Curva de juros tem maior inclinação da história após decisão do Copom

Mercado perdeu a confiança no Banco Central, e isso tem um importante impacto nos seus investimentos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A mudança de rota na estratégia do Banco Central para a política monetária brasileira trouxe à tona questionamentos sobre a credibilidade da instituição e o grau de independência de sua diretoria em relação ao governo e à presidência da República. Depois das sinalizações feitas ao final do ano passado e início de 2016 de que a Selic deveria subir no combate à inflação, o presidente do BC, Alexandre Tombini, surpreendeu o mercado ao emitir uma carta na terça-feira (19) — primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária — já justificando mudanças de avaliação de conjuntura após revisão de cenário apresentada pelo Fundo Monetário Internacional. O resultado disso foi a decisão não unânime pela manutenção da taxa básica de juros em 14,25% ao ano e as expectativas de boa parte dos economistas do mercado financeiro de que não haverá altas em 2016. Para muitos, o controle da inflação demorará mais para acontecer e o BC deu outro tiro no pé em sua reputação.

“Em nossa opinião, a mudança nas projeções do FMI, embora significativa, não é uma explicação razoável para o Copom mudar sua leitura sobre o balanço de riscos para a inflação”, escreveu o time de economistas do Credit Suisse, que antes dos sucessivos sinais do BC pela elevação da Selic ao final do ano passado, esperava a manutenção da taxa para este ano. Para eles, o cenário atual marca maiores dificuldades para se interpretar as indicações da autoridade monetária sobre qual será a estratégia adotada e como se comportarão os juros até dezembro. Já os economistas do Barclays dizem que a preocupação com o cenário externo, não destacada em outros discursos dos membros do Copom, pode refletir o ambiente de queda nos preços das commodities e turbulências na economia chinesa.

Embora a manutenção da Selic no patamar de 14,25% tenha sido defendida por muitos economistas reconhecidos no mercado, a forma como o movimento do BC se deu reforçou o ceticismo com relação a algum nível de ingerência política nas decisões do comitê. É a posição de Paulo Gomes, economista-chefe da Azimut Brasil Weath Management, que diz que o BC está sendo pressionado por fatores externos e que mostrou ter cedido à pressão. Tombini pode ter ganho pontos com a presidente Dilma Rousseff, com o Partido dos Trabalhadores e boa parte do setor produtivo, mas agora terá de enfrentar ainda maior desconfiança do mercado financeiro. A decisão pode até ter sido avaliada como positiva por alguns agentes econômicos, mas a comunicação ruidosa pode trazer reações negativas do mercado.

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Com isso, há quem acredite que será preciso mais esforço para que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) convirja ao centro da meta de 4,5% ao ano. Para os economistas do Goldman Sachs, os efeitos da decisão do Copom anunciada na noite da última quarta-feira devem caminhar para uma pressão adicional sobre o real, o que elevaria a pressão inflacionária brasileira. Além disso, o banco destaca que uma elevação nos juros nesse momento favoreceria sua redução em um futuro mais próximo, tendo em vista o controle sobre a alta dos preços com maior facilidade. Ajustes de perspectivas por conta da decisão já são vistos nos contratos negociados na BM&F. A curva de juros futuros de curto prazo cai forte enquanto a de longo prazo corrige para cima, ampliando o spread entre as duas.

O contrato de DI de janeiro de 2017 fechou em queda de 29 pontos a 14,90%, ao passo que o mais longo, com vencimento em janeiro de 2021, caiu 2 pontos-base, a 16,79%, provocando um spread — diferença entre o esperado para o curto prazo e para o longo prazo — de 189 pontos-base entre as duas taxas. Isso fez com que a curva de juros definida por esses mesmos contratos futuros de DI (Depósitos Interbancários) atingisse uma inclinação recorde. Na prática, isso significa que o mercado perdeu a confiança no Banco Central e vê uma política monetária mais frouxa hoje sendo necessariamente corrigida por apertos no futuro. O que isso impacta os seus investimentos? Segundo relatório do Santander, os mercados de renda fixa devem manter acréscimo de prêmios aos vencimentos mais longos pelo menos até que a inflação mostre sinais claros de desaceleração.

As sinalizações erráticas do Banco Central tornam ainda mais difícil o ambiente para projeções e os próprios economistas deixam claro que seus cenários estão sujeitos a alterações muito mais significativas e em intervalos de tempo menores. O que hoje é um consenso entre os principais atores do mercado é a crença de que não haverá alta nos juros em 2016. No entanto, há quem acredite que a autoridade monetária ponha em prática ciclos de afrouxamento. É o caso do Barclays e do Santander, que apostam em uma Selic a 13% em dezembro — ou seja, em uma queda de 1,25 ponto percentual ao longo do ano. Mas, como comunicação não tem sido o forte da autoridade monetária nesse momento, é importante ficar sempre atento a qualquer nova notícia.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.