter aplicações mais sofisticadas, dizem especialistas

Celson Plácido, João Luiz Braga e  Luciano Telo participaram de um painel sobre alocação, estratégia e gestão na Expert 2017, realizada pela XP investimentos em São Paulo

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – A rentabilidade mágica de 1% ao mês, almejada por boa parte dos investidores brasileiros, já é passado para quem depende apenas de ativos de baixo risco atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou à Selic (taxa básica de juros). Com a taxa em 10,25% ao ano e perspectiva de mais quedas ao longo de 2017 e 2018, o investidor vai precisar olhar para ativos um pouco mais arriscados se quiser continuar com uma rentabilidade interessante. A opinião foi compartilhada pelo estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, pelo gestor da XP Gestão, João Luiz Braga, e pelo Head de estratégia e alocação da XP Advisory, Luciano Telo. Os três participaram de um painel sobre alocação, estratégia e gestão na Expert 2017, realizada pela XP investimentos em São Paulo.

“Com juros em queda é preciso ter aplicações mais sofisticadas. Não dá mais para pensar em ter aquela rentabilidade de 1% ao mês com tranquilidade”, disse Plácido. “Acabou a mamata do juro alto [para os investidores]”, concordou Braga.

Luciano Telo lembrou que apesar do investidor precisar se esforçar mais para ganhar dinheiro com a queda da Selic, é saudável que a economia caminhe para um patamar de juros mais “civilizado”. “É preciso começar a buscar outras alternativas de investimento. Temos aumentado um pouco a posição em bolsa fora do Brasil. Não conseguimos fazer esse aumento na bolsa brasileira ainda porque estamos com um viés negativo pelo cenário político”, disse .

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Ele também afirmou que algumas classes de fundos de investimentos podem ser interessantes para o investidor nesse momento de queda de juros e incertezas na Bolsa. “Fundos específicos, como o long & short e long Biased, que conseguem ter o ‘timing’ de entrar e sair da posição na hora certa, podem ir bem neste cenário”, afirmou.

Segundo o head da XP, é inevitável que o investidor passe a aumentar a volatilidade de sua carteira se quiser permanecer com um retorno mais atrativo do que o CDI. “Naturalmente você vai ter mais risco alocado na carteira. O novo “normal” é ter um pouquinho mais de volatilidade nas carteiras”, disse Telo.

Bolsa

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O Head de alocação da XP Advisory afirmou que estava otimista com a Bolsa brasileira até o dia 18 de maio, quando os mercados despencaram após a notícia da gravação de Joesley Batista, da JBS, com o presidente Michel Temer. A partir daí, seu pensamento em relação ao mercado acionário brasileiro mudou.  “Achávamos que as reformas iriam sair, então estávamos um pouco sobrealocados em Bolsa. Quando deu aquela balançada no mercado, a gente começou a reavaliar isso. Hoje acreditamos que se sair alguma reforma, ela será ‘desidratada’. Nós temos o custo de oportunidade do CDI. Então estamos um pouco mais defensivos agora, em função das reformas que parecem estar em segundo plano”, afirmou Telo.

João Luiz Braga, da XP Gestão, também mudou suas posições depois da turbulência que o mercado passou na metade de maio. “Antes eu estava muito otimista. Estávamos em um caminho que me lembrava muito 2009 e 2003. Em 2003 o Brasil vinha de uma base muito ruim, antes da eleição do Lula. O risco país foi para o alto e a bolsa caiu. Depois da carta aos brasileiros isso mudou. Em 2009 não foi diferente. Tivemos a crise de 2008, saímos mais fortes e a bolsa subiu 80% em 2009 e mais alguns anos”, diz Braga.

Ele lembrou que em 2017 parecia que a retomada iria se repetir. “Vínhamos de dois anos de forte recessão. As empresas já tinham investido em fábricas, linhas de produção. Elas vendem menos, mas o custo fixo continua. É o conceito que chamamos de alavancagem operacional. O nível de utilização da capacidade instalada da economia brasileira estava lá embaixo. Então o que acontece quando você volta a vender mais? É ‘margem na veia’. A Renner ia vender mais calça jeans, a Duratex venderia mais placa de madeira. Já iam ganhar mais. Mas além disso, esse ganho seria ocupando uma linha de produção já existente”, exemplifica.

Braga também lembrou que o juro baixo é excelente para as empresas. “Elas têm menos despesas financeiras. E também podem investir mais, crescer”.  “Então só faltavam as reformas para que os investidores estrangeiros voltassem a ‘comprar a nossa história’ e a investir aqui”, destaca o gestor.

Mas após o dia 18 de maio as coisas mudaram de rumo. “É como se a gente tivesse batido num muro. Por outro lado, os outros fatores estão lá (juros, capacidade das empresas, etc). Então eu continuo tendo uma visão otimista de bolsa de longo prazo. No curto prazo, é melhor ser cauteloso. Estou com o freio de mão puxado”, conclui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip