Por que uma chapa com Alckmin presidente e Meirelles vice ainda está longe de acontecer?

Persistência de uma série de pontas soltas faz com que aliança hoje ainda seja improvável

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – As especulações em torno da possível consolidação de uma chapa governista encabeçada por Geraldo Alckmin e com Henrique Meirelles na vice ganharam força no último fim de semana, após movimentações recentes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que antes já havia apoiado uma possível candidatura do apresentador de televisão Luciano Huck à presidência da República. Desta vez, conforme contou a jornalista Eliane Cantanhêde em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo, a ideia seria amarrar uma aliança hoje ainda complicada envolvendo o PSDB e o MDB, partido do presidente Michel Temer.

Os dois têm mantido distância nesta altura da disputa eleitoral e sinalizado que a formação de uma coalizão do chamado “centro” em torno do nome do tucano pode não ocorrer, com a base dividindo-se. Porém, diz a jornalista que as conversas por uma composição podem ter avançado com o encontro entre Temer e FHC na última sexta-feira. Segundo ela, pelo lado de Meirelles, o acordo não seria tão difícil, visto que a candidatura do ministro da Fazenda não levantou voos e seu atual partido, o PSD, não tem demonstrado disposição em assumi-la, o que tornaria a desistência de uma cabeça de chapa em lugar de uma vice-candidatura manobra factível. Como complemento, Meirelles poderia migrar para o MDB. Para Alckmin, o tempo de televisão e a estrutura nacional da sigla de Temer seriam preciosos, em contraste com o ônus da impopularidade e os envolvimentos em escândalos.

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Mas tal equação não fecha com tanta facilidade, embora sejam naturais investidas por costuras das mais diversas. A esta altura da corrida presidencial, Geraldo Alckmin tem evitado fazer campanha efetiva, com acenos ao eleitorado. Sua estratégia tem sido concentrar esforços nas articulações de bastidores, a fim de criar uma rede de apoios sólida para a candidatura crescer no momento certo. As regras para a presente disputa darão peso ainda maior ao tempo de televisão, às estruturas partidárias e ao controle da máquina pública.

Nesse sentido, enquanto costura uma coalizão mirando o Palácio do Planalto, Alckmin não pode descuidar de casa; é preciso preparar o terreno para sua sucessão, em um processo que abrace os partidos que serão a base de sua própria candidatura. Novamente, uma tarefa altamente complexa, sobretudo quando se observa algumas disputas: 1) dentro do PSDB, entre quatro pré-candidatos; 2) na coalizão, com os planos de Márcio França (PSB) de concorrer ao governo estadual com a máquina na mão durante parte significativa da corrida. Quando se insere o MDB ao xadrez, o quadro fica ainda mais difícil: Paulo Skaf tende a ser candidato pelo partido ao Palácio dos Bandeirantes.

O desempenho baixo do governador paulista nas pesquisas eleitorais, contudo, gera preocupação no núcleo próximo ao tucano e pode futuramente pôr em risco alianças previamente construídas. Se Alckmin não se mostrar um candidato viável, seria natural que os partidos que acenaram acordo em torno de sua candidatura pulem do barco em busca de terra firme em outro projeto. Ou seja, no momento em que a candidatura do governador for oficializada, será hora de buscar alguma melhora nas pesquisas, sob o risco de o jogo do “resta um” não surtir mais os mesmos efeitos.

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Conforme mostrou o Instituto Paraná Pesquisas em levantamento divulgado na última semana, considerando a margem de erro de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo, a corrida presidencial em São Paulo tem um empate técnico entre Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin. Enquanto o deputado federal pontua entre 22,3% e 23,5%, a depender do cenário considerado, o governador tem de 20,1% a 23,2% dos votos em seu próprio colégio eleitoral. Na prática, o que a pesquisa mostra é que o tucano perdeu eleitores mais à direita para o ex-capitão do Exército. E este não é um diagnóstico novo. Para Murilo Hidalgo, diretor do instituto, antes de protagonizar uma reedição da polarização entre tucanos e petistas na corrida presidencial, o tucano precisará reconquistar o espaço perdido na direita. Ele acredita que Alckmin terá algo entre 60 e 90 dias para mostrar resultados com este movimento.

Por mais importante que seja a conquista de tempo de televisão e estrutura para a disputa presidencial, qualquer movimento de aproximação entre Alckmin e Temer ainda se mostra distante. A nenhuma das partes hoje interessa a composição. Embora esteja dedicando mais tempo ao jogo no escuro, o tucano não demonstra disposição de assumir o ônus de uma aproximação ao emedebista hoje, sobretudo às vésperas de necessárias investidas para crescer nas pesquisas. Por outro lado, o presidente conta com a recuperação da economia e os esforços na pauta da segurança pública (com a pirotecnia da intervenção federal no Rio de Janeiro) para recuperar cacife político e participar mais ativamente do processo de sua sucessão.

Como se não bastasse, o próprio Henrique Meirelles não quer se precipitar e ceder no momento em que o jogo mal começou. Hoje, está cada vez mais clara sua disposição em deixar o Ministério da Fazenda dentro do prazo de desincompatibilização exigido pela lei, sobretudo com o deslocamento da agenda do governo após o enterro momentâneo da Reforma da Previdência. No entanto, ainda não se sabe se o movimento também não viria acompanhado por uma troca de partido, do PSD para o MDB.

O primeiro partido tem demonstrado pouca disposição em patrocinar o voo do ministro sem qualquer indicação de que a investida poderia ser exitosa. Gilberto Kassab já tem mostrado disposição em apoiar Alckmin desde que seja o vice de uma chapa tucana ao governo do estado de São Paulo. Já o MDB não é uma sigla para iniciantes. Não seria tarefa nada simples para Meirelles entrar no partido em condições de disputar a presidência ou ser o representante de uma legenda de tal complexidade como vice em uma chapa liderada por tucano. E, vale salientar, que uma possível dobradinha Alckmin-Meirelles hoje faria mais sentido se houvesse garantias de que o MDB seria levado junto à coalizão. Afinal, o que o tucano ganharia com o acordo sem essa condição?

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.