Boas Perspectivas

Taxas de juros menores, redução da dívida das famílias, mais crédito bancário e alta no índice de confiança apontam para um aumento das vendas em 2018

Equipe InfoMoney

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A retomada gradual de crescimento do mercado imobiliário, como mostram os indicadores dos últimos meses, assinala aumento em torno de 10% das vendas de casas e apartamentos em relação a 2017. Essa é projeção da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para o setor. E também a expectativa de Vitor Guimarães Bidetti, CEO da Brazilian Real Estate Investimets (BREI) e gestor do FIP BKO1, fundo de investimento da BKO, incorporadora voltada para edifícios comerciais e residenciais de médio e alto padrão. A Cyrela, que atua nesse mesmo patamar de apartamentos, e a MRV, voltada para o segmento mais econômico, partilham a visão de que o reaquecimento do mercado imobiliário está sendo gradual. A crise, acentuada entre 2014 e 2016, com poucos lançamentos e vendas retraídas, já vai ficando para trás.

Para Bidetti, existe otimismo por parte das empresas do setor. “Há fatores positivos influenciando neste crescimento. A taxa de juros em queda é determinante, porque os bancos se sentem mais confortáveis em fornecer crédito de longo prazo. A perspectiva para o crescimento do crédito imobiliário em São Paulo em 2018 é de 35%, o que vai impulsionar bastante o mercado”, diz. “Há redução do endividamento das famílias, o índice de confiança melhorou um pouco e, citando os bancos, o Itaú, por exemplo, que estava com crédito bem restrito para empreendimentos, já está voltando com fôlego.” Segundo o executivo, o mercado também voltará a investir em apartamentos de médio e alto padrão. “De fato, houve um fenômeno nas capitais quanto aos compactos. Em 2017, das 28 mil unidades lançadas em São Paulo, 16 mil tinham até 45 m2. Mas agora haverá um retorno aos imóveis maiores, que estavam com a demanda reprimida”, observa.


“Ainda no crescimento da confiança e na volta do emprego as condições necessárias a retomada do mercado, diz João Eduardo de Azevedo Silva, da Even

Rodrigo Resende, diretor de Vendas da MRV Engenharia, maior operadora do programa Minha Casa, Minha Vida, diz que em 2017 a empresa registrou recorde de lançamentos e vendas, com mais de 40 mil unidades negociadas no país. E agora, no primeiro trimestre de 2018, conquistou a marca de R$ 1,4 bilhão em vendas, com aumento líquido de 22,3% em relação ao mesmo período do ano passado. “Diante disso, traçamos um ano ainda melhor do que 2017, tanto em demanda por casa própria como em resultados, a despeito das indefinições no campo da política”, afirma o diretor. Também para ele, os fatores importantes para o reaquecimento do mercado imobiliário são juros baixos e disponibilidade de crédito. “O foco da MRV sempre foram os imóveis econômicos. Agora estamos fortalecendo nossas novas linhas de produtos com geração de energia fotovoltaica nas áreas comuns. A tecnologia, inédita para o setor, alia sustentabilidade e economia para os moradores”, diz. “Mas devemos seguir tendências do mercado, voltando a investir também em empreendimentos de média renda em São Paulo, Curitiba, Campinas, Porto Alegre e Salvador até o fim de 2019.”

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Para João Eduardo de Azevedo Silva, diretor vice-presidente de Operações da Even, o crescimento do mercado imobiliário depende, no caso da cidade de São Paulo, “da agilidade da prefeitura no apoio de aprovação de novas edificações, como os programas como o Aprova Rápido e a revisão do Lei de Uso e Ocupação do Solo”. O executivo também cita “o equilíbrio econômico do país e eleição favorável ao desenvolvimento das reformas e moralização de nossa condição política”. Os juros são molas propulsoras para o interesse na compra de imóveis, observa Azeredo, mas acrescentando: “Temos ainda no crescimento da confiança e na volta do emprego as condições necessárias para a retomada do mercado”. Segundo ele, a Even já trabalha, agora em 2018, com produtos para alta renda, como o Altto Vila Madalena.

Diretor geral de Negócios SP da Tegra Incorporadora, Thiago Castro diz que a empresa acredita na constância do mercado imobiliário, pelo movimento já iniciado em 2017. Mas também observa: “Além de juros mais baixos, os índices vão depender do ambiente econômico, com retomada de pleno emprego e confiança, e do clima político, com a influência das eleições; além de fatores umbilicalmente ligados ao setor, como confiança jurídica”. No momento atual, o setor ainda enfrenta desafios importantes, “como a ausência de uma lei que regule os distratos”, segundo o diretor. “ O foco da Tegra está nos mercados de alto e médio padrão, localizados nas regiões valorizadas da capital paulista, onde existe demanda. “Nosso público não é o investidor, mas o usuário final. Por isso, apostamos muito em pesquisa de mercado para identificar necessidades e oferecer empreendimentos que entreguem diferenciais desejados por essas famílias. No ano passado, já vimos melhora no setor como um todo e neste ano deveremos continuar crescendo. Temos 13 lançamentos programados para 2018, todos nesses segmentos.” Segundo Thiago Castro, foram sete novos produtos da Tegra em 2017, o que torna natural o aumento do estoque. “Ainda assim, nossa posição é positiva, considerando o percentual de venda de estoque versus vendas de lançamentos nesse período.”


“Além de juros mais baixos, os índices vão depender do ambiente econômico e político e de fatores como confiança jurídica”, afirma Thiago Castro, da Tegra

Segundo a Cyrela, a retomada do mercado imobiliário está sendo gradual, com o recuo de juros e o aumento de recursos alocados na poupança, que são sinais positivos para o financiamento da habitação. Outro fator destacado por eles é a queda nas taxas de desemprego. Sobre mercados prioritários, a Cyrela aponta que imóveis de médio padrão têm alto potencial em bairros estratégicos de São Paulo, pela boa localização com fácil acesso a várias regiões da cidade (um empreendimento no bairro Socorro teve 100% das unidades vendidas em dois meses).

Quanto ao alto padrão, a empresa também mostra otimismo. O exemplo citado é um edifício na Chácara Santo Antônio com design do Yoo (renomado escritório de Londres), que teve vendidos 60% de seus apartamentos desde seu lançamento no fim de 2017.

José Romeu Ferraz, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas no Estado de São Paulo (Sindus- Con), afirma que “a reação do mercado imobiliário em 2017 foi surpreendente e superou as expectativas iniciais do setor”. Para ele, é fundamental a ampliação do acesso aos recursos do crédito imobiliário, o que já está ocorrendo. “Outro fator aparentemente sob controle no momento e que impacta diretamente o poder de compra é a inflação. Com patamar oscilando entre 4% e 4,5% para este ano, é provável que haja maior confiança em investimentos de longo prazo, como é a aquisição de um imóvel”, observa. Ainda sobre a retomada do crescimento do mercado imobiliário, Flavio Amaury, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), destaca: “Também esperamos continuar nos patamares aceitáveis de hoje. E também que seja concluída e aprovada a calibragem da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo da cidade de São Paulo e haja maior controle do déficit público”.

Com dados sociodemográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fundação Getulio Vargas realizou um estudo, encomendado pelo Secovi-SP, que constata que serão necessários mais de 14 milhões de novos domicílios entre 2015 e 2025 para suprir o déficit habitacional. Isso significa que o setor teria de lançar 1,5 milhão de unidades no período. Mesmo que esse número não esteja sendo atingido, para Amaury “a retomada de lançamentos e a comercialização de imóveis novos na cidade de São Paulo contribuem para ampliarmos as perspectivas de retorno do emprego na construção civil a partir do segundo semestre de 2018”.