Por que Alckmin (e não Maia ou Meirelles) é o nome mais provável do ‘centro’ nas eleições?

Enquanto deputado adota ofensiva com poucos riscos, tucano sai da posição de "jogar parado" para engrenar sua candidatura

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Os últimos dias marcaram uma intensificação nos esforços do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em viabilizar seu nome para a corrida pela sucessão de Michel Temer no Palácio do Planalto. Enquanto o parlamentar costura alianças com partidos do “centrão” e troca farpas com o também presidenciável Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, crescem as especulações acerca da possibilidade de as aspirações vingarem e se converterem em uma candidatura efetiva.

No entanto, uma série de variáveis promete embaralhar as cartas e reduzir as chances do congressista em aglutinar o centro governista em torno de seu nome. Embora a atual indefinição sobre como se comportará a centro-direita e seu(s) candidato(s) na corrida presidencial favoreça movimentos como o de Rodrigo Maia, há nomes que largam na frente do deputado nessa disputa. O principal deles seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, atual presidente do PSDB.

Entre a desconfiança do presidente de honra do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e a piscadela de Michel Temer, o tucano é quem conta com os principais recursos para avançar na corrida eleitoral. Além da expertise de seu partido nas últimas seis eleições presidenciais, Alckmin controla a máquina do maior colégio eleitoral e economia do País. Seu perfil mais discreto e sua habilidade em negociações políticas também lhe conferem vantagens importantes.

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Na avaliação de diversos analistas políticos, a fragmentação do centro na corrida presidencial representa o principal risco para a continuidade da atual agenda econômica. “No fundo, a competitividade da centro-direita passa menos pelos nomes escolhidos e mais pela quantidade de candidatos, especialmente olhando a relação do PSDB com os demais partidos da base. Se o PSDB perder o status de monopolista do antipetismo, como pelo menos o ambiente agora sugere, há um risco relevante de protagonismo de Bolsonaro e Lula”, observou o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria em entrevista especial para o Guia Onde Investir 2018 – InfoMoney.

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Com muitas candidaturas disputando vaga para o segundo turno, naturalmente o patamar mínimo para êxito nesta primeira missão cai, o que pode levar a um cenário em que nomes tidos como mais extremos se dão melhor. Para Richard Back, analista político da XP Investimentos, a dupla Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro (PSC-RJ) teria maiores chances de vitória na corrida presidencial em caso uma sucessão de erros do governismo. Para eles, “é preciso contar também com a ajuda da grande geleia da centro-direita. Eles têm que errar muito para um desses polos poder ganhar. Agora, em se tratando de política brasileira, você nunca descarta muitos erros, em que pese o fato de os políticos que compõem esses partidos saberem operar muito bem o sistema. Mas tem uma dose de ego envolvida também nas candidaturas que atrapalha”, observou o especialista, também entrevistado para o Guia Onde Investir 2018 – InfoMoney.

O cientista político Ricardo Sennes, sócio da Prospectiva Consultoria, vislumbra um ambiente eleitoral favorável para a centro-direita, mesmo que o governismo esteja em posição vulnerável com a baixa popularidade de Temer. “O único que me parece conseguir atrair o centro hoje é Alckmin. Não vejo nenhum outro. E essa é a variável que eu chamaria de fundamental para olhar 2018. Se isso avançar, a eleição é uma. Se isso não avançar e fragmentar tudo, a eleição é outra”, prognosticou o analista. “Algumas pesquisas mostram que o perfil ideológico é quase uma curva normal perfeita. Então, ganha o candidato que consegue levar o meio junto. Lula conseguiu ganhar as eleições desde 2002, porque fez a Carta [ao Povo Brasileiro], se comprometeu com o meio e o conquistou, ganhando quatro eleições. Agora, a chance de levar o centro está para a centro-direita, desde que surja um sujeito capaz de não fragmentar esse segmento, mas unir”, concluiu em entrevista ao programa InfoMoney/UM BRASIL.

Visão similar apresenta a equipe de análise da MCM Consultores, que observar muitos desafios ao governismo, mas chances de êxito de Alckmin em aglutinar uma base ampla de apoio partidário. “A união do centro mais próximo ao governo, embora seja um arranjo bastante complexo, é sim factível, desde que ocorra em torno de Alckmin. Apesar das dúvidas do próprio Fernando Henrique a respeito da força eleitoral do governador paulista, muito dificilmente ele deixará de ser candidato. Além de aparecer nas pesquisas em situação bem melhor do que Meirelles e Rodrigo Maia, Alckmin tem ativos políticos mais poderosos do que os do ministro da Fazendo ou o presidente da Câmara. Conta com a máquina do PSDB e da administração estadual de São Paulo e dispõe de uma carta na manga muito poderosa: a possibilidade de apoiar uma coligação – governador, vice-governador e senador – forte em São Paulo, capaz de agregar o PSDB ao PMDB e/ou ao PSD e DEM”, escreveram os especialistas em relatório a clientes.

Nesse sentido, a atual conjuntura mais parece um balcão de lançamento de nomes aptos a competir para fazer fumaça do que uma real avaliação de nomes viáveis para a disputa. No mundo político, é difícil encontrar alguém que não queira ser taxado como presidenciável, para ganhar capital político e negociar com mais força uma desistência. “A agitação em torno da hipótese de Rodrigo Maia ser candidato a presidente nos parece fogo fátuo. É passageira. Neste momento, Maia só tem a ganhar com a ascensão à categoria de presidenciável. Galgará mais um degrau na sua trajetória política ascendente. Ademais, no pior dos casos, ajudará a fortalecer a posição do DEM numa eventual negociação com o PSDB para a definição de candidaturas a governos estaduais e à vice-presidência. Fortalecerá também seu cacife para o que ainda avaliamos ser o seu principal e viável objetivo político, eleger-se deputado e presidir a Câmara dos Deputados por mais dois anos. Michel Temer resumiu bem o espírito da pré-candidatura Maia. Sem muito a perder, está na linha do ‘se colar, colou'”, observaram os analistas da MCM.

 “Porém, o previsível e reiterado desempenho pífio nas pesquisas – Maia dificilmente terá mais do que um, dois ou três pontos nos levantamentos eleitorais daqui até julho – deverá convencê-lo e ao DEM de que sua candidatura presidencial é mesmo uma aventura e não um risco calculado. E o balão de ensaio “Maia presidente” pode até se reverter a favor de Alckmin pois tira fôlego de Meirelles e reduz a probabilidade de que este seja candidato. Para Alckmin, será mais fácil se entender posteriormente com Maia do que com Meirelles”, concluíram. Enquanto o presidente da Câmara adota uma ofensiva com poucos riscos, o tucano sai da posição de “jogar parado” para engrenar sua candidatura.

O principal desafio no momento é o baixo percentual de votos nas pesquisas eleitorais. Resta saber como Alckmin reagirá. A bola está com ele. Conforme noticia o jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira, o tucano trabalha para lançar a estratégia de construir uma aliança para a corrida eleitoral que lhe garanta o maior tempo de televisão entre todos os postulantes ao Palácio do Planalto, o que reduziria questionamentos em torno de sua candidatura. A ideia seria fechar uma chapa com outros seis partidos (PP, PSD, PTB, DEM, SD e PPS), somando um total de 4 minutos e 27 segundos em um universo de 12 minutos e 30 segundos por bloco de propaganda eleitoral obrigatória.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.