Parceira de hotéis da Hard Rock no Brasil é investigada e quer captar R$ 607 milhões

Companhia que toca projeto com atraso de 5 anos coleciona reclamações e promete entregar obra até o fim de 2023

Estadão Conteúdo

(Foto: Divulgação)

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Há quase dez anos, um grupo de cotistas aguarda para exercer seu direito de relaxar em um resort de luxo que está sendo erguido em Sertaneja, município com menos de 10 mil habitantes na região Norte do Paraná (a cerca de 80 km de Londrina). A entrega, prevista inicialmente para 2013, agora está prometida para o ano que vem. Desde então, o projeto já mudou de mãos e ganhou uma nova marca poderosa – Hard Rock Resorts -, mas mesmo assim ainda não saiu do papel.

O projeto hoje está na mão da Venture Capital Participações e Investimentos (VCI), parceira do grupo americano no Brasil, que anunciou o acordo em dezembro de 2017, assumindo dois empreendimentos do tipo – o do Paraná e um no Ceará – cujos donos originais tinham enfrentado dificuldades financeiras e que ainda continuam na promessa.

Hoje, quase 6 mil cotistas dividem o direito de propriedade do resort no norte paranaense: entre quem fez o investimento, reina a incerteza sobre quando o hotel ficará pronto e certo desânimo com a aquisição. Desde o início da parceria com a Hard Rock, o VCI lançou empreendimentos com potencial de gerar R$ 8 bilhões em vendas.

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A companhia segue vendendo cotas dos hotéis em regime de frações (multipropriedade) e montou uma nova operação no mercado de capitais que pretende arrecadar um total de R$ 607 milhões para financiar as obras. A primeira fase da captação, de R$ 230 milhões, já está em andamento.

Apesar dos recursos levantados e do fluxo contínuo de vendas, os clientes se queixam há meses do ritmo lento de evolução das obras e da falta de prestação de contas. “Tem sempre gente batendo martelo lá, quebrando uma parede aqui ou ali, mas do jeito que está indo vão mais de 20 anos para acabar a obra”, diz um cliente que costuma visitar o local no Paraná e esteve na obra há cerca de dois meses.

INVESTIGAÇÕES

Mas o ceticismo dos clientes não se resume a reclamações em redes sociais e em órgãos de direito do consumidor. Vai muito além. Suspeitas de irregularidades recaem sobre os responsáveis pelos projetos em dois processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Procurado, o órgão disse não comentar processos em andamento. As suspeitas levantadas pelo regulador do mercado são averiguadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.

Procurada, a empresa nega irregularidades e afirma que até o momento nada foi comprovado em nenhuma instância, mesmo após anos de verificações. Também sustenta que parte das acusações se refere a captações de recursos feitas por um antigo dono de um dos projetos. A companhia ainda disse ter passado por diligências de cinco meses e afirma acreditar em sua absolvição no julgamento da CVM, aguardado para dezembro.

Procurado, o Hard Rock Internacional afirmou que monitora todas as fases dos seus negócios no País. “O Brasil é e continuará a ser um mercado importante para a Hard Rock International”, afirmou a empresa, em nota. A rede americana disse também que será responsável pela operação e pela gestão dos hotéis do Paraná e de Fortaleza. “A VCI é a parceira para a incorporação, a construção e a comercialização dos empreendimentos, no modelo multipropriedade.”

Obras evoluem lentamente, empresa tenta acelerar

Com centenas de pedidos de rescisão de contratos na mesa por causa de atrasos em obras, o fundo VCI corre para dar ritmo a suas obras. No Paraná, segundo a empresa, o número de trabalhadores em atividade saltou de 114 para 240, com a expectativa de alcançar mais de 600 no início de 2023. No Ceará, são hoje 608 trabalhadores, com expectativa de atingir mais de mil no ano que vem.

A evolução é acompanhada por auditorias da empresa Cushman & Wakefield, especializada na área imobiliária. A VCI também trouxe profissionais com experiência no mercado imobiliário, como o CEO Fábio Villas-Bôas, ex-Tecnisa.

Documentos sobre a nova captação de debêntures informam que, em agosto, as obras estavam com evolução de 33,8% no Paraná e 53,5% no Ceará.

A empresa alega que precisou fazer adaptações ao padrão da marca internacional, inclusive com a demolição de partes existentes e alega que 46,44% da obra está concluída no Paraná e 65,17%, no Ceará.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.