Refugiada muda para os EUA e alcança a independência financeira antes dos 40

Conheça a história de Kaisorn, a tailandesa que teve uma infância difícil, mas que deu a volta por cima e conseguiu a independência financeira aos 38 anos

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Kaisorn McCurry nasceu em um campo de refugiados na Tailândia, cresceu sem ter muito o que comer ou vestir e aos seis anos de idade, conseguiu permissão para morar nos Estados Unidos. Com muita dedicação e sorte, como ela mesma afirma, conseguiu um ótimo emprego e depois de muito economizar – e poupar – alcançou a independência financeira em fevereiro deste ano, aos 38 anos.

A infância de McCurry não foi fácil; seus pais fugiram de um genocídio liderado pelo guerrilheiro Pol Pot no Camboja e partiram para a Tailândia, onde ela nasceu. A alimentação, pautada exclusivamente no arroz e, às vezes, em insetos como formigas, cupins e grilos, fez com que a menina ficasse doente a maior parte do tempo. Para ganhar comida extra, ela tinha o costume de acordar cedo e se sentar na porta de um mercado do vilarejo, na esperança de receber balinhas dos donos.

A família não tinha condições de comprar roupas, muito menos de permitir que as crianças frequentassem a escola. Após sete anos na Tailândia, uma igreja batista financiou a ida de sua família aos Estados Unidos, mas enquanto a documentação estava sendo providenciada, tiveram que passar 9 meses em um campo de refugiados nas Filipinas. Durante este período, a menina passou praticamente um mês internada por desnutrição, sendo necessário penhorar joias para arcar com as despesas médicas.

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Com os documentos em mãos, a família se mudou para Raleigh, na Carolina do Norte, próximo à casa de uma tia. “Se eu não tivesse vindo para os Estados Unidos, provavelmente teria morrido de desnutrição”, conta. No novo país, Kaisorn passou a morar em um pequeno quarto alugado, dependendo da Igreja para comer e sobreviver.

“Tudo isso moldou quem sou hoje. Eu nunca pedi nada para meus pais, pois sabia que eles precisavam trabalhar muito para conseguir algum dinheiro. Além disso, os EUA me deram a oportunidade de viver e crescer: as necessidades básicas me foram providenciadas, recebi uma educação boa e gratuita, e consegui um bom trabalho para garantir meu sustento. Eu cresci com muito pouco, então nunca senti necessidade de muito, o que me permitiu guardar dinheiro”, explica.

Quando chegou aos Estados Unidos, Kaisorn não falava inglês. Foi por meio de aulas específicas para estrangeiros, com um professor que falava o seu idioma, que aprendeu a língua inglesa. Para complementar os estudos, um membro da igreja frequentava sua casa uma vez por semana de modo a ajudar com as lições de casa. “Eu era pequena, então aprender uma nova língua era fácil para mim”, lembra.

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No Ensino Médio trabalhou como atendente em um dos cinemas da cidade, o que segundo ela, não foi difícil de arranjar, porque além de ter boas notas na escola, é uma prática comum nos EUA contratar adolescentes para trabalhos deste tipo. Formada na escola, entrou em uma universidade pública, onde conseguiu o diploma em Administração e Negócios.

Foi por meio da indicação de sua irmã, manicure em um salão de beleza, que Kaisorn conseguiu o emprego de gerente de RH em uma multinacional de auditoria e consultoria.

Após alguns meses mostrando seu potencial, foi contratada permanentemente, passando a receber US$ 34 mil por ano. McCurry não se contentou com sua formação e após dois anos pediu demissão para cursar faculdade de direito.

Com o diploma nas mãos, porém, percebeu que não queria atuar na área de advocacia, utilizando o novo título para exercer o cargo de Analista Financeira Senior em um grande banco de investimentos, onde trabalhou por 10 anos até se aposentar no começo de 2016.

Com salário inicial de US$ 38 mil por ano, Kaisorn acredita na sorte e diz que só conseguiu o emprego por conta de seu qualificado currículo e pelo fato de a empresa ser recém-chegada na região e estar à procura de novos funcionários para compor a equipe. “Eu tive muita sorte, mas também sei que trabalhei muito para chegar onde estou hoje”, diz.

Quando questionada a respeito de seus investimentos e economias, McCurry diz: “Os meus pais sempre guardaram dinheiro, então isso me incentivou a economizar e a não gastar. Poupo desde criança, quando ganhava dinheiro em aniversários ou presentes de parentes. Quando comecei a trabalhar, coloquei o máximo que consegui em previdências, pois sei que são locais em que posso economizar e juntar para o futuro”.

A ideia de se aposentar mais cedo veio de seu marido, Justin McCurry, que também alcançou a independência financeira. Segundo ela, se não fosse por ele, ela provavelmente trabalharia até depois dos 60 anos de idade, mesmo se tivesse uma quantia suficiente para se aposentar.

Ela tentou se aposentar em setembro de 2015, mas seu chefe fez várias propostas que a mantiveram no cargo até o começo deste ano. Além de ter horários mais flexíveis, bônus e aumento no salário, foi oferecido o pagamento de até três meses sabáticos. Outro fator que a fez ficar foi o psicológico, uma vez que a vida inteira teve que trabalhar para sobreviver. “Meus pais trabalharam a vida inteira e eu ganho mais do que todos os meus irmãos. O meu trabalho me garantia um dinheiro fácil, eu poderia continuar trabalhando e ajudando a pagar as contas sem problemas”, explica.

Mãe de três filhos, Kaisorn vê a aposentadoria como um privilégio, pois finalmente pode se dedicar às crianças e participar de atividades em família. “Eu sinto que estou mais ocupada do que quando estava trabalhando. Parece que há mais coisas para se fazer, tanto de lazer como produtivas, ao invés de ficar sentada numa cadeira dentro de um escritório o dia todo”, diz. Seu próximo objetivo é viajar, visitar Camboja, Filipinas, Laos e seu país de origem, a Tailândia.

Àqueles que querem alcançar o milhão, McCurry dá alguns conselhos: “Poupe, mas poupe de verdade. Seja inteligente com o seu dinheiro. Se você quer algo, espere até aquele produto entrar em promoção ao invés de pagar pelo preço cheio. Planeje antecipadamente e guarde dinheiro para o futuro. Não gaste todo o seu dinheiro em desejos momentâneos. E por último, tenha certeza de que você tem dinheiro no caso de alguma emergência”.

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