Duas teses se confrontam: afinal, Bolsonaro ganha ou perde terreno sem Lula na disputa?

Marina Silva e Ciro Gomes aparecem nos primeiros lugares como os principais herdeiros - mas é outra questão que passou a ganhar maior destaque

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vista como praticamente impossibilitada após a condenação em segunda instância por 3 a 0 e concordância na aplicação de uma pena de prisão de 12 anos e um mês pelos desembargadores, as análises sobre quem deve herdar as intenções de voto que o até então líder nas pesquisas possui e quem mais sai ganhando com a saída do petista do páreo ganham destaque. 

Marina Silva e Ciro Gomes aparecem nos primeiros lugares como os principais herdeiros – mas é outra questão que passou a ganhar maior destaque. Afinal, há duas teses bem díspares sobre o assunto, que envolve qual será o saldo para o segundo colocado até agora na disputa, Jair Bolsonaro, da eventual saída de Lula da disputa. 

Por um lado, há quem veja que a saída de Lula pode beneficiar Bolsonaro em alguns redutos petistas, principalmente no Nordeste, o que já era uma preocupação do PT antes mesmo de sair a sentença pior do que a esperada pela legenda. Por outro, há quem veja o discurso do parlamentar pode perder força, uma vez que ele apostava na polarização – fazendo com que ele murchasse já que haver “anti-Lula” não seria algo tão importante no pleito já que o petista não estaria na disputa. 

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Segundo afirmou o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, em entrevista na semana passada para o Valor Econômico, Bolsonaro herdaria 6% dos votos do petista. “Essa transferência para Bolsonaro se dá porque é elevada a falta de representatividade política e a maior preocupação do brasileiro hoje é com a violência. Respostas simplistas como a de Bolsonaro atraem”, afirmou à publicação. O mesmo jornal, inclusive, destacou uma reportagem apontando que um reduto do lulismo em Recife tendia para Bolsonaro. 

Para a Eurasia, Bolsonaro segue competitivo mesmo com Lula fora da disputa. “Alguns especialistas apontam que o nome de Bolsonaro subiu nas pesquisas devido à sua forte retórica anti-PT e anti-Lula. Como tal, a provável desqualificação de Lula tiraria um saco de pancadas da disputa e, consequentemente, desinflaria a sua candidatura presidencial”, afirmam os analistas.

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Tal avaliação subestima os catalisadores por trás do sucesso de Bolsonaro, aponta a Eurasia. A análise das redes sociais sugere que Bolsonaro tem uma base de apoio profunda e fiel que varia de 10% a 15% da população, e muito disso tem a ver com os profundos níveis de desencantamento contra o establishment político brasileiro. Segundo a consultoria, “Bolsonaro não é o candidato anti-Lula. Ele é o candidato anti-establishment e a saída de Lula não diminuirá seu apelo”, aponta. 

Compartilhando dessa opinião, o sócio da Arko Advice, Cristiano Noronha, ressalta que o cenário sem Lula é de um candidato competitivo a menos na disputa, ao mesmo tempo em que a indignação com a violência e o desgaste envolvendo várias legendas podem favorecer ao Bolsonaro. “A principal rivalidade do Bolsonaro não necessariamente é com o Lula, mas com a classe política em geral e os problemas relacionados à segurança pública”, avalia. 

Mas há quem discorde dessa avaliação, como o cientista político Carlos Pereira, da FGV-Rio. Em entrevista à alemã DW, ele apontou que Bolsonaro paradoxalmente deve perder espaço em uma disputa sem Lula. “Ele vai esvaziar por não fazer parte de um partido com capilaridade no país e porque seu apelo depende muito de se apresentar como um anti-Lula”, afirmou. 

De qualquer forma, a avaliação corrente é de que, independentemente do cenário que se desenha sem Lula, Bolsonaro tem fragilidades para a disputa eleitoral que podem comprometer as suas chances de ir mais longe no pleito. “Acredito que Bolsonaro deva perder votos por outras questões. Uma delas é que ele tem um apoio partidário modesto, com pouco tempo de TV. Outro aspecto é que ele não reage muito bem quando confrontados com temas polêmicos. Tende a responder com grosseria, algo que prejudicou muito Ciro Gomes em 2002”, destaca Cristiano Noronha. Já para a Eurasia, ele certamente enfrentará grandes dificuldades em qualquer cenário no segundo turno – mas é um candidato competitivo para chegar ao segundo turno da eleição.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.