Caos político: o que fazer com os títulos do Tesouro Direto?

Na opinião de especialistas em renda fixa, não vale a pena vender títulos neste momento

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – Com a bomba que caiu em Brasília na noite de quarta-feira (17), diante do áudio em que Michel Temer supostamente dá aval para que o dono da JBS, Joesley Batista, compre o silêncio de Eduardo Cunha, os mercados financeiros entraram em pânico.

 A bolsa brasileira acionou o circuit breaker – quando o Ibovespa atinge 10% de queda e os negócios são suspensos por 30 minutos – ainda na primeira meia hora de negociação e na renda fixa também é compreensível o receio quanto ao futuro dos investimentos já feitos e se é seguro fazer novos aportes, especialmente no Tesouro Direto.

 De maneira simplificada, o governo oferece títulos ao mercado para financiar sua dívida e sua taxa de retorno acompanha seu risco. É de se esperar que em meio ao caos político e às incertezas econômicas esse risco aumente.

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 Na manhã de quinta-feira (18), a avaliação do Risco-Brasil, medida pelo CDS (Credit Default Swap) saltou 33%, voltando para o maior patamar deste ano. “Quando compramos um título, estamos comprando um risco-país. No curto prazo tende a ter oscilação grande, o que é completamente diferente do cenário de longo prazo. Em 20 anos o Brasil vai continuar existindo. Não estamos em uma crise fiscal sem retorno, não somos a Grécia”, afirma Ricardo Maia Mulder van de Graaf, sócio da Taiga Investimentos.

Diante das incertezas, o que fazer com os títulos do Tesouro Direto? É confiável emprestar dinheiro ao governo brasileiro? O risco para o Brasil é tão elevado que o melhor é vender os títulos?

 Na opinião de especialistas em renda fixa, não vale a pena vender títulos neste momento. Mesmo diante do súbito caos político que pode complicar ainda mais o processo de recuperação que mal deu os primeiros passos, quem já tinha títulos até quarta-feira (17) perderá dinheiro se vender nesta quinta-feira (18) em diante.

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 Especialmente quem comprou títulos de meados de 2016 para cá, quando os ganhos acumulados no período não devem compensar as perdas com a venda e o pagamento de impostos.

 “Quem já tem título, melhor manter. Vai sofrer um pouco, mas o ideal é não antecipar o resgate. Quem não tem, essa pode ser uma oportunidade de entrada”, afirma Alexandre Cabral, economista e professor da FIA (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo) e da Anbima (Associação Brasileira dos Mercados Financeiros e de Capitais).

 Juliano Custódio, assessor financeiro do blog EuQueroInvestir, afirma que as pessoas que compraram títulos IPCA+ de janeiro para cá já estão no prejuízo hoje e não vale a pena vender, ou seja, executar o prejuízo. “O melhor é carregar esses títulos por um prazo maior, apesar da turbulência política e do atraso na recuperação econômica”, diz.

 “Os títulos ligados a inflação e prefixados enxergamos como janela de oportunidade”, afirma Ricardo Maia, que sugere papéis de prazo médio, com vencimento em 2019 e 2023. “Eu não iria para os longos, como 2035 e 2055, que são mais arriscados”, acrescenta.

 Custódio indica a redução na exposição de títulos prefixados e a compra de títulos pós-fixados. “Até uma semana atrás eu tinha 80% em IPCA+ e prefixados e estava reduzindo para 50%. Agora vamos reduzir essa exposição para 30% da carteira”, conta Custódio.

 Segundo Cabral, os CDBs de bancos médios também devem ter boa rentabilidade. “Vale o risco, considerando que ele tem FGC”, explica. Cabe lembrar que o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) cobre até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, e não por investimento.

Ainda no meio do caos, Juliano Custódio afirma que o momento é de aprendizado para investidores, especialmente os iniciantes, em relação à alocação de investimentos.

 “Tem notícias como essa que não cabem em nenhum cálculo econométrico ou econômico. É por isso que falamos tanto sobre a importância da alocação de investimentos, de variar. Os clientes que estavam super felizes com bolsa estão vendo seu patrimônio derreter”, conta.

 Quem se mantiver negociando, é preciso manter a calma. “Estamos literalmente no mesmo ambiente do impeachment da Dilma Rousseff, quando cada dia era um dia diferente”, afirma Alexandre Cabral.

 Quem preferir esquecer o noticiário político e não se preocupar com volatilidade, Custódio recomenda Tesouro Selic e CDBs de liquidez diária. “A previsão agora é que a celeuma política e jurídica dure bastante tempo e o mercado siga volátil nos próximos seis meses. No olho do furacão é difícil tomar uma boa decisão”, afirma o assessor.

 “CDI é papel para dormir tranquilo para quem quer colocar a cabeça no travesseiro e nem quer saber do que está acontecendo”, acrescenta Ricardo Maia.