Crédito no Brasil é 8 vezes mais caro do que nos Estados Unidos

Spreads brasileiros devem se manter de 6 a 7 vezes acima do praticado no mercado internacional pelo prazo de três a quatro anos

Weruska Goeking

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  SÃO PAULO – A diferença entre os juros cobrados em operações de crédito no Brasil e a taxa básica de juros, conhecido como spread de crédito, se mantém em patamares extremamente elevados mesmo diante da queda da Selic.

 De acordo com levantamento da Creditas, plataforma digital de empréstimos com garantia, o spread médio de operações de crédito com recursos livres para o pessoa física encerrou o mês de junho em 53,5 pontos percentuais (pp), número 7,8 vezes maior que o spread praticado em mercados como os Estados Unidos, onde essa diferença é de 6,9 pp.

 “O crédito no Brasil tem uma discrepância entre a taxa básica de juros e a praticada no mercado. O spread médio para pessoa física varia de 30% a 35%. Com a expectativa de queda da Selic para perto de 8%, fica mais difícil para os bancos gerarem um spread maior. A pressão social está aumentando”, diz Sergio Furio, fundador e CEO da Creditas.

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 Com a lenta redução de spreads, Furio acredita que os spreads brasileiros devem se manter de 6 a 7 vezes acima do praticado no mercado internacional pelo prazo de três a quatro anos.

 Entre os fatores que justificam os spreads altos no País estão a existência de poucos competidores, a pressão de processos ineficientes sobre os custos operacionais dos bancos e a popularidade de modalidades de crédito mais onerosas e de curto prazo como cheque especial, empréstimo pessoal e financiamento da fatura do cartão de crédito. Esses meios acabam comprometendo a renda das famílias, elevando o risco de inadimplência embutido nos juros.

 Outro ponto importante nessa comparação é a baixa – ou quase nula – oferta por empréstimo com garantia no País. “No Brasil, a oferta de empréstimo com garantia é quase inexistente. Enquanto nos Estados Unidos os empréstimos originados nessa modalidade respondem por cerca de 5% das operações de crédito, no Brasil, estimamos que essa taxa esteja em 0,1%”, avalia Furio.

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 Um exemplo da diferença nos perfis de endividamento entre os mercados de crédito dos dois países e o impacto da baixa participação de empréstimos de longo prazo, com alguma garantia envolvida, é a dívida por capita.

 “Enquanto no Brasil a média anual é de R$ 7.655,27 ou US$ 2.319,78, nos Estados Unidos é de R$ 130.018,57 ou US$ 39.399,57, uma dívida cerca de 16 vezes maior, porém com juros em média 8 vezes mais baixos”, afirma Furio.

 Mudança no rotativo

Se os cortes na Selic não vêm mostrando impactos significantes no spread bancário, as novas regras para o cartão de crédito já mostram algum resultado. A medida restringe o pagamento mínimo do valor da fatura para um mês e obriga os bancos a oferecerem parcelamento com juros mais baixos.

 “Estamos completando três meses dessa nova medida e antes os juros no rotativo era de quase 500% e agora está em 378%. É uma queda de pelo menos 100 pontos percentuais, mas ainda é super alto”, avalia o CEO da Creditas.

 Os dados consideram os números mais recentes divulgados pelo Banco Central e pelo Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano), com taxa de juros médios para recursos livres e pessoas físicas de 63,3% ao ano, no Brasil, e de 7,9% a.a, nos Estados Unidos.

 O cálculo considera ainda Selic de 10,25% a.a., em vigor no mês de junho, anterior ao último corte anunciado pelo Banco Central, e taxa de juros básica norte-americana de 1% a.a. A conversão do dólar levou em conta a taxa média PTax de R$ 3,30 para o fechamento do dia 30 de junho.