Conheça o fundo de ações do JPMorgan e suas apostas na Bolsa brasileira

O fundo JPM Ações rendeu 28,35% este ano até o dia 18 de setembro

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Identificar oportunidades na Bolsa e aproveitá-las no tempo certo é o desafio de todo investidor de renda variável. E ainda que o mercado acionário brasileiro passe por um momento de euforia, com o Ibovespa batendo recordes dia após dia em setembro, comprar ações e ganhar dinheiro com isso no longo prazo nunca será uma tarefa trivial.

Focado principalmente em investidores institucionais, que respondem por mais de 90% do patrimônio do fundo, o fundo JPM Ações, do JPMorgan Asset, rendeu 28,35% este ano até o dia 18 de setembro, ante uma alta de 26% do Ibovespa no mesmo período. Olhando no longo prazo, desde a sua criação, em março de 2007, o fundo rendeu 140%, mais que o dobro da valorização de 63% do principal índice da B3 nestes pouco mais de 10 anos. Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, as duas co-gestoras do fundo, Paola Bonoldi e Magali Bim, explicam como fazem a seleção dos papéis que estão na carteira do fundo.

Com um time formado por 7 analistas – um no Brasil, um em Hong Kong, dois em Londres e três em Nova York -, o fundo utiliza ainda a equipe research do banco no Brasil para a seleção dos papéis. “Nossa equipe é composta por pessoas muito experientes, que cobrem mercados do mundo todo. É uma vantagem ter uma estrutura global, porque podemos ter analistas cobrindo não só as empresas brasileiras de um setor, mas também seus pares em outros países”, afirma Paola.

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A estratégia é “long only”, ou seja, o fundo opera apenas comprado em ações, e a carteira é dividida em duas partes: a “core” e a tática. Na carteira “core” entram os papéis de longo prazo, que ficam na carteira entre um e dois anos – podendo chegar a até quatro anos. Já na carteira tática entram posições que a equipe não tem tanta convicção, mas que podem ter bons gatilhos de alta em um espaço menor de tempo. “São tiros mais curtos, que investimos entre 3 e 6 meses, normalmente”, explica Paola. Além de ações “boas de trade”, elas também incluem na carteira tática aqueles papéis que têm potencial para fazer parte da carteira core, mas que ainda não convenceram totalmente a equipe de analistas. “Usamos como um teste para o papel fazer parte da carteira core posteriormente”, diz a gestora.

O fundo tem uma filosofia de investimentos fundamentalista e não há ressalvas em relação ao tamanho das empresas que farão parte do portfólio. “Não gostamos de ter restrições quanto a small caps, liquidez ou tipos de empresas. Obviamente não montamos grandes posições em papéis de baixa liquidez, mas não precisamos nos limitar por isso”, explica Paola.

Setor de consumo

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Entre os temas de investimento que o fundo mais acredita no momento está o setor de consumo. Mesmo diante de um cenário político conturbado, as gestoras lembram que o PIB (Produto Interno Bruto) já dá alguns sinais de recuperação e o país sai de uma taxa de juros  e inflação altas para um contexto de taxas menores. “Enxergamos um cenário que pode beneficiar empresas que sofreram nos últimos cinco anos. O setor de consumo já teve uma queda de receita tão grande nos últimos anos que qualquer sinal de melhora deve afetar bastante a última linha do resultado. Acho que é um cenário que pode perdurar por algum tempo”, diz Magali.

Na opinião dela, assim como os analistas erraram ao subestimar o impacto da margem dessas empresas quando a recessão chegou, eles também erraram na hora de estimar o impacto positivo quando a receita começar a voltar. “Por isso mesmo acreditamos na tese. As empresas [do setor de consumo] fizeram um trabalho de eficiência fenomenal, o que é visto nos resultados do segundo trimestre de 2017, quando a receita pouco oscilou frente ao segundo trimestre de 2016, mas o Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) cresceu na faixa de 10%. Por isso mesmo enxergamos continuação desses resultados, já que a receita ainda não melhorou tanto”, diz. No entanto, ela afirma que é preciso ficar atento e escolher bem as ações deste setor. “Comprar apenas empresas que ganham com os juros em queda, como aquelas precificadas como ‘bonds’ (caso de shopping centers por exemplo) não vai funcionar. É preciso fazer um ‘stock picking’ para saber quem deve entregar os melhores resultados, quem se beneficia mais na margem com uma diluição dos custos fixos, entre outros fatores”, aconselha a gestora.

Segundo Magali, se de fato houver uma recuperação da economia no ano que vem, com uma alta do PIB entre 2% e 3%, as empresas mais defensivas e mais resilientes devem sofrer mais na bolsa. “Isso pode acontecer pois no passado os investidores compraram demais essas empresas. Comprava-se aquilo que ‘não ia quebrar’, o que deixou esses valuations extremamente esticados”, diz.

Ações

Uma das ações do setor que está na carteira do JPM FIA é a do Magazine Luiza, que já chegaram a subir 7.000% nos últimos 2 anos e apenas em 2017 registram forte alta de 500%. “Nós só compramos depois de fazer um trabalho muito forte de análise. Conhecemos a empresa desde Franca [cidade do interior de São Paulo onde a Magazine Luiza nasceu] e fizemos um trabalho super meticuloso de montar modelo e de ir na empresa conversar com o Beto [Roberto Bellissimo Rodrigues, diretor financeiro e de relações com investidores], com o Fred [Frederico Trajano, CEO da empresa]. Tivemos várias discussões acaloradas em comitês aqui no banco, já que é difícil convencer um analista que pode comprar Best Buy lá fora a ‘encarteirar’ Magazine Luiza. Enfim, tivemos que passar por tudo isso e hoje temos pouco mais de 100% de rentabilidade desta posição em nossa carteira e ainda mantemos no fundo”, diz Magali.

Ainda no setor de consumo e também dentro da carteira tática, o fundo do J.P Acredita nas ações do Pão de Açúcar, que subiram 37% nos últimos dois anos. “Pegamos muito bem a alta. O Pão de Açúcar é um exemplo de empresa cujos resultados estão melhorando pela reorganização da empresa e pelo cenário da economia. A companhia está em um setor que não está ameaçado de uma disrupção e tem um ativo de bastante capilaridade. Se for bem gerido, é um papel que dá para carregar por muito tempo”, diz Magali. No entanto, a gestora lembra que o Pão de Açúcar enfrentou há pouco tempo sérios problemas de governança e estrutura acionária, o que também é levado em consideração  e faz com que o papel não tenha uma participação tão relevante na carteira do fundo. “Por esse motivo esta ação está na carteira tática. Mas tem potencial para entrar na carteira core, se ela de fato nos convencer que pode tornar-se um ativo relevante”, afirma a gestora.

 

 

Segundo a gestora, embora o múltiplo que ela esteja negociando assuste – o P/L (Preço/Lucro) projetado para 2018 na faixa entre 20x a 25x -, os analistas enxergam potencial para a empresa entregar um lucro grande e mudar sua identidade de empresa de bens duráveis para uma companhia de tecnologia. “Mas por mais que estejamos certos, esta é uma estratégia arriscada.  É um projeto que está sendo montado por apenas uma pessoa e a Magazine Luiza atua em um setor que praticamente não tem par na bolsa local para fazer uma comparação”, explica Magali.

Veja abaixo os comentários das gestoras sobre outras ações e setores que o fundo investe:

Energisa – “É nossa maior aposta dentro do setor elétrico. Continuamos investindo. A empresa beneficia-se de redução de juros, mas também tem um fator muito importante de execução. É uma companhia bastante diversificada, tem muitas distribuidoras. Está participando dos leilões de transmissão e também beneficia-se do processo de regulação do setor. Temos o papel no fundo há algum tempo, já performou muito bem, mas ainda mantemos a aposta”, diz Paola.

B3 – “Temos uma aposta grande já há algum tempo em B3, justamente por conta do tema de alavancagem operacional. Não só isso, mas também as sinergias com a Cetip, o que pode trazer uma reprecificação de múltiplos da empresa em relação a bolsas internacionais em um cenário de crescimento maior da economia. Então esse investimento também foi feito olhando para esse potencial de retomada [da economia]”, afirma Magali.

Petrobras –  “A gente gosta estruturalmente. Enxergamos uma mudança setorial e de regulação que vai ser muito boa para a empresa e para o País. [gostamos] Tanto da gestão operacional quanto comercial. Temos uma posição em Petrobras, pois mesmo que o preço do petróleo ofusque algumas coisas no curto prazo, a gestão da empresa mudou para melhor e isto não está precificado”, explica Paola.

Aço – “Está em um ótimo momento. Pelo menos nos próximos 6 meses, que é até quando dá para pensar com estes papéis, o momento deve ser bom para aço, pelo que estamos vendo na China. Temos uma exposição [no setor] e achamos que dá para manter nesse horizonte de tempo”, diz Paola.

Utilities – “Tivemos [posições em utilities] até o final do ano passado. Copasa nós compramos depois do ‘evento’ da Sanepar [a forte queda das ações em março por conta da revisão tarifária]. O preço da ação já tinha caído muito, mas mesmo assim não foi um trade que nos deu muito dinheiro. Sanepar nós não compramos. Foi uma decepção completa este setor e prova que, principalmente no caso da Sanepar, estava muito na mão de um evento só, e era tudo muito incipiente. Uma regulação muito recente e dividida por Estado deixou muito frágil este evento. Essas empresas têm valor, haja vista a necessidade de investimento em saneamento básico, mas ainda precisam de tempo para amadurecer a ideia no governo, pois para se investir neste setor é preciso dar uma tarifa interessante para estas empresas. Quanto à regulação, estamos voltando a ver alguns riscos políticos no setor de concessão de rodovias, coisa que não víamos faz tempo. Mas se tem um setor que já mostra uma grata evolução é setor elétrico, com o trabalho do Ministério de Minas e Energia. Ainda tem muita coisa travada, mas já andou bastante”, conclui a gestora.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers