Gestor de R$ 100 mi conta como escolhe suas ações e por que “foge” do Ibovespa

"O brasileiro tem mania de investir em Ibovespa, mas tem que começar a olhar outras alternativas", diz André Wainer, da Athena Capital

Paula Barra

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SÃO PAULO – Fundada há cerca de dois anos, a Athena Capital cresceu com o objetivo de ser uma casa monoproduto, 100% voltada para ações. Uma casa puramente fundamentalista e que conta com uma equipe de cinco analistas escolhida a dedo para garimpar boas ações, com previsibilidade razoável e que deem retorno elevado no longo prazo. Essa é a essência da gestora, que atualmente gere quase R$ 100 milhões em recursos. 

Atualmente, a Athena concentra toda sua estratégia em um fundo, o Athena Total Return FIC FIA , que atualmente é destinado apenas para investidores qualificados. Nos planos estão abrir um fundo para os demais investidores, mas André Vainer, gestor e fundador da gestora, explica que o motivo de ainda ser restrito é por conta do indexador, pois se abrirem não poderiam mais usar o IPCA.

“Nosso objetivo hoje é buscar o IPCA mais 6% de retorno. Não investimentos na Bolsa, mas em empresas. Quando você tem um benchmark como o Ibovespa, acaba criando uma metodologia que tem como obrigação olhar alguns ativos que não necessariamente acreditamos que vai gerar valor, mas que é muito relevante para o índice, como Petrobras (PETR3; PETR4), por exemplo. Você poderia ser até efetivo em outros ativos, mas se não tivesse Petrobras provavelmente não conseguiria bater seu benchmark”, explica.

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Com o alvo no IPCA mais 6%, ele acredita que eles consegue focar apenas no que pode gerar valor. Além disso, isso seria mais justo com o cliente, pois o que acontece com muitos fundos de ações é que eles entregam uma rentabilidade quase que nula mas mesmo assim estão fazendo um “ótimo trabalho”, já que superaram o desempenho negativo do Ibovespa. “Quero dar retorno absoluto. Claro que no curto prazo o Ibovespa é um parâmetro como renda variável, mas no fim das contas queremos dar retorno nominal e real. Quando olhamos a rentabilidade, a obrigação é remunerar o capital do cotista de forma real. Assim estamos sendo totalmente justos e alinhados com o cotista”, explica.

Segundo ele, a visão do longo prazo é muito importante porque eles não estudam uma empresa preocupados se irá subir em dois ou três meses, mas se irá subir ao longo dos anos. “O brasileiro tem mania de investir em Ibovespa, mas tem que começar a olhar outras alternativas”. Embora ainda muito prematuro – o histórico do fundo é de maio de 2014 -, a estratégia tem batido o Ibovespa: enquanto o índice caiu 4,5% de maio a dezembro do ano passado, o fundo da Athena subiu 2,41%. 

Aprendendo com a crise de 2008
Com esse foco, Vainer conseguiu passar e, muito bem, pela crise de 2008, quando comandava a XP Gestão.  “Eu entrei na XP Investimentos no meio de 2008, em um período bem tumultuado, logo depois que o Lehman Brothers quebrou, mas tudo se provou uma grande oportunidade de investimento da minha geração. E soubemos aproveitar isso muito bem”, comentou. Na época, o fundo que geria subiu 70% (isto até 2013, quando saiu da corretora), enquanto o Ibovespa caiu próximo de 6%. “Conseguimos rentabilizar muito bem os cotistas em um universo bem adverso de investimentos em renda variável. Não só batemos o Ibovespa como também todos os indicadores de renda fixa”, lembra. 

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Desempenho atribuído principalmente a estratégia de olhar ativo a ativo e não se preocupar com o mercado em si. “No curto prazo não tem jeito, seja nas altas ou nas quedas, você acaba tendo uma correlação bastante alta de qualquer ativo com o mercado, mas no longo prazo isso vai se dissipar e essa correlação vai ficar muito baixa. Sempre batemos na tecla de que não investimentos na Bolsa, mas sim em empresas”, comentou.

Segundo ponto que ele destaca é olhar pouco para a macroeconomia. “Claro que tenho uma visão do que está acontecendo no macro, mesmo porque me formei em economia, mas não é só antecipar o dólar, juros e inflação que vamos achar investimentos bons ou ruins”. Vainer comenta que os fundos que gere só investem em ativos que eles enxergam valor e se justifiquem estruturalmente, mesmo em cenários macroeconômicos complicados. 

Por isso, hoje, o fundo da Athena tem uma fatia na Equatorial (EQTL3), do setor de energia. “É uma empresa bem gerida, barata e em um setor de retorno elevado. O risco de racionamento existe mas o impacto nos fluxos de caixa futuro é reduzido. Ele influencia a decisão de alocação, porque teríamos uma participação maior da empresa no fundo neste momento, mas não inviabiliza o case de investimento”, comenta. 

O gestor explica que se olhar para o curto prazo, em um cenário de racionamento, que a demanda caía 10%, o impacto no Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) é muito grande, mas o valor de um ativo está no fluxo dos próximos anos. Quando você volta à normalidade, o impacto do racionamento no valor do ativo como um todo é baixo. Não é desprezível, mas é baixo. “Se for para colocar em números, enxergamos uma TIR (Taxa Interna de Retorno) real próxima a 13%. Um número excepcional de investimento. Vamos passar por um ano ruim de resultados e é por isso que limitamos nossa posição, mas isso não nos impede de alocar recursos”, disse.

As maiores exposições
Além de Equatorial, Vainer comenta que o fundo atualmente tem posições relevantes em ações preferenciais da Itaúsa (ITSA4), ordinárias da Lojas Americanas (LAME3), Lojas Renner (LREN3), Comgás (CGAS5) e Cielo (CIEL3). Outra que também possui exposição, não tão relevante mas que fez questão de comentar é Grazziotin (CGRA3; CGRA4), uma varejista de vestuário com foco nas classes mais populares e atuação na região sul do País. Segundo ele, a empresa é “excepcional, barata, bem gerida e entrega bons resultados em sequência”. Todas as qualidades que o fundo busca, entretanto, tem liquidez reduzida. Mas que, por conta disso, é extremamente descontada em Bolsa.

A decisão na alocação em Itaúsa deve-se ao desconto que o papel oferece frente ao do Itaú Unibanco (ITUB4), o que para ele é injustificado. A Itaúsa é uma holding que possui majoritariamente ações do Itaú Unibanco, mas está sendo negociada atualmente com um desconto maior do que o habitual em relação ao banco. “De 96% a 97% da Itaúsa corresponde ao valor do Itaú e a partir daí chegamos a um desconto justo para a ITSA4 próximo 15%. Entretanto, hoje, ele está girando em torno de 21% e 22%. E por isso preferimos Itaúsa ao invés de Itaú”, explicou.

A mesma visão é atribuída a escolha das ações ordinárias da Lojas Americanas. O fundo optou pelas ações LAME3 ao invés de LAME4, que possuem maior liquidez. Segundo ele, a escolha deve-se a mesma lógica: os papéis LAME3 oferecem um desconto injustificado frente à LAME4, sendo que os dois ativos correspondem a mesma empresa e possuem o mesmo direito de “tag along” (ferramente de proteção aos acionistas minoritários). Entretanto, a LAME3 negocia quase a 25% de desconto da LAME4, só por conta da falta de liquidez. “Como temos um preocupação baixa com a falta de liquidez uma vez que pensamos em um horizonte de investimento de longo prazo, para nós não faz sentido comprar as ações preferenciais”, comentou.