Saiba como ganhar mais dinheiro com o Tesouro Direto

O Tesouro Direto oferece tudo que um investidor comum busca: rentabilidade alta, taxas baixas, facilidade de resgate e segurança; aprenda a lucrar com essa aplicação

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Para um investidor, o tripé rentabilidade, segurança e liquidez (facilidade para transformar a aplicação em dinheiro) norteia grande parte das decisões em qualquer lugar do mundo. Enquanto os mais conservadores costumam priorizar a segurança e a liquidez, aqueles que querem ganhar mais geralmente não se importam em abrir mão disso por um retorno melhor. Afinal, uma das regras básicas do mercado financeiro é que, quanto mais arriscada for aplicação, maior também será seu potencial de rendimento – do contrário, ninguém investiria naquilo.

O Tesouro Direto, programa que permite a compra de títulos públicos federais por meio da internet, mescla estes três itens de forma interessante. A rentabilidade atual dos títulos salta aos olhos – onde mais no mundo você conseguiria 6,8% ao ano de juros real (acima da inflação) com um investimento de renda fixa? A segurança é altíssima, já que o investidor está emprestando dinheiro para o governo – o melhor de todos os pagadores porque, no limite, o Banco Central poderá imprimir mais moeda para o Tesouro saldar seus compromissos. E a liquidez também é altamente satisfatória, já que todas as semanas, sempre às quartas-feiras, o governo recompra títulos, permitindo que você venda os seus papéis e pegue o dinheiro de volta. A aplicação inicial mínima também não filtra ninguém: com apenas R$ 30, já é possível investir.

Apesar disso, esses papéis ainda são procurados por pouca gente. Segundo dados do Tesouro Nacional, existem 388 mil investidores cadastrados no Tesouro Direto. O número é menor que o da Bovespa, que tem pouco menos de 600 mil cadastrados. Para o gerente de relacionamento institucional do Tesouro Nacional, André Proite, alguns motivos levam à baixa popularidade do programa. O principal deles é que a força de distribuição desse investimento vem das agências bancárias – e os bancos estão pouco interessados em oferecer o Tesouro Direto aos seus clientes, já que outros produtos são mais rentáveis para a instituição financeira. “É o gerente da conta que o brasileiro costuma ouvir antes de decidir onde vai colocar seu dinheiro. Mas o banco prefere produtos com taxas maiores [pagas pelo investidor]”, diz Proite.

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Outro motivo é a necessidade de o investidor fazer cadastro em uma corretora de valores para fazer a compra e venda dos títulos, o que dificulta o início da operação, já que poucas pessoas no Brasil estão acostumadas a trabalhar com esse tipo de intermediário. Mesmo quem vai usar a corretora do próprio banco onde já tem conta precisa entrar em contato com o gerente para começar a aplicar.

Mas talvez o principal problema seja a dificuldade de entender as características de cada título. Para começar, o nome é pouco convidativo. NTN-B (Nota do Tesouro Nacional série B), LFT (Letra Financeira do Tesouro) ou LTN (Letra do Tesouro Nacional) não significam nada para o brasileiro médio. “As pessoas não compreendem esses papéis. A NTN-B, por exemplo, é muito complexa, tem  uma parte prefixada e outra pós-fixada. Isso confunde as pessoas”, diz o autor do e-book “O essencial sobre o Tesouro Direto”, Humberto Veiga. Ironicamente o slogan do programa é “quem entende investe”. Para que os investidores possam tomar as decisões corretas, a Revista InfoMoney mostra as principais características de cada papel e explica para quem eles servem:

Para planos distantes (aposentadoria, faculdade dos filhos, etc.)

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NTN-B e NTN-B Principal
A NTN-B é um título que paga a inflação do período (medida pelo IPCA) mais uma taxa de juro definida no momento do investimento. É o título ideal para quem quer garantir ganho real e vai investir pensando no longo prazo. “É uma ótima opção para a aposentadoria”, afirma Proite. A diferença entre a NTN-B e a NTN-B Principal é que, na primeira, há pagamento de cupom de juro semestral. Ou seja, o investidor recebe a cada seis meses a renda obtida com o título. Já na NTN-B Principal o pagamento do valor total mais o juro é feito de uma única vez, no vencimento – ainda que o papel tenda e a se valorizar ao longo do tempo porque os juros vão sendo incorporados ao preço de mercado do título.

Atenção
Ao mesmo tempo em que a aplicação é considerada um porto seguro para quem tem objetivos bem definidos e pretende utilizar o dinheiro apenas no futuro distante, ela também pode ser arriscada se for utilizada para resgate no curto prazo. Isso porque o valor do papel oscila dia a dia e o motivo é simples: o título tem uma taxa prefixada de juros que muda a cada dia nas negociações entre investidores. Como a taxa do título que você comprou já foi acordada no momento da compra, o preço de negociação dele no mercado é que vai mudar, sempre na direção oposta da taxa. Na prática, se os juros subirem, seu título passa a valer menos porque ninguém vai querer comprá-lo pelo preço que você pagou. Se os juros caírem, seu título vai valer mais – afinal, você terá em mãos um papel que paga uma taxa maior do que aqueles que estão sendo oferecidos agora.

Para saber exatamente quanto o investimento vai render

LTN
A LTN é indicada para momentos em que a taxa de juros está elevada e existe a perspectiva de que ela recue ao longo do período de investimento. Como a aplicação é prefixada, o investidor sabe exatamente quanto vai receber no final do prazo. Por exemplo, se você investir R$ 100 mil em títulos prefixados que pagam 12% ao ano e vencem daqui a exatos 12 meses, terá R$ 112 mil ao final desse período. “Se você quer fazer uma viagem daqui a um ano, pode se programar comprando um título prefixado e ter a garantia de receber exatamente aquele valor quando resgatar”, diz André Proite.

Atenção
Assim como a NTN-B, a LTN também tem volatilidade durante a vigência do investimento, ou seja, o preço do título muda de acordo com as perspectivas para os juros futuros. Se você levar a aplicação até o final, não sofrerá nenhuma perda. Se sair antes, pode ganhar mais (caso os juros diminuam) ou perder dinheiro (se as taxas de juros futuros aumentarem).

Para quem odeia risco ou pode precisar do dinheiro a qualquer momento

LFT
É o título mais simples de entender. Não há volatilidade nem possibilidade de perda no valor do título, já que a taxa é pós-fixada e paga algo muito próximo à Selic. A cada dia que passa, o investidor que comprou uma LFT recebe uma pequena remuneração. “Pode ser uma porta de entrada para o investidor conhecer o Tesouro”, afirma Proite. O papel também é indicado para o investidor conservador que deseja correr o menor risco possível, para quem pode precisar do dinheiro a qualquer momento e para aqueles que acham que a Selic vai aumentar durante o período de investimento. Como o risco de mercado praticamente não existe, muitos usam a LFT como um colchão de liquidez – ou seja, para guardar aquele dinheiro que pode ser usado a qualquer momento.

Onde investir agora
A decisão de comprar um ou outro título depende principalmente de como você pretende usar o dinheiro, mas as condições macroeconômicas também são importantes. No ano passado, quando a Selic  atingiu seu menor nível histórico (7,25% ao ano), por exemplo, os prefixados com vencimento em dois anos pagavam entre 8% e 9% de juros. Ou seja, quem investiu naquele momento “travou” o rendimento com uma taxa baixa e vai receber exatamente aquilo no vencimento, apesar de a Selic estar em 11% ao ano (no momento do fechamento desta edição). O mesmo aconteceu com quem comprou títulos de inflação, que em 2013 pagavam entre 3% e 4% mais o IPCA. A alta dos juros fez com que o valor de mercado de alguns títulos tivesse queda de até 40% – ou seja, gerando perda de capital a quem resgatá-los antes do vencimento.

Atualmente, com a Selic na casa dos dois dígitos, o prêmio dos títulos indexados à inflação e prefixados engordou, e essa pode ser a melhor opção, na opinião do diretor de renda fixa da Franklin Templeton no Brasil, Marco Freire. O executivo tem preferência pelas NTN-B com vencimento longo. “Papéis com vencimento em 2050 estão com uma taxa bastante atrativa. Não é sempre que você tem um prêmio de 6,8% mais inflação”, afirma. No entanto, ele ressalta que quem compra os papéis deve ter consciência da volatilidade no curto prazo. “Não dá para comprar olhando para um horizonte de seis meses. Quanto mais longo o prazo de vencimento, maior a oscilação. Por isso o investidor precisa ter paciência”, afirma Freire.

Se a NTN-B é muito indicada para quem pensa na aposentadoria (por garantir o ganho real e não ter risco de perda para resgate no prazo), também há quem ganhe dinheiro vendendo o título antes do vencimento. “Acredito que quem segurar por pelo menos três anos possa ter um bom lucro.” Mas é importante lembrar que para fazer uma operação desse tipo, é preciso ter bastante apetite por risco e acreditar que a curva de juros futuros deva cair nesse período. Caso contrário, você tem chance de perder parte do capital investido. Quem tem aversão a perdas também pode aproveitar o momento de juro alto e aplicar nas LFT, que são atreladas à Selic, aponta Humberto Veiga.  “Com o quadro atual, o governo vem sofrendo pressões de todos os lados. Por isso prefiro a segurança desses títulos”, diz.

Mudanças à vista
O Tesouro Nacional pretende deixar o Tesouro Direto mais simples e fácil de ser entendido. De acordo com André Proite, algumas mudanças estão em discussão e podem acontecer em breve. Uma das prováveis alterações é justamente nos nomes dos títulos, que confundem até investidores mais experientes. “Reconhecemos que dá para melhorar, e nossa intenção é facilitar e simplificar a vida do investidor”, afirma o executivo. Outra iniciativa que deve sair do papel em breve é a criação de um ETF (fundo de índice) de renda fixa, que pode ser negociado via Tesouro Direto. O ETF é um fundo que espelha um determinado índice, ou seja, sua variação é praticamente a mesma do indicador de referência. O investidor que comprar o ETF poderia, na prática, receber a rentabilidade média de uma cesta de diferentes títulos públicos, facilitando a tomada de decisão.

Já os rumores de que títulos que pagam cupom semestral de juros poderiam deixar de existir não foram confirmados pelo gerente do Tesouro Nacional. “Nós apenas identificamos que a maioria dos investidores prefere os títulos que pagam todo valor no vencimento. Mas não pretendemos deixar de comercializar os demais”, diz Proite. No mês de fevereiro, por exemplo, 33,1% dos títulos públicos vendidos eram NTN-B Principal, que pagam juro apenas no vencimento, enquanto as NTN-B representaram 15,4% das vendas. O cupom é interessante para, por exemplo, alguém que já seja aposentado e planeje usar o dinheiro depositado pelo Tesouro em sua conta a cada seis meses para pagar as contas do dia a dia.

Taxas

Os custos de operar no Tesouro Direto costumam ser bem mais baixos que os dos fundos de investimentos, já que a gestão é feita pelo próprio investidor. Além do imposto de renda, são cobradas duas taxas:

Taxa de custódia

Cobrada pela BM&FBovespa sobre o valor dos títulos, referente aos serviços de custódia e às informações e movimentações dos saldos. A taxa é cobrada semestralmente

Taxa dos agentes de custódia

As taxas variam de acordo com a corretora utilizada. Algumas nem cobram pelo serviço. Veja a lista das taxas no endereço www.tesouro.fazenda.gov.br/pt/ranking-da-taxas


Passo a passo

  1. 1.      Abra uma conta em uma corretora e se cadastre no Tesouro Direto
  1. 2.      Escola o título adequado a seu perfil e ao prazo da aplicação
  1. 3.      Aproveite as funcionalidades do Tesouro Direto

O programa oferece funcionalidades como o reinvestimento automático e a compra programada

Essa matéria foi publicada na edição 50 da revista InfoMoney, referente ao bimestre maio/junho de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip