Investir fora de seu banco pode ser muito lucrativo para você; veja diferença

O InfoMoney pediu conselhos de investimento a gerentes do Itaú, Bradesco e BB; a conclusão é que o investidor ganharia muito mais dinheiro se buscasse a ajuda de um consultor independente

Leonardo Pires Uller

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Você trabalha duro para ganhar seu dinheiro. Acorda cedo, encara reuniões intermináveis, ouve cobranças do chefe e encara os desafios que aparecem com o objetivo de subir na carreira e melhorar de vida. O que sobra depois das contas quitadas é investido no banco onde você tem conta corrente. Para decidir as melhores aplicações, costuma ouvir o conselho do seu gerente, que parece ser um profissional especializado para indicar como fazer seu suado salário render mais. Mas nem sempre é assim. A Revista InfoMoney visitou agências dos três maiores bancos do país pedindo conselhos sobre investimentos. Sem exceções, as opções indicadas pelos gerentes do Banco do Brasil, do Bradesco e do Itaú ofereciam aplicações com rentabilidades muito inferiores às dos melhores investimentos do mercado.

Sem identificar-se como jornalista, a reportagem do InfoMoney pediu indicações de aplicação para um jovem de cerca de 20 anos, que receberia R$ 300.000 de herança e não fazia ideia de onde aplicar esse valor. Na simulação, o objetivo era investir parte do dinheiro em algum produto que garantisse uma boa rentabilidade para a aposentadoria e uma pequena fração em investimentos com liquidez para cobrir eventuais despesas de curto prazo, como cursos, viagens ou gastos emergenciais.

A primeira agência visitada foi a do Itaú, no bairro do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo. A sugestão da agência de varejo foi que a maior parte da herança fosse para um plano de previdência do tipo VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). Para a parcela utilizada como colchão de liquidez, o Itaú recomendou aplicação na caderneta de poupança e em um CDB (certificado de depósito bancário) com rentabilidade de 74,5% do CDI (principal referência para investimentos em renda fixa no Brasil) com prazo de aproximadamente três anos, mas que pagaria uma taxa ainda menor caso o resgate fosse realizado antes desse prazo.

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As duas aplicações são consideradas ruins por especialistas em finanças. A poupança rende atualmente apenas 0,5% ao mês mais a TR, que está próxima de 0,1% ao mês. Com a taxa de juro em mais de 12% ao ano, vale mais a pena buscar investimentos com liquidez que sejam atreladas ao CDI, como os títulos do Tesouro Direto pós-fixados (LFT). O próprio CDB pode ser uma boa alternativa, desde que pague taxas maiores. Na prateleira de renda fixa das corretoras é possível encontrar títulos como este emitidos por bancos médios com liquidez diária e que remuneram mais de 100% do CDI. Como o CDB tem proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para aplicações de até R$ 250 mil, o investidor tem tranquilidade para diversificar em bancos com taxas melhores. Algumas LCI (letras de crédito imobiliário) também têm liquidez diária e são uma alternativa bem melhor do que a poupança.

No caso do VGBL indicado pela gerente para o dinheiro de longo prazo, especialistas em finanças costumam lembrar que esta aplicação nem sempre é a mais recomendada para quem quer investir para a aposentadoria.  É preciso entender se o investidor quer ter diferimento tributário, se tem necessidade de planejamento sucessório ou ainda se pretende uma geração de renda vitalícia. Além disso, é necessário ter muito cuidado com as taxas de administração e carregamento destes fundos, que muitas vezes corroem boa parte do rendimento.

A favor da agência do Itaú, a gerente também recomendou ao InfoMoney que buscasse assessoria especializada na divisão de “varejo alta renda” da instituição: o Itaú Personnalité que, segundo ela, oferece opções de investimento com rentabilidade e taxas mais atrativas. O Itaú foi o único entre as três instituições financeiras que apontou essa alternativa.

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A segunda agência visitada pelo InfoMoney foi a do Bradesco, também no Itaim Bibi. O gerente recomendou a aplicação de quase todo dinheiro em um VGBL, com exceção do mínimo necessário para contratar um seguro “Multiproteção”. A partir daí, a rentabilidade do plano de previdência seria utilizada para fazer aportes anuais de R$ 8.940 nesse seguro de vida em que parte dos prêmios pagos poderão ser resgatados daqui a 30 anos. A partir de 2045, o seguro garante R$ 1 milhão corrigido pelo IPCA nesse prazo, de acordo com o gerente do banco.

Para Alexandre Amorim, sócio da assessoria independente de investimentos Parmais, essa seria a pior das três alternativas de investimento. O gestor de investimento comenta que, caso o investidor decida retirar o dinheiro antes de 30 anos, perderá muito dinheiro. “Além disso, não tem o menor sentido um jovem de 20 anos sem dependentes investir em um seguro de vida. Essa aplicação consegue ser pior que uma capitalização”, comenta.

A última agência visitada foi a do Banco do Brasil no bairro do Ipiranga, também em São Paulo. Logo de cara o gerente descartou a caderneta de poupança como opção de investimento. A sugestão do BB foi investir o dinheiro de curto prazo em uma LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) com liquidez diária e que paga 84% do CDI. O gerente destacou que o investimento é isento de Imposto de Renda, o que de fato garante um ganho líquido maior. Já para a aposentadoria, mais uma vez a indicação foi um plano de previdência VGBL, com a opção de converter o valor em renda vitalícia no futuro. Em nota oficial, o Banco do Brasil afirmou que a proposta de investimento foi adequada considerando o perfil conservador do investidor. O Itaú Unibanco e o Bradesco não se pronunciaram sobre as indicações de investimentos feitas em suas agências.

Opinião independente
A assessoria independente de investimentos Parmais avaliou as indicações dos bancos – e chegou à conclusão que há opções bem melhores. Na opinião do sócio e gestor Alexandre Amorim, para a parcela destinada à aposentadoria, a melhor opção para um jovem na faixa de 20 anos é a compra de títulos de inflação negociados pelo Tesouro Direto com vencimento em 2035. A NTN-B paga o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mais uma rentabilidade que atualmente é superior a 6% ao ano. O especialista destaca que este investimento alia proteção contra as altas de preços e a segurança de crédito do governo federal, que é sempre o melhor pagador entre todos os credores.

Para se ter ideia, a Parmais fez uma simulação dos rendimentos nos últimos 5 anos desta aplicação e comparou com o ganho médio do VGBL. A diferença foi de R$ 12.156,63 em um período de investimentos de praticamente dois anos e meio entre o melhor investimento, o fundo BTG Pactual CDB I e o pior, o CDB do Itaú Unibanco.

Já para a reserva de emergência, Amorim diz que a única boa oferta foi a da LCA do Banco do Brasil com liquidez diária e retorno de 84% do CDI. Outra indicação do sócio da Parmais é aplicação no fundo BTG Pactual CDB I, que investe em CDB de cinco grandes bancos: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e HSBC, e tem rentabilidade histórica de 101,8% do CDI, com volatilidade muito baixa e valor mínimo de aplicação de R$ 5 mil. Por fim, a terceira alternativa seria aplicar em LFT (Letra Financeira do Tesouro), que paga a variação da Selic. A liquidez desta aplicação é semanal: todas as quartas-feiras o Tesouro faz a recompra dos títulos dos investidores interessados em vender.

Colaborou Julia Miozzo

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Investimento de R$ 200 mil

Saldo líquido final**

BTG Pactual CDB I

R$ 242.037,54

LFT – 07/03/17***

R$ 241.884,88

LCA BB

R$ 238.727,82

VGBL****

R$ 235.234,62

CDB Itaú

R$ 229.880,91

*O prazo de investimento estipulado foi com base na rentabilidade histórica do período de 20/08/2012 a 10/02/2015.

**O saldo líquido desconta o IR de aplicações que não são isentas e taxas de administração de fundos.

***Na LFT deve ser considerado o custo anual de 0,50% sobre o valor investido que, neste caso, representa aproximadamente R$ 1 mil ao ano.

****Para o cálculo do VGBL, foi utilizado um fundo de renda fixa do Bradesco com desempenho semelhante aos investimentos oferecidos pelos bancos e taxa de administração de 1,5%.

* Essa matéria foi publicada na edição 55 da revista InfoMoney, referente ao bimestre março/abrilde 2015.