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SÃO PAULO – O adiamento da votação da reforma previdenciária para fevereiro do ano que vem representou um “recuo estratégico” do governo, que ainda precisa de cerca de 30 ou 40 votos para conquistar o apoio necessário para fazer a medida avançar na Câmara dos Deputados. Esse é o discurso do vice-líder do governo na casa legislativa, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), da chamada “tropa de choque” do presidente Michel Temer e relator da proposta que resultou na emenda constitucional do teto de gastos, entrevistado pelo InfoMoney na última quinta-feira (21) [a íntegra pode ser assistida pelo vídeo acima].
Segundo o parlamentar a equipe de articulação política ganhou o tempo que faltava para fazer as movimentações pendentes e conseguir votar a PEC 287 mesmo em um ano eleitoral. “[Henrique] Meirelles já está fazendo um trabalho extraordinário. O novo ministro de Relações Institucionais, [Carlos] Marun entrou animado, com energia e está reorganizando toda a relação com o colégio de líderes e vice-líderes do Congresso e da Câmara. A propaganda também está forte e já diminuiu em 30% a rejeição à reforma. Muitos deputados nos abordam no corredor e dizem que agora dá para votar. As forças produtivas estão muito focadas e auxiliando”, afirmou.
Perondi também sustenta que um dos principais pontos críticos de deputados para apoiar a reforma da Previdência — as pendências do governo em honrar com compromissos assumidos para barrar as duas denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Michel Temer — caminha para se resolver até a data fixada para a retomada das discussões do assunto na Câmara.
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“A maioria de todos os compromissos que os deputados fizeram com a Santa Casa, com o prefeito, com a escola, com o ginásio esportivo, com aparelho de mamografia para salvar as mulheres, foi cumprida. Existe, sim, ainda alguns compromissos pendentes, mas ganhamos tempo para cumpri-los. Também para explicar melhor para muitos deputados. Ganhando a opinião pública com a propaganda, o deputado vota mais seguro. E estamos dizendo para o deputado: a economia vai estar melhor em fevereiro, vai estar ainda melhor em junho e em outubro”, argumentou.
O deputado trata a reforma previdenciária como a “terceira grande guerra” do atual governo com as corporações do funcionalismo público. “Estou convencido de que [Rodrigo] Janot fez aquilo, depois teve de recuar, para impedir a reforma da Previdência”, disse. Para ele, o grupo dos adversários da reforma ganhou nos últimos dias um aliado de peso: o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu os efeitos de medida provisória que adiava o reajuste do funcionalismo e aumentava a alíquota previdenciária da categoria. “Lewandowski tornou-se sócio da liderança contra a Previdência. Janot se acomodou, mas fez um baita estrago. E o Lewandowski assumiu. Foi uma atitude monocrática corporativista. Se nós não vencermos a luta com as corporações públicas desta vez, nunca mais. Essa é uma guerra”, atacou.
Perondi critica ainda o que entende como falta de engajamento mais ativo do mercado na disputa. “Estou cobrando uma posição do mercado. Ele precisa ser mais ousado, mais corajoso em campanhas para explicar. Se a reforma não passar, vocês serão uma área do Brasil culpada por isso. Não será a CNI, será o mercado”, provocou. Para ele, a economia responderá positivamente a tempo de garantir maior força ao governo e capacidade de influenciar no processo eleitoral.
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“Nós vamos chegar bem politicamente [nas próximas eleições]. O Michel vai ter papel importante nessa eleição. Não deve ser candidato, mas tudo pode acontecer também”, projetou o deputado durante a conversa por videoconferência.
“Aparecerá um candidato do meio, da paz, da harmonia, da convergência e que mantenha essa agenda reformista. Com certeza, não será nem Lula nem Bolsonaro. Aí, passa pelo Rodrigo [Maia], passa pelo Meirelles, por [Geraldo] Alckmin. Eventualmente poderá aparecer outro, não sei. O povo saberá escolher”, complementou. Segundo ele, o candidato de centro herdará uma conjuntura mais favorável às vésperas das eleições, que será percebida mais facilmente pelo eleitorado.
“Estamos fazendo quatro anos em dois e o próximo presidente vai ter que continuar. O próximo presidente que não assumir a bandeira reformista, o país para e recua. Fim do mercado. Os investidores vão embora. Se entrar um Lula ou o outro, para tudo”, afirmou Perondi. O vice-líder diz acreditar no impedimento da candidatura do ex-presidente pela Lei da Ficha Limpa e torcer por sua prisão.
Questionado sobre fatores que poderiam dificultar o apoio do governo à candidatura tucana, em meio ao movimento do partido de descolamento da atual gestão, o parlamentar preferiu minimizar qualquer atrito: “Quando assumiu Alckmin, os tucanos melhoraram muito. Acho que teremos mais de 35 votos de 46. De repente, com a posição mais firme agora, deve passar de 40 votos. Os tucanos se aprumaram, consertaram um erro estratégico que estavam cometendo”.
Quanto ao PMDB — agora MDB, novo nome que ainda não aparece naturalmente nem mesmo na fala do parlamentar –, a estratégia continua sendo de expansão da bancada nas duas casas do legislativo. O partido já é o com maior número de representantes na Câmara e no Senado, mas quer ampliar a vantagem sobre os demais na disputa.
“O PMDB vai sempre focar em aumentar sua bancada. É óbvio, todo partido quer e é o partido do governo. Eu gostaria que o presidente fosse à reeleição, mas ele nem aceita discutir isso. Portanto, não sei se vamos ter um candidato. É difícil nós criarmos um candidato nesse ponto. Somos um partido poderoso, com uma vasta capilaridade, que decidiu muitas eleições majoritárias. Então, o candidato do meio, que até pode ser nosso (acho pouco provável), terá que ter o PMDB como aliado. E nós só vamos eleger deputado se a economia estiver bem. Esse vai ser meu discurso e da maioria dos deputados. A economia estará bem e o governo vai influenciar nessa campanha”, observou. Perondi se diz hoje candidato à reeleição pela Câmara, mas ofereceu seu nome para disputar um assento no Senado Federal no próximo pleito.
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