Em uma única tacada, Michel Temer atinge 5 dos principais candidatos à presidência

Mesmo com reprovação em nível recorde, presidente busca ampliar protagonismo por sua sucessão e sonha até com possível reeleição

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O deslocamento da agenda governista do ajuste fiscal e sua principal medida (a reforma da Previdência) para a pauta da segurança pública, de maior apelo popular, revela uma estratégia do presidente Michel Temer em tentar recuperar capital político e influenciar mais diretamente na disputa por sua sucessão, seja como aliança cobiçada por candidatos da centro-direita, seja com uma ainda improvável tentativa de reeleição.

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Habilidoso politicamente, o emedebista sabe que a segurança pública será tema central do debate eleitoral deste ano. Embora o assunto seja sempre relevante para os eleitores, hoje ele tem conquistado espaço de ainda maior destaque. Como observou o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, em entrevista concedida ao InfoMoney no início de fevereiro, a economia não será o principal tema da corrida presidencial em outubro, embora mantenha destaque no debate.

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Com a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro, o governo assume posição mais assertiva em terreno mais interessante em um ano eleitoral, o que pode lhe render dividendos políticos. O presidente percebeu que só os sinais de recuperação econômica ainda tímidos não seriam capazes de recuperar algum nível aceitável de popularidade. Além disso, a iniciativa ofuscou uma fuga da agenda da reforma previdenciária, que naufragava pela falta de votos na Câmara dos Deputados. A Constituição não pode sofrer alterações enquanto medidas desta natureza são aplicadas em alguma unidade da federação.

Ainda é cedo falar em resultados, mas caso a iniciativa tenha repercussão positiva perante o eleitorado, embora especialistas apontem como um paliativo de baixa eficácia, Michel Temer poderá ganhar força para o final de seu mandato. Isso pode ampliar seu poder de influenciar o processo eleitoral que se aproxima, aumentando a relevância do apoio do MDB na corrida, tendo em vista a potencial redução de desvantagens de associação a um nome tão impopular e a manutenção de vantagens como estrutura partidária, capilaridade, tempo de televisão e a própria máquina pública federal.

Vale lembrar ainda que a conjuntura de elevada desaprovação das polícias pelos brasileiros e o prestígio que têm as Forças Armadas favorecem a ação do governo. E não haveria campo melhor de exposição das medidas que o Rio de Janeiro, embora outros estados contem com estatísticas tão ou até mais desfavoráveis. Também é importante ressaltar que, apesar de a presente intervenção se dar em um estado específico, o que poderia reduzir qualquer sensação de melhora por cidadãos de outras regiões do país, forças federais já foram usadas (de outra maneira, por operações de Garantia da Lei e da Ordem) em outras situações no Espírito Santo e Rio Grande do Norte, por exemplo. Uma narrativa que contemple todas essas eventuais movimentações pode ampliar os efeitos políticos de uma eventual ação bem-sucedida aos olhos de parcela relevante da população.

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Na prática, o presidente Michel Temer avançou em direção a um público mais simpático ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), candidato mais bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto depois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que corre crescentes riscos de ser impedido de disputar. Caso a intervenção no Rio de Janeiro seja percebida pelo eleitorado como exitosa, ele pode melhorar sua aprovação entre esse relevante público. A observar qual será o discurso do parlamentar na disputa pelo espaço hoje ocupado por ele.

De quebra, a movimentação do governo dificulta a construção de narrativas pela oposição, uma vez que agora a agenda conta com maior aprovação popular, em detrimento à rejeitada reforma previdenciária, muito associada à perda de direitos adquiridos por boa parte dos eleitores. A depender do andamento da operação no Rio de Janeiro e a resposta dos eleitores, o PT terá uma faixa limitada para fazer alguma oposição exitosa eleitoralmente neste campo: o federalismo, que já pode ser observado em trecho da orientação de bancada pelo senador Jorge Viana (AC) na sessão da última terça-feira:

“Eu gosto muito do Rio de Janeiro, todos nós gostamos daquela cidade maravilhosa, temos respeito por aquele povo, mas nós devemos obrigação e respeito para com o povo que nós representamos nos nossos Estados. A medida é exclusivamente na área de segurança e para o Rio de Janeiro; e nós vamos seguir contando os mortos. Senadores e Senadoras, nós seremos cobrados, nós seremos cobrados, porque a medida adotada pelo Governo Federal, extrema, só acolhe o problema ou tenta enfrentar os problemas do Rio de Janeiro. E a violência se espalhou neste País. Sabe onde é que estão os líderes da facção Comando Vermelho, Sr. Presidente? Estão nos presídios federais de Rondônia, nos presídios do interior de São Paulo e do Nordeste. Não estão no Rio. E sabe o que o Ministro da Defesa disse? Que agora a prisão é um escritório dos líderes das facções criminosas” (confira a íntegra do discurso aqui).

Além de jogar no campo de Jair Bolsonaro e elevar as dificuldades para Lula (ou qualquer nome que venha a substituí-lo) articular uma narrativa opositora no campo da segurança pública com potencial eleitoral interessante, o presidente Michel Temer também impõe problemas para outros candidatos da centro-direita. O cavalo de pau na agenda governista dificulta a consolidação de outros nomes do campo reformista para a disputa presidencial — leia-se o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No caso do último, a exclusão das discussões sobre a intervenção federal em seu estado ressalta um ambiente de disputas.

Nesta semana, o governo anunciou um pacote de 15 medidas macro e microeconômicas para substituírem a reforma da Previdência no parlamento, uma vez que há o entendimento de que a intervenção federal impossibilita a votação de PECs (Propostas de Emenda à Constituição) nas duas casas legislativas. Entre as propostas, 13 já tramitam no Congresso pelo menos desde o ano passado. O fato de a pauta também não ter sido discutida com Rodrigo Maia teria irritado o presidente da Câmara, que fez duros ataques ao pacote. “Não conheço os 15 projetos, nem li, nem vou ler”, disse o parlamentar. “O anúncio foi precipitado, sem um diálogo mais profundo, essa não será a pauta da Câmara. Nós vamos pautar o que nós entendemos relevante, no nosso tempo”.

Os avanços de Temer no xadrez eleitoral reforçam uma disputa por espaço com Rodrigo Maia, que não admite ser posto de escanteio, sobretudo em medidas econômicas, seu principal campo de atuação. No caso de Meirelles, o abandono da reforma da Previdência tornou o cenário ainda mais desfavorável. Uma possível aliança do PSDB com Gilberto Kassab na disputa pelo governo de São Paulo pode fechar de vez as portas do PSD ao sonho do chefe da equipe econômica, que teria até o início de abril para deixar a Esplanada dos Ministérios caso queira concorrer ao Planalto.

O ganho de relevância do atual presidente no processo eleitoral também oferece problemas a Geraldo Alckmin. O governador de São Paulo tem tido dificuldades em crescer nas pesquisas e consolidar sua posição como o único nome aglutinador da centro-direita nessas eleições. Além disso, o tucano, receoso dos efeitos de possível contaminação com a impopularidade Temer, resiste em fazer acenos mais efetivos ao governo federal. Não é surpresa para ninguém que Alckmin não é o nome favorito do emedebista. Sendo assim, qualquer avanço de Temer elevará os custos políticos de um acordo para o tucano.

Em um simples movimento, o deslocamento do eixo da agenda governista, o presidente Michel Temer afetou significativamente a corrida eleitoral, afetando as estratégias de alguns dos principais aspirantes à sua sucessão no Palácio do Planalto. Foi um primeiro sinal de sua relevância na disputa de outubro. Como bem observou o analista político Richard Back, da XP Investimentos, no início do ano, o emedebista será o “posto Ipiranga” da política.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.