Como investir e ganhar dinheiro com juros baixos? Gestor de hedge fund responde

Para Marco Aurélio Freire, gestor da estratégia hedge fund da Kinea, a principal questão agora não é em qual patamar os juros ficarão, mas principalmente se haverá volatilidade

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – A queda de juros tem um impacto instantâneo no bolso dos investidores de renda fixa. Quem antes conseguia um rendimento líquido de mais de 1% em investimentos pós-fixados quando a Selic estava em 14,25% ao ano, agora precisa se contentar com um retorno mensal de cerca de 0,6%, já que a taxa básica de juro está em 8,25% a.a atualmente – e a tendência é que recue mais, de acordo com a expectativa dos analistas.

Para Marco Aurélio Freire, gestor da estratégia hedge fund da Kinea, gestora com R$ 25 bilhões sob custódia, a principal questão agora não é exatamente em qual patamar os juros ficarão, mas principalmente se a taxa vai ficar estável ou se haverá volatilidade.  “Se for volátil, os gestores brasileiros sabem operar neste ambiente. Eles aprenderam a fazer isso. Mas se a taxa ficar estável a indústria de fundos tem que mudar muito”, disse Freire, em entrevista ao InfoMoney.

Na opinião do gestor, neste cenário será importante que os gestores comecem a olhar mais para o micro do que para o macro nas operações. “Nos juros isso pode ser feito pegando o movimento de um vértice contra o outro. Ou seja, fazer relativo na curva de juros, comprando um vencimento e vendendo outro”, aponta Freire. O mesmo deve ser feito nas operações em Bolsa. “Será preciso analisar bem as empresas. Fazendo long & short, você compra as ações que enxerga bom potencial e vende aqueles que acredita na queda, sempre em pares”, explica.

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Entre as apostas do fundo multimercado Kinea Chronus estão posições em títulos prefixados com vencimento em 2021 e na NTN-B, que são títulos de inflação, com vencimento entre 2021 e 2022. “A oportunidade não está mais em apostar se a Selic vai ficar em 7% a. ao ou 6,5% a.a. Está em acreditar se a taxa vai voltar a subir em breve ou não”, acredita o gestor. “Se achar que é uma queda mais duradoura você tem que se posicionar com juros longos. Nós acreditamos que a Selic vai ficar baixa por mais tempo, por isso temos estes vencimentos”, afirma.

Em bolsa, o fundo tem baixa exposição comprada. “Estamos fazendo muito mais long & short. Temos 35 pares aproximadamente dentro do fundo. Gostamos de empresas como Lojas Americanas e Rumo. No caso da Rumo, compramos ela contra as concessionárias. Achamos que no setor de logística, a parte de ferrovias é preferível às rodovias, já que o transporte via caminhão é ineficiente”.

Já no mercado internacional, o fundo se posiciona para um aumento de juros nos EUA em um prazo de dois anos. “Se o FED vai subir os juros nos próximos meses ou não, é difícil dizer. O que acreditamos é que nos próximos dois anos os juros vão subir mais do que duas vezes. E o mercado não espera isso”, diz.

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Busca por melhor rentabilidade

Na opinião de Freire, que é compartilhada por 10 entre 10 especialistas em finanças, os investidores que quiserem uma rentabilidade mais elevada vão precisar procurar aplicações um pouco mais sofisticadas. “O cliente está tendo que se mexer. Tem que buscar produtos de maior valor agregado, que tenha mais ativos”, diz. Ele também lembra que essa migração para ativos mais rentáveis e consequentemente mais arriscados precisa ser feita com calma. “Pode haver solavancos, como o que aconteceu em maio [no dia 18, quando vazaram trechos da conversa entre Joesley Batista, da JBS, e o Presidente Michel Temer, o mercado financeiro sofreu um forte baque e a Bolsa chegou a cair 10%]. Então as pessoas devem fazer esse movimento gradualmente”, aconselha.

Para isso, o investidor deve mudar um pouco seus hábitos e passar a ter uma visão mais de longo prazo.  “Isso não é algo trivial quando o país tem cultura do CDI, da cota diária. O cliente vê um mês negativo e fica muito preocupado. Demora anos para mudar essa cultura. Ainda estamos engatinhando”, acredita.

 Para quem quer uma rentabilidade maior do que na renda fixa, mas com um risco moderado, Freire afirma que os fundos multimercados são um bom primeiro passo. “Este tipo de fundo não é tão volátil como um fundo de ações e também não é tão direcional. Se o ambiente piorar, o fundo dá espaço para o gestor tentar proteger o capital do cliente. O multimercado é um veículo natural para começar essa transição [da renda fixa para aplicações mais arriscadas]”, conclui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip