Tesouro Direto, previdência, ações: quais as melhores alternativas à poupança?

Hélio Nunes Ferreira, CFP, planejador financeiro certificado pelo IBCPF, responde a pergunta de leitor do InfoMoney

Equipe InfoMoney

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Pergunta:

Qual a melhor opção hoje para investimento? Atualmente tenho utilizado a poupança. É uma boa fazer uma previdência, hoje renderia mais?

E em ações? É arriscado investir e se não, em que ações podemos investir? Quanto ao título “Tesouro”, funciona melhor que a poupança?

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Leitor: Carlos

Resposta de Hélio Nunes Ferreira, CFP, planejador financeiro certificado pelo IBCPF:

Prezado Carlos,

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A melhor opção de investimento depende de fatores essenciais como os objetivos do investimento, o perfil de risco do investidor, o valor a ser investido e o horizonte de tempo disponível para permanência da aplicação. Sua pergunta é generalista e muitos desses fatores não ficaram evidenciados na mesma. Como menciona que realiza aplicações em caderneta de poupança, que é o investimento financeiro mais simples e mais tradicional do país, além de ter baixo risco, deduzo que você é um investidor com baixa propensão a assumir maiores riscos.

Os investidores com menor propensão a riscos, costumam aplicar seus recursos financeiros em investimentos de renda fixa, ou seja, aqueles que proporcionam uma taxa prefixada ou pós-fixada. A caderneta de poupança, por exemplo, é uma aplicação com rendimento pós-fixado.

Em termos de rendimentos, a renda fixa tem como parâmetro a taxa Selic, que é a taxa de referência para o endividamento do governo, através dos títulos públicos. O Banco Central tem elevado a Selic nos últimos meses visando conter o aumento da inflação. Em 26.02.2014, após mais um aumento (de 0,25%), a taxa foi elevada para 10,75% ao ano. Na última pesquisa semanal feita pelo Banco Central junto às instituições financeiras, o mercado espera Selic de 11% ao final de 2014 e 12% ao final de 2015. Mesmo que esses valores não se confirmem exatamente como projetados, é muito pouco provável Selic abaixo do patamar atual durante este e o próximo ano, o que gera uma maior atratividade pelas aplicações em renda fixa.

A mudança na taxa Selic afeta outro importante indicador do mercado financeiro que é utilizado pelos bancos para referenciar as aplicações financeiras. Trata-se da taxa CDI (Certificado de Depósito Interbancário) que representa a média das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras quando emprestam dinheiro entre si. Historicamente o CDI tem-se mostrado pouco abaixo da taxa Selic. O CDI, que também é chamado DI, está na casa dos 10,5% ao ano após o último aumento da Selic.

Dentre as principais aplicações financeiras de renda fixa destacam-se a caderneta de poupança, os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Fundos DI e Títulos Públicos (Tesouro Direto). Vou comentar de forma resumida sobre a rentabilidade de cada um deles no contexto atual, ressaltando que os números apresentados são projeções, não constituindo garantia de que os mesmos atingirão rigorosamente os valores projetados.

Caderneta de poupança – quando a taxa Selic está acima de 8,5%, como agora, o rendimento da poupança é a taxa referencial (TR) + 6% ao ano. A média de rentabilidade para os depósitos efetuados entre o dia 01.03 e 07.03.2014 é aproximadamente 0,58% ao mês o que equivale a 7,1% ao ano. A caderneta de poupança é isenta de imposto de renda para pessoa física.

CDB – para definir a rentabilidade do CDB os bancos utilizam como parâmetro o CDI, ou seja, os bancos pagam nessa aplicação um determinado percentual em relação ao CDI. Esse percentual varia de instituição para instituição de acordo com os seus interesses negociais. É preciso que o investidor saiba o percentual do CDI que o banco oferece para que possa analisar o prazo da aplicação e os efeitos da tributação, pois o CDB é tributado com imposto de renda (IR). A alíquota é regressiva, de acordo com o prazo da aplicação, conforme a tabela abaixo.

Prazo da Aplicação Alíquota de Imposto de Renda (Renda Fixa)

Até 180 dias: 22,50%

181 a 360 dias: 20,00%

361 a 720 dias: 17,50%

Acima de 720 dias: 15,00%

Considerando o cenário atual, atribuindo-se rendimento da poupança de 7,1% e CDI de 10,5% ao ano, para que as aplicações em CDB tenham rendimento igual ao da poupança deverão ser observadas as seguintes condições:

Aplicações até 180 dias – rendimento do CDB de 87,3% do CDI;

Aplicações de 181 a 360 dias – rendimento do CDB de 84,5% do CDI

Aplicações de 360 a 720 dias – rendimento do CDB de 82% do CDI

Aplicações acima de 720 dias – rendimento do CDB de 79,5% do CDI

No cenário em questão, o CDB somente será mais atrativo que a poupança se pagar percentuais de rendimento superiores aos mencionados acima.

LCI e LCA – essas duas aplicações são isentas de imposto de renda para pessoa física. Em termos de rendimentos os bancos emissores também trabalham com percentual do CDI. Devido à isenção de imposto de renda para pessoa física, com CDI projetado de 10,5% ao ano, para obter rendimento igual ao da poupança, a LCI/LCA precisa oferecer um rendimento de 67,6% do CDI

Fundos DI – são os fundos de investimento atrelados ao CDI. Nos fundos, os bancos atuam como administradores dos recursos dos clientes e são proibidos pelos órgãos normatizadores de prometer rentabilidade definida. Os fundos DI procuram aplicar os recursos em investimentos que acompanhem a variação do CDI, porém deve ser avaliada a taxa de administração, a qual incide sobre o patrimônio líquido do fundo. É preciso analisar criteriosamente a taxa, pois quanto mais elevada for menor será a rentabilidade do fundo.

Tesouro Direto – é um programa criado através da parceria entre o Tesouro Nacional e a bolsa de valores que permite a compra e venda de títulos públicos por pessoas físicas. Como o Tesouro é o emissor dos títulos, essas aplicações são de risco muito baixo. As aplicações estão sujeitas a incidência de imposto de renda nas mesmas condições e alíquotas das demais aplicações de renda fixa.

Para facilitar o entendimento da rentabilidade em títulos públicos, tomemos como exemplo dois títulos ofertados em 11.03.2014, a Nota do Tesouro Nacional – série B (NTN-B) e a Letra do Tesouro Nacional (LTN). A NTN-B remunera o investidor pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo (índice oficial de inflação) – mais uma taxa de juros reais (acima da inflação) com pagamento semestral de juros (cupom de juros). A LTN remunera o investidor a uma taxa prefixada, sem cupom. Segue o exemplo:

NTN-B – vencimento em 15.05.2019; rendimento – IPCA + 6,36% ao ano

LTN – vencimento em 01.01.2017; rendimento – 12,68% ao ano

Considerando IPCA projetado de 6% ao ano, a NTN-B renderia aproximadamente 12,3% ao ano, ou seja, IPCA mais juros, contra 12,68% da LTN. Deve ser observado que as aplicações em títulos públicos através do Tesouro Direto estão sujeitas a custos de 0,3% ao ano cobrados pela bolsa de valores e mais taxa da instituição financeira que intermedia a operação, que varia de acordo com a instituição, sendo mais comum 0,40% ou 0,50% ao ano. Atribuindo taxa da instituição financeira de 0,50% mais a taxa cobrada pela bolsa, a rentabilidade aproximada dos títulos do exemplo antes do imposto de renda passaria a ser:

NTN-B – 11,5% ao ano

LTN – 11,88% ao ano

Essa é a rentabilidade antes do imposto de renda. Com valor aplicado por 360 dias (alíquota de IR de 20%), a rentabilidade após o IR seria:

NTN-B – 9,2 % ao ano

LTN – 9,5 % ao ano

Como foi trabalhado com hipótese de CDI a 10,5% e poupança projetada de 7,1% ao ano, no contexto atual esses títulos apresentam rentabilidade superior à poupança. Entretanto, a rentabilidade mostrada no site de negociação do Tesouro Direto somente será alcançada se o título ficar na posse do investidor até o vencimento. Se o papel for de longo prazo (há NTN-B com vencimento em 2035 e 2050, por exemplo), houver elevação na taxa de juros de mercado em relação à época da compra e o título for vendido antes do vencimento, poderá até apresentar rentabilidade negativa. Por isso, é preciso muita cautela antes da compra de títulos de prazo longo, sendo recomendável conhecer as características de cada título ofertado antes de realizar a negociação.

Todas as projeções forem feitas levando em conta aplicações acima de 30 dias para não haver incidência de IOF.

As aplicações em caderneta de poupança, CDB, LCI e LCA até o limite de R$ 250.000 por CPF/instituição financeira contam com a cobertura do FGC – Fundo Garantidor de Crédito, no caso de insolvência da instituição financeira emissora.

Apesar de fundamentadas em dados que refletem o cenário econômico atual, as simulações de taxas e rentabilidades aqui demonstradas tiveram como objetivo mostrar a relação existente entre as variáveis econômicas e as aplicações financeiras, não constituindo recomendação de investimento, pois para isso seriam necessárias mais informações, conforme relatado no início deste texto. Antes de tomar qualquer decisão de investimento é necessário sempre avaliar as condições do momento, assim como as perspectivas futuras das variáveis envolvidas, após análise de todas os dados disponíveis.

Quanto às ações, são sim investimentos de alto risco que exigem do investidor maior conhecimento da dinâmica desse mercado e dos elementos que possam influenciá-lo. Os investimentos em ações devem ser feitos com perspectivas de retorno no longo prazo por investidores que tenham perfil de risco compatível, além de algum nível de conhecimento do mercado acionário, a fim de possibilitar o dimensionamento adequado do volume de recursos financeiros que está disposto a expor a riscos mais elevados na esperança de obter maiores ganhos. Geralmente as grandes perdas incorridas no investimento em ações são decorrentes da falta de observância dessas condições básicas.

Já a previdência complementar tem como objetivo complemento futuro da aposentadoria oficial, uma vez que o INSS tem um teto para pagamento de aposentadorias, hoje pouco mais de R$ 4.300. Por essa razão, a escolha de um plano de previdência complementar deve sempre levar em conta objetivos de longo prazo, valor da complementação de aposentadoria que deseja, nível e origem da renda atual/tributação pelo imposto de renda, dentre outros. Esses elementos devem ser observados seja para recebimento de valores periódicos, seja para resgate total futuro do valor aplicado. As empresas que administram os planos adotam estratégias de investimentos sempre com foco no resgate a longo prazo e, caso haja solicitação de resgate para valores aplicados por pouco período de tempo, poderá haver perdas. Trocar a caderneta de poupança por um plano de previdência, tendo como foco exclusivamente a rentabilidade, não constitui uma decisão sensata levando-se em conta os objetivos e as particularidades que norteiam esses dois instrumentos de planejamento financeiro.

Mais uma vez ressalto a necessidade de analisar bem o cenário econômico antes qualquer decisão de investimento, recorrendo ao auxílio de profissionais especializados que possam oferecer as informações necessárias para tomada de decisão que compatibilize os objetivos das aplicações financeiras com as necessidades do investidor. De acordo com o montante aplicado é recomendável diversificar os valores investidos dentre as opções disponíveis, com intuito de diluir o risco obtendo uma melhor relação risco e retorno nos investimentos, sem descuidar do perfil do investidor e dos objetivos pretendidos.

Hélio Nunes Ferreira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). 

As respostas refletem as opiniões do autor. O IBCPF e o Infomoney não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para onde_investir@infomoney.com.br

Prezado Hildebrand, 

Pouco a pouco é possível ver mudanças significativas no perfil de investimento dos brasileiros. Percebemos, por exemplo, o crescimento do numero de jovens que estão disponibilizando parte de sua renda para se planejar financeiramente para a sua aposentadoria. É um movimento que tende a crescer cada vez mais ao longo dos próximos anos, especialmente com a educação financeira em curso em nossa sociedade. 

 Sua iniciativa é digna de receber elogios e servir de exemplo a outros tantos… 

 Como seu planejamento para esse investimento tem um horizonte de 15 anos algumas observações importantes devem ser feitas. Em uma simulação com um investimento inicial de R$ 10.000 e aplicações regulares de R$ 500, com uma rentabilidade anual de 10%, atingiremos após 15 anos um capital de R$ 242.583, sem considerar a inflação no período. Com esse capital investido é possível viver com uma renda de aproximadamente R$ 2 mil/mês, complementando a sua aposentadoria. No entanto, a pergunta magica é como atingir essa rentabilidade para um baixo risco no investimento. 

 Com as informações presentes não é possível identificar qual o seu perfil de investidor, onde seria possível identificar o quanto de risco você esta propenso a aceitar em sua carteira de investimentos (para saber o seu perfil de investidor é aconselhável buscar sua instituição financeira e responder ao questionário “Suitability”). No entanto, podemos considerar que você segue o padrão brasileiro de conservadorismo em seus investimentos, bastante carregado de “renda fixa” , mas propenso a conhecer novos produtos para pequenos investimentos. 

 Sugiro, para você superar a rentabilidade apresentada na simulação, que divida seu patrimônio em 2 partes. 

 A primeira parte é separar R$ 5 mil inicial e 80% de suas aplicações regulares para um fundo de renda fixa com credito privado que supere consistentemente 100% do CDI. Muitos fundos conseguem superar esse benchmark, e possuem aplicações inicias bastante acessíveis. Prefira esse investimento as NTN-Bs e a sua aplicação em imóveis. 

 Para os outros R$ 5 mil iniciais, e 20 % de suas aplicações mensais (R$100,00), podemos ser um pouco mais arrojados, buscando atingir uma rentabilidade superior do que a renda fixa. Como sua disponibilidade atual é pequena para ser investida diretamente em ações (coma na sua atual carteira de ações de Vale e Itau), uma excelente alternativa são os fundos de ações. 

 Os fundos de ações são, para a grande maioria dos investidores, a melhor alternativa para seus investimentos em renda variável. Apresentam vantagens como liquidez, diversificação e uma gestão profissionalizadas dos seus investimentos. Com ele você estará bem atendido para atingir sua meta de longo prazo na aposentadoria. Procure gestoras com comprovada competência em sua equipe de analise, e fundos de ações que sejam considerados “Ibovespa ativo”, com a intenção de superar o bechmark. Prefira esses as ações propriamente ditas. 

 E lembre-se: o resultado do seu sucesso financeiro também depende de você! 

 *Fabiano Pessanha, CFP, planejador financeiro certificado pelo IBCPF