O que há por trás do atendimento médico particular acessível no Brasil

Brasileiros com menos recursos ou sem plano de saúde cada vez mais trocam as clínicas particulares comuns por essas empresas

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Ter um plano de saúde individual, sem vínculo empregatício, é cada vez mais difícil e caro no Brasil. Boa parte das empresas sequer oferece a opção, e as que oferecem podem cobrar até cerca de R$ 2 mil reais mensais, de acordo com dados da ANS.

Só em 2016, quase 1,4 milhão de pessoas que antes possuíam planos de saúde deixaram de tê-los, em cenário de crise – 630,3 mil só em São Paulo. Em 2015, o número foi só um pouco menor: 1,2 milhão.

Enquanto isso, as filas do Sistema Único de Saúde aumentam com a demanda de quem não pode pagar por consultas em clínicas particulares – também extremamente caras para a média da população.

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É nesse cenário que crescem em alta velocidade as operações de empresas como Globalmed, Clínica Fares e Dr. Consulta, cujo objetivo é oferecer atendimento mais barato, simples e rápido.

O Dr. Consulta, por exemplo, passou de 11 unidades no início de 2016 para 27 em janeiro de 2017. A Globalmed, que começou a expansão em maio do ano passado por meio de franquias, já está com 4 unidades em operação e duas que serão inauguradas ainda neste semestre. A previsão de faturamento da companhia é de R$ 8 milhões, mais que o dobro do ano passado, quando contabilizou R$ 3,6 milhões.

O que está por trás de tamanho sucesso são dois fatores fortes em combinação: há muitos brasileiros que não têm amparo de um plano empresarial – mas não necessariamente precisam ou podem esperar pelo atendimento gratuito do SUS e, ao mesmo tempo, os médicos buscam condições mais atrativas de trabalho.

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De acordo com Bruno Carvalho, CEO da Globalmed, médicos que atendem através do convênio ganham cerce de R$ 50 por consulta. “Isso muitas vezes não cobre os custos do escritório, com aluguel, salário de funcionários, entre outros gastos fixos e variáveis. Quando o médico trabalha no consultório de outra pessoa, ele ganha metade disso”, explicou o executivo em entrevista ao InfoMoney.

Embora as consultas das clínicas populares sejam mais baratas para o paciente, continuam vantajosas para os médicos, principalmente aqueles que não têm tanta “fama”. Estes não conseguem tantos clientes no atendimento particular e recebem mais, no fim das contas, atendendo nas clínicas onde o paciente paga a partir de R$ 75.

Diferenciais

Além do preço, essas clínicas, que despontaram a partir de 2014 no Brasil, oferecem diferenciais em atendimento, agilidade e formato de agendamento: todas elas marcam consultas online e prometem pouca espera aos pacientes. Todas as empresas desse modelo pesquisadas no têm taxa de 100% no quesito Reclamações Atendidas e nota acima de 5 no Reclameaqui, em sua maioria, as notas são acima de 7.

O publicitário Alexandre Vaz de Oliveira optou pelo atendimento do Dr. Consulta principalmente pela praticidade. “Uma conhecida me indicou pelos preços e eu vi que o agendamento era pela internet, não precisava falar com atendentes e tinha horário fácil. Foi bem prático”, diz ele, que está sem plano de saúde e continuou marcando suas consultas pela plataforma desde então.

No caso da Globalmed, a espera “máxima” é de 15 minutos. “Claro que às vezes tem um paciente em uma situação mais grave, que o médico precisa prestar mais atenção, e demora um pouco mais”, destaca o CEO. “Mas quando isso acontece a gente conversa com quem está na fila, dependendo tenta reorganizar a agenda na hora”, garante.

Também existem sistemas de pesquisa de satisfação digitalizados na tentativa de garantir um bom atendimento. É como os apps de caronas: médicos ou atendentes com notas baixas dadas pelos pacientes podem até perder seus empregos.

Temporário?

Conforme o esperado pelos criadores desse modelo de empresa, a maior parte dos pacientes vem diretamente do SUS, como forma de conseguir atendimento mais depressa em determinados casos. Ainda assim, a Globalmed já vê perfis bastante diversificados em seus agendamentos.

Com cerca de 60% de pacientes vindos do SUS, “hoje vemos [na Globalmed] cerca de 10% de pessoas que perderam seus planos de saúde recentemente, um número que veio aumentando no ano passado. Os outros 30% são pessoas que têm plano de saúde e mesmo assim preferem ir nas nossas clínicas”, contabiliza Bruno. 

O paciente Alexandre, todavia, afirma que, caso volte a ter plano de saúde através de uma empresa, provavelmente deixará o serviço. “Provavelmente ir pelo convênio, caso eu esteja em um plano onde pague apenas parcial, é mais em conta”, explica. “Além disso, eu prefiro ter a estrutura de um hospital”. Já houve casos, como quando precisou de uma colonoscopia, que ele sentiu a falta dessa infraestrutura – e gastou quantias altas por não ter plano.

“No Dr. Consulta tem como fazer alguns exames de imagem, de sangue, mas eu acho que me sentiria mais seguro estando no hospital, também porque acaba sendo mais oneroso se eu precisar de um tratamento mais demorado, acompanhamento médico, etc”, comenta o cliente, que gosta e recomenda o serviço, mas o classifica como algo “prático para quem está na correria e não tem uma alternativa melhor”.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney