“Imóvel não é complicado”, diz para brasileiros corretora dos EUA que já vendeu US$ 1 bi

Jaqueline Teplitzky já foi sargento do exército de Israel e é especialista em imóveis em Miami e Nova York

Leonardo Pires Uller

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SÃO PAULO – Comprar um imóvel nos EUA é um sonho de muitos brasileiros que, cada vez mais, tem virado realidade. No entanto, eles estão fazendo as melhores escolhas de investimentos? Não necessariamente, acredita Jaqueline Teplitzky, que é uma das maiores corretoras de imóveis dos EUA, especialista nos mercados de Nova York e Miami e cujo time já vendeu mais de US$ 1 bilhão em imóveis desde 2000.

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Jaqueline, nascida no Chile e que já foi sargento no exército de Israel, vende cerca de 150 a 200 imóveis por ano. 40% das vendas da corretora são para brasileiros interessados em comprar uma casa de férias nos EUA, ou então investir no mercado imobiliário do país, seja para lucrar com o aluguel ou para ganhar com uma potencial valorização de imóveis.

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A corretora, que é uma das maiores do país, destaca que o comprador brasileiro ouve demais a opinião de pessoas que não são especialistas e que podem não ter as melhores sugestões de imóveis para investir. Confira a entrevista com o InfoMoney:

InfoMoney: Qual é o perfil do comprador de imóveis brasileiro? O que ele procura na hora de investir em um imóvel e com o que ele se importa mais?

Jaqueline Teplitzky: O brasileiro vai muito atrás daquilo que ele lê nos jornais e do que ouve dos amigos. A opinião dos amigos é muito importante para eles também, o que muitas vezes é um problema. Em Nova York, por exemplo, a maior parte dos brasileiros decide comprar imóveis na mesma área que amigos, no leste do Central Park porque muitos conhecidos têm imóveis lá, mas isso não significa que essa é a melhor opção para eles.

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Eu tive que aprender a falar com os brasileiros antes de eles virem para Nova York ou Miami, uma vez que eles tendem a ouvir mais dos amigos, do que dos profissionais do negócio. Cidades como Nova York mudaram dramaticamente nos últimos quinze anos, o que significa que nem sempre eles vão escolher as melhores opções pensando só no passado de colegas.

InfoMoney: E quais são os principais erros que os brasileiros cometem?

Jaqueline: Além da falta de uma opinião profissional na hora de decidir comprar um imóvel nos EUA, muitas vezes acontece a escolha de profissionais errados. Em Miami, todo mundo é corretor de imóveis: o cabeleireiro, a pessoa que limpa apartamentos, entre outros. Todo mundo tem licença. No entanto, essas pessoas não são profissionais de verdade, têm a venda de imóveis apenas como um extra.

Muitas vezes eu falo com os brasileiros no segundo momento, quando eles já compraram e fizeram erros. Não tiveram os conselhos certos antes de vir para os EUA. Quando eu converso com eles, eu falo: “antes de pegar o avião, converse com um advogado nos EUA e um advogado no Brasil, para saber as taxas, para entender como tudo funciona”, investir em um imóvel não é complicado se você sabe o que está fazendo.

A mensagem que eu deixo para os compradores e vendedores é: faça sua lição de casa antes de vir para os EUA. Muitos brasileiros vão para Miami e ficam animados, querendo comprar de qualquer jeito, comprar no mesmo prédio que amigos achando que essa automaticamente vai ser uma boa ideia, o que pode não ser verdade.

Outra coisa que os brasileiros não entendem bem é a transparência do mercado imobiliário em Nova York e Miami. Nas duas cidades, você tem toda a informação de todas as vendas de imóveis, é informação pública e os brasileiros não estão acostumados com isso e acabam nem pedindo essa informação. Se alguém quer vender algo para você, é importante ver se o preço é bom, ver os dados, saber como está o mercado de cada cidade, também é importante entender esses dados, ter alguém para explicá-los.

Áreas como Miami Beach, por exemplo, podem ser mais caras, mas lá a quantidade de terra para construir é mais limitada, então o upside do da propriedade que você comprar pode ser maior justamente por isso. É preciso realmente entender o mercado, visitar com calma.

Muitas pessoas veem para os EUA em férias e querem vistar apartamentos em duas horas para fazer uma decisão. Se você vier para descansar, não tem problema, mas tire dois ou três dias para conhecer os bairros, entender as diferenças entre eles. A partir daí você pode decidir onde comprar. Também existe muita confusão sobre as cidades e regiões, é preciso parar de acreditar em boatos. Além disso é preciso entender como funciona o pagamento de comissões nos EUA na hora de investir em um imóvel.

Também é importante entender que Miami antes era uma cidade mais de férias, do feriado de ação de graças (novembro) até a páscoa (abril), porque as pessoas de cidades como Nova York e Chicago iam para lá. Agora não é mais assim, os brasileiros têm férias em julho e vão para a cidade, os chilenos e argentinos também vão no começo do ano.

Isso também é uma coisa que os brasileiros precisam saber: o tempo para comprar. Todo mundo vem na mesma época. Se você vier em uma época mais tranquila, como agosto, é diferente, os vendedores podem estar um pouco mais flexíveis no preço. Quando o mercado está quente não tem jeito, mas quando ele está mudando, você deve saber o melhor timing para fazer os negócios.

InfoMoney: E qual é a vantagem de investir em imóveis nos EUA e mais especificamente em Nova York e Miami?

Jaqueline: Eu diria que nós temos duas vantagens. A primeira é que os EUA são um mercado mais estável. Todo mundo vai falar da crise de 2008 e 2009, mas existem ciclos no mercado e nós aprendemos a lição. Miami é um exemplo que teve queda forte na época e os preços agora estão quase nos mesmos níveis que estavam antes da crise e continua barato. Em Nova York, o preço já passou os patamares pré-crise.

Além disso, é um mercado mais resiliente porque você não se baseia em apenas uma fonte de compradores. Miami por exemplo não tem em seu mercado comprador formado somente por brasileiros. Você vê chilenos, argentinos, venezuelanos, nova iorquinos, que costumam ter um padrão de vida mais alto, canadenses, europeus – especialmente italianos e franceses. Isso significa que, caso a economia não esteja indo bem no Brasil, Miami vai quebrar, porque você tem pessoas de todo o mundo comprando lá. Existe uma diversidade de compradores.

Nova York é um mercado ainda mais estável. 70% das pessoas que compram em Nova York vão viver no apartamento o ano inteiro, não compram para passar férias, por exemplo. Isso acontece por conta da atração da cidade, especialmente para as pessoas mais jovens. Se você se forma nos EUA, onde vai querer fazer negócios? Em Nova York. Até as empresas de tecnologia, como o Google e o Facebook estão na cidade e empregam jovens por salários altos. Além disso, Manhattan é uma ilha, existe um espaço limitado daquilo que você pode construir e muitos prédios não podem ser demolidos. Isso deixa o inventário da cidade limitado. Você tem mais demanda do que oferta em Nova York.

InfoMoney: E como funciona o relacionamento com os brasileiros na venda de imóveis?

Jaqueline: Tenho 15 pessoas que trabalham no Time Jacky Teplitzky. Tenho dois brasileiros que trabalham comigo, além de um argentino que é casado com uma brasileira. Então o Brasil para nós é um mercado muito importante. Nós também gostamos dos brasileiros, diferentemente dos americanos, eles são muito educados, não ligam aos finais de semana para falar de negócios. Os brasileiros são uma povo muito legal e você cria uma relação de longo prazo com eles.

InfoMoney: E qual é a maior diferença do mercado imobiliário em São Paulo ou no Rio de Janeiro, por exemplo, com Nova York ou Miami?

Jaqueline: No Brasil, se você é um comprador, precisa trabalhar com vários corretores, pois cada um terá, em sua carteira, apartamentos diferentes. Em Miami e Nova York é outra coisa, no momento que um comprador fecha comigo, a relação é mais pessoal e as outras corretoras são avisadas de que esse comprador está com a minha corretora. Quando uma pessoa procura vários corretores nos EUA, se forma uma bagunça, porque eles não levam esse comprador a sério. O comprador tem que se comprometer com apenas um corretor e ele pode mostrar todas as propriedades disponíveis.

Esse corretor estuda o que o comprador precisa e encontra as melhores opções.  Mas, as vezes, os brasileiros ficam desconfiados, uma vez que eu não posso dar meus contatos, minha expertise, meus advogados, para alguém que eventualmente pode trabalhar com outros corretores. Os brasileiros acham que estou enganando eles quando digo isso, mas não é verdade. Na Flórida e em Nova York todas as propriedades a venda estão listadas e as informações são mais abertas do que no Brasil. O mesmo problema acontece com clientes da Argentina e do Chile.

Eu quis comprar um apartamento para a minha mãe no Chile e tive que ligar para vários corretores, o que é uma dor de cabeça. O melhor caminho nos EUA é primeiro procurar um corretor que você quer trabalhar, falar com seu advogado para daí comprar a propriedade imobiliária.