Mercado aposta em PEC da Transição mais enxuta após tramitação no Congresso e reage com juros em queda

Curva de juros está caindo por conta de fatores externos (alta das ações de commodities). Mas, internamente, mercado continua pressionado, dizem analistas

Neide Martingo

(Getty Images)

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O mercado segue em compasso de espera.  Com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição protocolada nesta segunda-feira (28) pelo governo no Senado, foi conhecida a intenção do governo, após dias e dias de conversas sobre o tema.

Mas a proposta divulgada ontem não trouxe grandes mudanças em relação à minuta apresentada por Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, semanas antes. A versão inclui uma autorização para gastar pelo menos R$ 198 bilhões acima do teto por ano, valor que engloba despesas com o novo Bolsa Família e investimentos públicos.

Desta forma, os olhares dos agentes financeiros hoje estão focados na tramitação que o texto terá no Congresso. A repercussão no mercado de títulos públicos foi amena, dizem analistas. Mas é porque o mercado espera que o texto seja modificado antes da aprovação. As perguntas são: qual será o valor aprovado, como o montante será usado e de onde virão as receitas para financiar os projetos do próximo governo.

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A intenção do governo eleito é aprovar a PEC até 16 dezembro para que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) seja votado com essa definição.

“O valor está muito acima do que é necessário para que o presidente eleito cumpra as promessas de campanha. A proposta continua entregando um risco fiscal muito grande”, diz Ricardo Jorge, sócio da Quantzed. “Não sabemos quem vai compor a equipe econômica e quais as fontes de financiamento que bancarão os projetos sociais”.

Segundo Ricardo, a curva de juros está caindo hoje por conta de fatores externos (alta das ações de commodities). Mas, internamente, o mercado continua muito pressionado. “O Congresso vai querer, de alguma maneira, usar o poder de voto para barganhar algum benefício junto ao novo governo”.

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Fabricio Gonçalves, CEO da Box Asset Management, é contundente: “A PEC protocolada não é o que o mercado gosta. Os investidores querem previsibilidade. Ou seja, o mercado precisa entender os números. Desta forma, os investidores saem de cima do muro e tomam as suas decisões”. Segundo ele, a proposta pode ser “desidratada” durante a tramitação no Senado e ficar mais enxuta, com prazo de até dois anos. “O mercado está apostando nessa desidratação”, ressalta.

Os investidores se perguntam, neste momento, o quanto, exatamente, qual será o total de recursos que ficará fora do teto de gastos. A curtíssimo prazo, na opinião de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, será possível ver uma desvalorização cambial e a saída dos investidores. “Há risco de os juros futuros ficarem pressionados e até a expectativa de inflação pode piorar para 2023 e 2024, o que afeta o futuro do balanço de risco do Banco Central e suas decisões no futuro”, detalha.

Já Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, percebe que o mercado recepcionou a PEC da Transição de “maneira positiva”. Ele faz coro e reforça que o texto, provavelmente, não será aprovado da forma original. “Mas é preciso tratar de outras questões, como os nomes dos que vão compor os ministérios, a equipe econômica e de quem ficará à frente da Fazenda”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney