Você já pensou no futuro do dinheiro? Especialista explica

Cartões devem evoluir, assim como as credenciadoras de cartões

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Em tempos antigos, vários itens do dia-a-dia eram usados para que as sociedades humanas para realizar suas trocas. A situação evoluiu com o passar do tempo, passando para moedas, papel, até chegar na atual situação atual, em que o dinheiro nas formas de moeda e papel moeda estão sendo substituídos pelo famoso dinheiro de plástico, os cartões.

Mas mesmo eles estão sendo substituídos. É comum, em Hong Kong, usar uma espécie de carteira de identidade para realizar pagamentos – algo que o município São Paulo pode começar a fazer em breve. No Japão, os pagamentos via celular são populares há mais de uma década, enquanto o Google desenvolve uma tecnologia de pagamento por proximidade com smartphones, o famoso Google Wallet.

Falando sobre o futuro do dinheiro, a Riobravo Investimentos entrevistou Phillip McHugh, da divisão de crédito e de desenvolvimento estratégico da Barclaycard, em seu Podcast. McHugh explica a sua visão para o dinheiro no futuro, em um mundo cada vez mais globalizado, assim como para as credenciadoras e o crédito, abordando assuntos diversos, como a parceria do Barclays com a estatal que gere o transporte em Londres e a tecnologia de NFC (Near Field Communication). Confira: 

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Riobravo: Conte sobre sua trajetória profissional, como chegou até aqui trabalhando agora com cartão de crédito? 

McHugh: Comecei minha carreira na indústria com fabricantes, depois do meu MBA que entrei na área de finanças e fui contratado pela Credicard aqui no Brasil. Comecei minha carreira no Brasil, no meio da década de 90, quando o cartão de crédito estava crescendo muito, era algo ainda novo. Entrei fazendo vários tipos de trabalhos, gerenciando vários produtos, gerenciava a portfólio da Diners e foi fantástico. Credicard foi uma empresa enorme, inovadora, rápida, tinha uma força de marketing muito grande e foi uma empresa rara, que controlou todos os lados de pagamentos, tanto para os varejistas quanto para os consumidores. Fiz isso por 4 ou 5 anos, aprendi muito, aí continuei minha carreira fora de cartões com o banco Citibank, fui para os Estados Unidos por muito anos. Sempre cobrindo a América Latina, mas outros produtos financeiros. Em 2006, fui para a Barclays, e já fazem 8 anos que estou lá, metade em finanças e tesouraria, cobrindo vários mercados, fui CFO global da Barclaycard e no ano passado, peguei uma das divisões principais da Barclaycard, que é a Barclaycard Business Solutions, que faz tudo em tecnologia e soluções para corporações. Temos para consumidor, cartão de crédito, e temos o lado corporativo, que é aceitação de pagamento dos cartões corporativos, pagamentos para as corporações, outras soluções também usando dados e informações. Então, eu toco essa divisão hoje, mas também sou super envolvido em qualquer coisa de estratégia da Barclaycard.

Riobravo: O que se pode considerar de novo ou inovador nesse segmento no uso de cartões de crédito? 

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McHugh: Os cartões de crédito começaram há 20 ou 30 anos, tinha onda de crescimento, mas nesses últimos anos não mudou tanto. Tem Mastercard, Visa, os bancos que vendem, se troca cheques e dinheiro por plástico. Isso continua, mas agora acho que vai mudar muito mais, estamos entrando em quase uma revolução de pagamentos com as novas tecnologias. No futuro, não vai só se usar plástico, mas vários tipos de formas de pagar, tanto no celular como em outras ferramentas. Hoje se tem celulares com mini cartões de credito, pago com meu celular hoje na Inglaterra. Toda essa tecnologia de acessar e transacionar para o cliente, faço assim, uma forma totalmente diferente, mas também tem muitas pessoas entrando nesse negócio. Não só os bancos, Mastercard ou Visa, têm novas bandeiras entrando que são importantes na Europa, por exemplo, China Union Pay, é uma rede muito importante agora, são muito poderosos. Se você quer vender em Londres, tem que aceitar não só Mastercard e Visa, mas China Union Pay. Se você quer crescer, precisa ter estratégias de e-commerce online, porque nele você vende para o mundo, e não só aceitar 3 ou 4 tipos de bandeiras, mas sim 200 ou 300 tipos de bandeiras, o que é muito mais complicado. Tem coisas que não são só tradicionais, que é tipo o botãozinho para pagar, tem vários desses tipos de tecnologias chegando. Ai tem outras mais alternativas, tipo bitcoin, que também vai começar. Então, tanto para consumidor quanto para o varejista, tem muita inovação, o que é bom, mas também é confuso para as pessoas sobre qual pagamento vai dominar, qual vai mudar e etc. E se você é uma empresa, é difícil entender como é uma estrutura para aceitar outros tipos de pagamentos. Estamos em um momento de muita movimentação e acho que nos próximos 10 anos vai mudar muito no mundo.

Riobravo: De que modo essas inovações tem fortalecido o surgimento do que se tem chamado de cashless society? 

McHugh: Todas essas inovações que descrevi, tanto do jeito que uma empresa aceita o pagamento quanto o do consumidor que faz, tudo ligado com cashless e as grandes tendências disso são: primeiro, tem mais tecnologia e têm várias opções para se fazer pagamentos. Antigamente, ter cartão de crédito tinha que ter renda, só usava para certos tipos de gastos, aí veio o cartão de débito que popularizou mais, e agora se vê muito prepaid accounts, contas pré-pagas, isso vai se popularizar muito mais porque são pessoas que não tem acesso a uma conta bancária. Mas ainda sim tem outras coisas, se pode pegar o salário e jogar no celular, tem, por exemplo, no Quênia, na África, as maiorias das transações agora lá não são dinheiro, é tudo por celular, é super popularizado. Segunda tendência é os bancos passarem por crise, tem que colocar mais capital, liquidação é mais difícil, tem que cortar muitos custos. As redes nacionais dos bancos são ineficientes, não conheço tanto o mercado brasileiro, mas tem muitas redes por aqui, muitas agências. As principais funções em uma agência é gerenciar dinheiro mesmo, algo físico. Se você é uma empresa pequena, precisa de dinheiro e vai ao banco, mas se eles forem fechando agências vai ser mais difícil entrar no banco. Está se vendo muitos bancos investindo em tecnologia para eliminar dinheiro, que é mais rápido e eficiente, além de ajudar com o custo e infraestrutura do banco também. Então são tendências grandes, isso vai acontecendo, o problema é para mudar o hábito das pessoas e dos varejistas, demora tempo.

Riobravo: E esses são os grupos mais existentes? 

McHugh: Sim, o que acontece são duas coisas, tem esses hábitos humanos, quando a tecnologia é muito moderna fica difícil para as pessoas aceitarem. Até o cartão de crédito, há 20 anos, poucas pessoas compravam no online. Aqui quem entrou foi a Amazon, provou que se podia comprar online com confiança, já hoje em dia são totalmente normais, as pessoas alugam táxi, pagam qualquer coisa, entram em lojas e olham os produtos fisicamente para depois comprar online no celular. Os hábitos dos consumidores estão mudando, só que ainda tem grande parte da população que não vai mudar, eles gostam de utilizar ainda cheques. Segundo desafio que tem, em inglês nós chamamos de the chicken and the egg, como se fosse é primeiro a galinha ou o ovo? Se quer lançar uma tecnologia, dar para todos os consumidores, só que as lojas tem que mudar sua tecnologia para aceitar o pagamento, ou se você muda todas as lojas para aceitar uma nova tecnologia, precisa de consumidores para usar. Então isso é difícil, por exemplo, Credicard no Brasil foi importante, e tinha os dois, nós vendemos muito para as lojas, as máquinas para aceitar cartão e para os consumidores, as duas coisas foram crescendo juntas. Só que tem alguns tipos como o Google Wallet, Master Pass, que tentaram ir para o lado do consumidor, mas tem que trocar todas as máquinas nas lojas para aceitar o pagamento por celular e o varejista não vai querer fazer isso, não vai querer gastar seu dinheiro para isso. Então, tem que entender os dois lados e o terceiro lado, porque o banco também tem que fazer um pouco de dinheiro. Quando se vê que as três partes, o varejista, o consumidor e a empresa financeira têm um esquema, onde todos têm benefício, isso que é o que faz mudar. Na Inglaterra, a Barclaycard é a única empresa bancária, umas das poucas que sobrou no mundo, que tem um cred cred de varejistas que aceita pagamentos e consumidores. Então, essa coisa de onde você só toca seu cartão, somos o maior mercado do mundo. Demorou sete anos para fazer isso, de treino mais e mais, mas conseguimos vender para os dois partidos, para varejistas e consumidores. Aí vendo benefícios, vai crescendo, vira um círculo virtuoso, e é assim que se mudam realmente os hábitos. Sempre vai ter os que não querem usar, mas também precisamos entender como mudar o hábito do ambiente de pagamentos.

Riobravo: Você citou dois desafios, tem um terceiro que é a questão da segurança desses pagamentos. Ouvi durante muito tempo o temor de que o cartão de crédito fosse um espaço muito aberto à fraude, como que essas inovações têm coibido essa situação de fraude? 

McHugh: Cada vez que nós temos uma nova tecnologia, a primeira coisa que se tem é esse medo. Então, em alguns pontos, fraude é algo grande, tinha o evento lá na Target, nos EUA, que foi um evento importante, tinha muitos dados perdidos, e realmente o nível de segurança que essa loja teve com os dados não foi bom. É um medo real e as pessoas devem ter esse medo. Do outro lado, a maioria dos bancos tem serviços muito bons para guardar para os clientes e reembolsar contra fraudes, e por enquanto continua sendo uma das mais efetivas formas. Quando se compra com o cartão de crédito, tem muitas garantias, que o banco garante, faz investigação, repago, em muitos países é o banco que irá te reembolsar, então se tem esses tipos de seguros. Agora, em termos de tecnologia temos que mudar muito, como as regras de fraude, dados, nome de sua mãe, esses tipos de perguntas típicas hoje em dia não são tão úteis, pois se vai ao Facebook e tem os dados de todo mundo. Então, precisa de mais tecnologia, tem duas ou três coisas interessantes, o cartão de crédito de celular é uma excelente proteção, ali pode roubar seu número de cartão, mas roubar seu número de cartão e seu celular e triangular esses dois dados é muito mais difícil. Estamos vendo muitas tecnologias que estão usando localização geográfica com seu gasto, para entender como funciona seu hábito de consumo. A outra coisa que estou vendo, é a utilização de biometria, que não está acontecendo tão rápido quanto achei, mas estou vendo alguns exemplos interessantes. Acredito que esse tipo de tecnologia vai melhorar a situação, só que a fraude vai estar sempre um pouco atrás, é um jogo contínuo que sempre irá ter.

Riobravo: Sobre a experiência em Londres especificamente, que é uma metrópole enorme e que serve de referência para diversas tendências, como que o cartão de crédito tem sido utilizado para mudar a história do transporte público? 

McHugh: Um dos nossos maiores parceiros no Barclaycard é a Transport for London, que é uma empresa que gerencia todo o transporte e infraestrutura de metrô, ônibus e bicicleta, dentro de Londres. É um grande parceiro nosso, nós temos uma estratégia juntos para criar. Sempre teve um cartão chamado Oyster, que é um cartão pré-pago. Mudamos aonde aceita cartão de crédito e débito também, isso abriu muito as opções para a Transport for London e também cortou custos deles, pois não precisam gerenciar seu próprio cartão. Também utilizamos uma inteligência que pode pré-calcular a melhor taxa para você, então também é super focado no benéfico para o consumidor, com isso vamos mudar para transações no celular, também o que chamamos de wearables, tipo pulseiras. Tudo é com uma conta de cartão de crédito, você pode viajar, comer e passar o dia em Londres. Pensamos em Londres como um ambiente e como podemos facilitar as vendedoras, chamadas NFC – Near Field Communication, um pequeno radar que seu cartão emite e eles podem ler. Tem alguns países que tem um protocolo especifico, que aí não funciona, mas todos já estão indo na mesma direção, a maioria dos países podem usar como já se vê em Londres. Os ônibus funcionam hoje, o metrô vai ser popularizado para todos nesse ano.

Riobravo: E essa experiência da parceria tem acontecido desde quando?

McHugh: Já faz sete ou oito anos, é uma parceria já forte.

Riobravo: E o caso do Uber, caso dos automóveis que servem de carona paga, que está chegando aqui no Brasil também e já é uma experiência consolidada na Europa, como que essa parceria tem acontecido com vocês? 

McHugh: O Uber é um grande exemplo de como a tecnologia está mudando. Estão usando a tecnologia de conectar pessoas, mídias sociais, etc. Mas a grande parte do sucesso do Uber é o pagamento, que é super fácil, onde você cria um botão, coloca atrás dele qualquer cartão que você quer, e a partir disso você acha o motorista, ele te acha, viaja e fecha a conta, tudo automático. Isso está acontecendo em todas as indústrias, transporte, comida, entre outras, e tudo vai nessa direção. Nós trabalhamos muito com as empresas de tecnologia, no Barclays temos o banco de investimento, que tem muito relacionamento no Silicon Valley, trabalhamos então com muitas dessas empresas, discutindo suas estratégias de pagamento e na Europa, principalmente, temos muita capacidade de ajudá-los a crescer no negócio. Posso oferecer financiamento para os motoristas comprarem carro, pode ajudar na tecnologia de fazer pagamento, tenho o cartão de petróleo que ajuda a baixar o custo dos motoristas, também uso dados, tem o mercado de ofertas online e nós temos todos os perfis dos clientes, dos varejistas. Posso fazer o matching melhor, o Uber quer fazer promoção, posso ajudar a fazer essa promoção que usa muito táxi, por exemplo. Então tem vários jeitos de usar nossa tecnologia para ajudar a Uber a ser um sucesso, fazemos isso com qualquer empresa.

Riobravo: No caso da operação do Barclaycard para 2014 quais são os próximos desafios? 

McHugh: São vários, a Barclaycard é uma empresa que está crescendo e está conhecida dentro do Barclays com o banco, com fontes de crescimento no futuro. Estamos crescendo em todos os mercados, bastante nos EUA com o cartão de crédito mais tradicional, na Europa com cartões, e no lado corporativo usando toda a tecnologia para fazer a diferença entre nós e os outros bancos que não têm esse tipo de capacidade. Segundo, estamos investindo muito em infraestrutura para automatizar as coisas, se você tem um serviço que ainda usa papel ou precisa de alguém para ligar e chamar, isso não é sustentável no futuro. O que falamos é como o Facebook, o Uber, iria criar essa empresa, não iriam fazer como ligar ou enviar uma carta de resposta, não pensam assim, mas as empresas tradicionais ainda pensam assim, tem esse controle. Estamos passando muito tempo automatizando, garantindo serviço excelente no celular, então estamos investindo nisso porque achamos que isso serve para ser competitivo.