João Amoêdo: “As pessoas querem alguém que corte os privilégios da classe política”

Renovação política é da ordem do dia para o pré-candidato do Partido Novo

Fredy Alexandrakis

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SÃO PAULO – Em entrevista concedida ao podcast da Rio Bravo Investimentos, o pré-candidato do Partido Novo à presidência, João Amoêdo, defendeu ser o único veículo possível de uma renovação política no País. Propondo reformas política, tributária e previdenciária, Amoêdo afirma que o Novo pode representar um exemplo de conduta à classe política vigente, começando pelo corte de seus privilégios.

O desempenho tímido nas pesquisas de intenção de voto não intimida o pré-candidato, que acredita na insatisfação da população com a “velha política”. Para ele, até mesmo possíveis obstáculos à sua candidatura, como a falta de espaço nas propagandas na TV e a inexperiência de seu partido em cargos no executivo, serão eclipsados por este novo cenário.  

Confira os destaques da entrevista:

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Rio Bravo: Ainda nesta semana foi veiculada uma pesquisa sobre intenção de votos para Presidência da República baseada aqui em São Paulo. De acordo com esse levantamento, o seu nome sequer aparece entre aqueles que estão com 1% de intenção de voto. A candidatura do Partido Novo tem por intenção vencer as eleições ou colocar o nome do partido em evidência numa disputa majoritária?

João Amoêdo: Só fazendo uma ressalva, eu não apareço com nenhuma pontuação quando o Lula aparece na pesquisa. Quando o Lula não aparece, eu apareço com 1%, mais ou menos empatado com Meirelles, Rodrigo Maia e outros candidatos da esquerda também. E muita gente, em São Paulo especificamente, ainda não decidiu o voto, então a minha leitura é que as pesquisas ainda são um indicador muito ruim do qual será o quadro político. Haverá uma tendência claramente de aglutinação de algumas candidaturas e a maioria das pessoas ainda está muito na dúvida de em quem votar ou se vão votar branco. Isso aí não me preocupa e não é um indicador.

A minha candidatura foi feita de fato porque nós entendemos que há uma possibilidade grande de eleição, porque as pessoas estão demandando renovação na política, estão demandando alguém que venha para cortar privilégios da classe política. E quando você vê os partidos tradicionais, nenhum deles prega essa bandeira, a começar pelo próprio fundo público, Fundo Partidário, Fundo Eleitoral, que foi aumentado no ano passado em quase R$ 2 bilhões, coisa que o Novo não usa.

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Então, esse desejo da população de renovação vai muito na linha do que o Novo apresenta. Obviamente, o Novo é um partido recente, tem muita coisa ainda para fazer. Ainda tem um caminho de divulgação dos princípios do Novo e a gente está trabalhando nisso, mas nós trabalhamos com o cenário de que a candidatura, sim, é bastante viável.

RB: Mas do ponto de vista prático, quando a campanha eleitoral na televisão começar, por exemplo, isso não vai ficar mais complexo para um partido como o Novo?

JA: Hoje, o que acontece? As pessoas hoje veem muito menos televisão. As mídias sociais têm um papel fundamental, até pela velocidade da informação, um pouco de questionamento em relação a várias noticias, se são verdadeiras ou não, e as pessoas hoje têm se baseado muito na sua rede de informação para tomar decisões.

É impressionante que no Brasil hoje a gente tenha 120 milhões de pessoas utilizando o WhatsApp, coisa que a gente não teve em nenhuma eleição no passado, as pessoas se comunicando. Então, sem dúvida a televisão terá um peso, mas eu não imagino que ele será tão determinante quanto foi no passado. 

RB: Vou citar um trecho da sua resposta no programa Roda Viva, da TV Cultura, há algumas semanas: “É através da política que as mudanças são feitas”. Nesse caso, não convém estabelecer uma ideia de transição da velha ordem para uma nova ordem política? Como é que essas mudanças efetivamente podem acontecer?

JA: É, nós não conseguiremos fazer, sem dúvida, uma renovação integral do Congresso. Acho que será um sucesso a gente fazer uma boa parte da renovação, mas a gente sabe que um pedaço dele permanecerá. Essa transição — e isso a gente precisa fazer — é começar a mudar as práticas no Congresso. Essas práticas do fisiologismo, do “toma lá, dá cá”, da negociação de cargos, da colocação de pessoas políticas em instituições que deveriam ser preenchidas por critérios técnicos.

Então, o que nós pretendemos fazer no Congresso — e isso já estamos fazendo nos locais onde o Novo elegeu vereadores — é dar exemplo. Você precisa dar o exemplo e mostrar para a população que é viável você ter 6 assessores, por exemplo, como o Novo tem em todos os locais onde elegeu vereadores, em vez de ter 20 assessores, que é o que está na legislação, 16 ou 18 assessores, e cortar verbas de gabinete também.

Então, essa transição acontecerá e será necessário para que ela aconteça que de fato haja um grupo com tamanho relevante que comece a dar o exemplo. Não só de corte de privilégio, como também das práticas. É isso que a gente pretende fazer.

RB: Para além desse exemplo, quais mudanças, uma vez que a sua candidatura alcance êxito, você pretende implementar em termos de projeto para o país?

JA: Primeira coisa é essa questão dos privilégios para cortar benefícios da classe política, especificamente, para dar o exemplo. A segunda é um combate muito forte à corrupção, com apoio ao Lava Jato, com privatização de empresas estatais que na verdade se tornaram estratégicas única e exclusivamente para os políticos que as utilizam como cabides de emprego, trazendo uma gestão muito ruim para as empresas e, consequentemente, produtos ruins para o consumidor.

Terceiro, a gente precisa fazer uma reforma do Estado brasileiro, reduzir a quantidade de Ministérios. O Novo trabalha com a ideia de ter não mais do que 12 Ministérios, e reduzir a quantidade de Secretarias, que hoje são da ordem de 150. É colocar pessoas técnicas nessas áreas.

Precisamos fazer uma reforma da Previdência, realmente para torná-la sustentável e não com o buraco que tem hoje. A gente precisa fazer uma reforma tributária também para simplificar os impostos e reduzir também na medida em que a gente corte os cursos, mas você precisa simplificar. A forma de cálculo do Brasil é muito complexa. E a gente precisa fazer também um novo modelo de pacto federativo, onde a gente tenha maior poder aos estados e municípios.

Hoje, tem muito poder centralizado no governo central e isso, na verdade, acaba criando um ambiente propício à corrupção e é muito ruim para a eficiência do sistema. E claro, por último, colocar as áreas essenciais para funcionar direito. Saúde, Educação Básica, Segurança, com gente competente, com uso de tecnologia, com métricas, realmente fazendo com o que o cidadão receba um pouco daquilo que ele está pagando.

Estamos pagando uma carga tributária elevada e os serviços são de péssima qualidade. E, ainda dentro desse contexto, o último ponto seria dar mais oportunidade para as pessoas. Isso passa por uma educação de melhor qualidade e facilidade para empreender, para ter o seu próprio negócio, com menos burocracia.

RB: Falando especificamente no caso de privatizações, você acredita que essa é uma agenda que a população vai abraçar?

JA: Ela entendendo como é vital isso, certamente vai estar muito favorável. Isso tem acontecido já gradualmente. A gente pode dar um exemplo concreto e objetivo agora nessa questão da greve dos caminhoneiros. Um dos motivos de todo esse problema é porque a gente não tem concorrência. A gente só tem uma empresa que é monopólio estatal e que dita o preço do combustível da forma que lhe é mais interessante.

Toda essa alteração que a gente tem visto de dólar, de preço do petróleo, claramente poderia ter tido uma outra empresa que gostaria de ganhar mercado, segurando um pouco os reajustes, dando reajustes a cada mês apenas para tornar mais previsível e facilitar a vida do caminhoneiro para dar o seu preço e calcular o frete. Então, a concorrência é fundamental. É a concorrência que faz com que a gente tenha melhores serviços a preços mais competitivos.

RB: Principalmente em relação aos caminhoneiros, a demanda não é por mais presença do Estado em vez de menos intervenção estatal?

JA: Não, o que eles querem no fundo é poder ter um negócio que tenha uma rentabilidade razoável. No fundo, é isso que eles querem. Querem sair de casa, saber que vão trabalhar e que no final do mês pagam as contas, pagam o financiamento de seu caminhão, pagam o combustível e sobra alguma coisa para ele.

E hoje, por que não sobra isso? Primeiro, porque você não tem concorrência no preço do combustível. Segundo, por conta de uma decisão lá de trás do governo de não fazer reajuste dos pedágios, começou a se cobrar em cima do tal do eixo suspenso. Não deveria fazer o menor sentido isso. Terceiro, a gestão do Estado cobra uma carga tributária tão grande que o mercado brasileiro não consegue crescer. O país não cresce e, consequentemente, a oferta de serviço para eles diminui.

Então, o governo brasileiro atrapalha no custo e atrapalha na receita. Na hora que isso ficar claro para as pessoas e que o Estado deixar de atuar e tirar toda essa burocracia, deixar de interferir tanto no modelo do livre mercado, eles certamente vão ter muito mais produtividade, vão ganhar dinheiro e o negócio vai passar a ser rentável. 

RB: O que te faz crer que o eleitor vai observar o Partido Novo e que, mesmo sem experiência, pode ter capacidade de resolver esses problemas todos que outros partidos já estabelecidos não tiveram capacidade de resolver?

JA: Primeiro, porque a experiência desses partidos, a experiência da forma da política antiga, é muito ruim. Ela nunca leva a soluções em cima dos problemas existentes. São sempre pequenos atalhos, pequenos remendos para tentar resolver problemas que foram feitos no passado. O Novo e as pessoas do Novo – e a prova maior disso eu diria que foi a montagem do partido – têm experiência na resolução de problemas, no atingimento, no cumprimento de metas.

O Novo é o único partido, dos últimos 20 anos pelo menos, que foi criado sem ser uma dissidência política ou sem pertencer a alguma agremiação religiosa ou algum sindicato. Isso mostra duas coisas. Primeiro, como é difícil montar uma instituição partidária no Brasil, porque o sistema funciona para não ter concorrência, e, segundo, a nossa capacidade de realização. Então, quanto à experiência de gestão de tratar os problemas, certamente o grupo do Novo tem mais capacidade. Eu diria que não é só questão de capacidade, mas é principalmente o roteiro correto de se fazer as coisas. A gente tem que identificar, fazer o diagnóstico exato, preciso, para você atacar a raiz do problema.

RB: O que garante que os candidatos eleitos pelo Novo não sejam cooptados pelo sistema da velha política e busquem, por sua vez, se perpetuar no poder, sem abrir espaço para uma renovação quando seus respectivos mandatos terminarem?

JA: Eles assinam um termo de compromisso partidário. Obviamente, você nunca tem o controle sobre a ação das pessoas, mas o Novo tem um termo de compromisso partidário onde eles se prontificam a seguir uma série de ações, entre elas reduzir custo de gabinete, reduzir o número de assessores, não votar em nenhum tipo de aumento de carga tributária, nenhum tipo de aumento de impostos. O partido tem um comitê de ética muito atuante.

Quer dizer, se acontecerem desvios de conduta, desvios de padrão, simplesmente a gente vai expulsar essa pessoa do partido, porque, diferentemente da grande maioria dos partidos que a gente tem acompanhado aí, o Novo preza muito a instituição que ele está construindo e o poder e a nossa presença têm que ser reflexo da solidez dessa instituição, da coerência dessa instituição, então isso vai estar muito presente.

Algo que é interessante no Novo que vale a pena mencionar é que nós separamos, quem está na gestão do partido não pode ter cargo eletivo, então, qualquer membro que está na gestão do partido que queira ter um cargo eletivo tem que separar, tem que deixar o partido pelo menos com 14, 15 meses de antecedência para justamente você ter uma questão de governança e ter independência entre as tarefas.

RB: Voltando à entrevista do Roda Viva, uma das declarações mais comentadas, sobretudo nas mídias sociais, a partir dessa entrevista, foi exatamente a sua posição em relação ao aborto e, em certa medida, à ideia de que você, pessoalmente, é liberal na economia e conservador nos costumes. Na sua avaliação, esse posicionamento não contrasta com a percepção do eleitor que está se interessando pelo Partido Novo?

JA: Eu entendo que não. Primeiro, é o seguinte. Eu não gosto muito dos rótulos de liberal e conservador. Eu gosto das opiniões muito claras e de ver o que funciona ao redor do mundo. As nações que têm mais liberdade econômica são aquelas que têm maior qualidade de vida, têm maior renda per capita, então acho que quanto a isso, apesar de no Brasil a gente ainda ter grupos que defendam maior participação do Estado, maior intervenção, infelizmente, isso não funcionou em nenhum lugar do mundo.

É claro que a gente tem que seguir o que funciona, que é a liberdade econômica. Quanto a temas mais polêmicos e o aborto claramente é um deles, aí tem uma questão muito de foro íntimo, de coisas pessoais, até ligadas, eventualmente, a religião, coisas desse tipo. Eu me posiciono no seguinte — e o Novo dá liberdade para os seus candidatos serem contra ou a favor de determinados temas, entre eles o aborto. No meu caso, o que eu tenho dito sempre é: eu sou a favor apenas dentro dos casos previstos na lei. Agora, isso é uma opinião pessoal.

Como presidente da República, eu acatarei aquilo que vier do Congresso, que for o desejo de grande parte da população brasileira. E o Brasil — a gente até é bom frisar — é uma nação ainda mais conservadora. As pessoas, na sua grande maioria, ainda são contra. Pelo menos as pesquisas recentes mostram isso. Mas o fundamental é que cada um possa ter liberdade de expressar o seu posicionamento. Na medida em que a gente defende isso — quer dizer, que as pessoas tenham liberdade e não que você imponha uma definição, ser contra ou a favor ao aborto, acho que aí sim eu estou sendo extremamente coerente, de ter a minha posição, mas permitir que os outros pensem diferente e coloquem a sua posição.

RB: O mesmo princípio vale para a questão relacionada ao Bolsa Família, por exemplo?

JA: A questão do Bolsa Família eu trato mais como uma questão de gestão pública. Não colocaria na questão de um tema polêmico em que pesa a consciência de cada um. O nosso entendimento é de que o Bolsa Família é um programa que tem um bom custo-benefício. Ele custa cerca de R$ 28 bilhões e atende 14 milhões de famílias, e com uma grande vantagem. Ele dá liberdade de o cidadão decidir aonde usa o dinheiro, conforme a necessidade de cada um, então acho isso muito positivo.

O que a gente gostaria, na verdade, é de ter algo complementar ao Bolsa Família, que é uma educação mais forte para que as pessoas tivessem porta de saída do programa e a gente ficasse feliz com a qualidade de pessoas que saem do Bolsa Família, não com a qualidade de pessoas que ele está atendendo. Então, nessa linha, é um programa que a gente defende, entende que tem que fazer alguns ajustes, mas ele é um programa positivo no geral.

RB: Num cenário de tanta instabilidade e de polarização quase extrema, do ponto de vista do debate político, há espaço para o bom desempenho eleitoral do Partido Novo?

JA: Eu não tenho dúvida de que há, por vários aspectos. Primeiro, por ser o único partido que de fato representa a renovação, porque tem que ser uma plataforma nova, porque um candidato novo que venha dentro das máquinas tradicionais, das máquinas antigas, dificilmente essas máquinas farão alguma coisa dentro de um ambiente que, na verdade, é o que viabiliza a existência delas. Então, nesse aspecto, o Novo é a renovação.

Segundo, essa grande demanda da população por algo diferente, por gente nova na política, com princípios e valores, que corte privilégios, que corte benefícios, de novo o partido atende esse aspecto.

E, terceiro, uma capacidade de gestão com princípios corretos, com a ideia de mais liberdade econômica, de devolver poder ao cidadão, de deixar o livre mercado funcionar, de reduzir a burocracia, tudo que a gente vê que funciona nos outros países e que, infelizmente, no Brasil, por interesse de algumas minorias, é muito difícil de se implementar, porque na medida em que você implementa isso você deixa os políticos e a classe política mais vulnerável.

Na medida em que o capitalismo floresce — não o capitalismo de Estado que a gente tem no Brasil, mas o capitalismo das pessoas poderem fazer as suas trocas voluntárias –, você passa a ficar menos dependente do Estado, menos dependente de uma gestão pública que interfira tanto na sua vida e isso tira poder dos políticos. Então, é nessa linha que a gente vai caminhar e a minha visão é que a aceitação das pessoas tem sido crescente para esse tipo de proposta.

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